Cidade administrativa, sede do governo de Minas Gerais. O auditório Juscelino Kubistchek se vestiu daquela cor vermelha da brava gente indestrutível, que semeou a terra com sangue, suor e luta para, enfim, colher os frutos.
O governador Fernando Pimentel assinou decreto de desapropriação das fazendas Ariadnópolis, em Campo do Meio, Córrego Fundo/Gravatá, em Novo Cruzeiro, e Nova Alegria, em Felisburgo, na última sexta-feira (26). Para tanto, serão gastos cerca de R$ 43 milhões.
A medida beneficia 352 famílias de trabalhadoras e trabalhadores rurais Sem Terra, que viviam há mais de uma década nos acampamentos de Nova Vida, Terra Prometida e um conjunto de outros 11 acampamentos em Campo do Meio.
Além disso, um convênio com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado (Emater-MG) fará o cadastramento de famílias para um programa de regularização fundiária.
“O dia de hoje entra para a história, porque centenas de famílias vão ser assentadas, contribuindo para avançarmos no processo de democratização da terra em Minas”, disse Bruno Diogo, do MST de Campo do Meio.
Do Massacre à conquista
Jorge Rodrigues Pereira veio do Assentamento Terra Prometida, em Felisburgo, onde, há 11 anos, o grileiro Adriano Chafik e 17 pistoleiros assassinaram cinco trabalhadores Sem Terra, feriram outras 13 pessoas, incendiaram 32 casas e devastaram a plantação.
“Enfrentamos muitas dificuldades: fazer o levantamento da área, depois, ocupamos. Veio a perseguição, com ameaças, e muitas famílias desistiram por medo. O pior aconteceu em 2004, com o massacre. Foi difícil superar”, recorda.
A luta continua. Com a terra, têm que vir as condições para produzir e viver dignamente: “Essa Mãe Terra tem que sustentar os seus filhos e filhas pelos próximos cem anos, com matas, águas e toda a biodiversidade. E é preciso ter assistência técnica, apoio à agroindústria comunitária, apoio à logística de transporte, beneficiamento dos alimentos produzidos”, comenta o deputado federal Padre João (PT).
A conquista é do povo mineiro. Ao fundo, Sem Terra radiantes não param de cantar: “Só sai reforma agrária com a aliança camponesa e operária”. Eni Gomes, de Terra Prometida, dá o recado emocionada: “Treze anos na luta, treze anos debaixo da lona. Não é fácil, mas não é impossível. É só assim que a gente conquista alguma coisa. Outros que estão aí, fora das organizações, que se animem também para conquistar direitos, para conquistar um Brasil que é nosso”, convoca.