EDSON RIMONATTO/CUT
Estudo feito por três acadêmicos mostrou que o presidente Jair Bolsonaro (PL) trabalhou, em média, 4,8 horas por dia entre 1º janeiro de 2019 e 6 de fevereiro de 2022.
Nos 40 dias anteriores ao 1º turno, trabalhou cerca de 24 minutos por dia. Agora, depois da derrota para o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a média caiu muito e ele mal aparece no local de trabalho.
Mais de duas semanas após ser derrotado nas eleições, Bolsonaro foi ao Palácio do Planalto, supostamente seu local de trabalho, raríssimas vezes e por poucas horas. A primeira, no dia seguinte ao pleito que elegeu Lula para o terceiro mandato, quando se reuniu com o ministro da Economia, Paulo Guedes (Economia) e outros assessores. A visita demorou menos de uma hora. Depois, Bolsonaro voltou para o Palácio da Alvorada onde está recluso desde o dia 30 de outubro. Saiu algumas outras vezes, também por poucas horas para agendas fechadas com a equipe. Veja abaixo as outras passadas rápidas de Bolsonaro no local de trabalho.
Fora isso, não fez mais nada, nem motociata, nem live, nem passadas no cercadinho para mandar recados desaforados para os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ou para agredir jornalistas. Ele terceirizou o governo, dizem os jornais, lembrando que ainda faltam 45 dias para ele deixar o cargo.
Uma das explicações de pessoas próximas para o período de falta ao trabalho, é que Bolsonaro se recupera de um quadro de infecção bacteriana nas pernas. Com a ferida na perna, disse o vice-presidente Hamilton Mourão, ele não pode vestir calça comprida. Mas vestiu em algumas ocasiões em que deu uma passada no Palácio do Planalto.
O fato é que Bolsonaro segue "inconformado" com o resultado das eleições, segundo caciques do PL ouvidos por Bela Megale, em reportagem no jornal O Globo desta quinta-feira (17). E como não é um trabalhador comum, que tem desconto no salário e pode ser demitido, eles simplesmente falta para ficar amuado em casa.
Um levantamento do Congresso em Foco, com base nas agendas oficiais do presidente da República que foram divulgadas, do dia 1º de outubro - véspera do primeiro turno das eleições - até a quarta-feira (9), mostrou que o Bolsonaro trabalhou somente cerca de 24,25 minutos por dia. Dos 40 dias consultados, o presidente só teve compromissos em 11 deles.
Ao todo, o presidente trabalhou 16 horas e 10 minutos no período, equivalente a duas jornadas de oito horas praticadas pela maioria da população empregada. Nas agendas de Bolsonaro, o compromisso mais longo teve seis horas de duração: sua participação no círio de Nazaré, em Belém (PA), no dia 8 de outubro, visto por muitos como um ato de campanha.
Veja as outras passadas rápidas de Bolsonaro no local de trabalho após o dia 30
Outro levantamento, este feito pelo jornal Folha de S Paulo, mostrou que Bolsonaro foi ao Palácio do Planalto mais algumas vezes, sempre rapidamente.
No dia 1º foi para um encontro com o ministro da CGU, Wagner Rosário, e com senador eleito, Rogério Marinho (PL-RN). Depois, se reuniu Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Anderson Torres (Justiça) e Bruno Bianco (AGU) e no fim da tarde quebrou o silêncio de 45 horas e se pronunciou pela primeira vez após a derrota eleitoral. Não reconheceu a vitória de Lula nos dois minutos e 30 segundos de pronunciamento nem tampouco condenou os atos antidemocráticos de seus seguidores.
No dia 3 de novembro, ele voltou ao local para, rapidamente, cumprimentar o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSD), que estava no Palácio para a primeira reunião da transição com o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira. No mesmo dia, se reuniu por meia hora com Célio Faria Júnior, secretário da Presidência da República.
As outras agendas levantadas pelo jornal foram no dia 7, encontro com o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite, e reunião com Renato de Lima França, subchefe para Assuntos Jurídicos da Presidência.
No dia 9, para reunião com Ciro Nogueira , Célio Faria Júnior e governador Ratinho Jr. (Paraná), Marcelo Queiroga (Saúde) e meia hora de conversa com Renato de Lima França.
No dia 10, outro sacrifício. Colocou calças e foi ao Planalto para se reunir com Victor Godoy Veiga, ministro da Educação; com o secretário da Presidência da República, Célio Faria Júnior, e com o subchefe para Assuntos Jurídicos da Secretaria-Geral da Presidência, Renato de Lima França. No mesmo dia, assinou decreto que revogou 137 atos normativos já sem eficácia ou validade e nomeou André Ramos Tavares para o cargo de juiz substituto no TSE.
No dia 11, mais uma reunião presencial com o ministro da CGU, Wagner Rosário, e com o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, general Luiz Eduardo Ramos; e novamente com Célio Faria Júnior e Renato de Lima França.
No dia 12, nomeou 12 desembargadores para o Tribunal Regional Federal da 4ª Região; os nomeados estavam nas listas tríplices formadas pelo plenário da corte e enviadas à Presidência em junho.
No dia 14, se encontrou com o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e com Paulo Guedes.
No dia 15, novo encontro com Ciro Nogueira, das 9h às 9h30.