FOTO: PAULO FLORES/ARTE; CONTRAF-CUT
A Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgou, nesta quarta-feira (7), uma pesquisa que revela que 71% das empresas no Brasil apontam a alta taxa dos juros no Brasil, a Selic, definida pelo Banco Central (BC), como o principal impeditivo para terem acesso a crédito tanto de curto, como médio e longo prazo. O estudo chamado “Sondagem Especial - Condições de acesso ao crédito”, mostra ainda que as empresas renovaram linhas de crédito em condições piores ou muito piores do que há seis meses, quando foi feita a última pesquisa.
Os números mostram que, para as modalidades de curto e médio prazo, 71% das empresas citaram a taxa de juros, hoje em 13,75% ao ano, como ‘muito elevada’. Outras dificuldades apontadas para a obtenção de crédito são a exigência de garantias reais (25% das empresas citaram este motivo) e falta de linhas de crédito adequadas à necessidade da empresa (16%).
Ao todo foram ouvidos 2.022 empresários entre os dias 1º e 9 de março sobre as condições de crédito em um período de seis meses, entre setembro de 2022 e fevereiro de 2023.
Juros altos impedem o desenvolvimento
Governo, setor produtivo, sociedade civil e, em especial, a CUT e centrais sindicais têm pressionado o Banco Central a rever a taxa. No entanto, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, alinhado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), se mantém intransigente, se recusando a baixar a taxa Selic.
Mesmo com todas as críticas que o BC vem recebendo desses setores, o Comitê de Política Monetária (Copom), alega que “permanecem cenários de risco para a inflação”.
Mas, a para a CUT, ao contrário de ‘risco’, o que ocorre é um boicote do Banco Central às iniciativas governamentais para criar condições para o consumo voltar a crescer e as empresas terem créditos mais baratos para produzirem mais, empregarem mais e fazerem a roda da economia girar.
“A manutenção das mais altas taxas de juros do planeta Terra se constitui em um ato irresponsável e de claro boicote ao esforço governamental e empresarial, mas principalmente às lutas e reivindicações das organizações sindicais. Irresponsabilidade que explicita o erro de conferir autonomia a um Banco Central, cujo presidente é fiel ao governo anterior, que aposta no fracasso do atual governo, e inimigo do povo brasileiro”, diz trecho de nota publicada pela Central após a última reunião do Copom, no dia 3 de maio, que manteve a taxa no patamar elevado.
A próxima reunião do colegiado será realizada em 20 e 21 de junho. A CUT e centrais sindicais, para reforçar a pressão sobre o BC, estarão mobilizadas dialogando com a sociedade sobre os prejuízos provocados pela manutenção da Selic em patamar elevado.
Mas o que eu, trabalhador, tenho a ver com isso?
A taxa de juros é usada no mundo todo para combater a inflação. Mas esse mecanismo só funciona quando a inflação é causada por demanda, ou seja, porque a população está comprando mais do que é produzido e este não é o caso do Brasil, já que o consumo vem caindo porque o povo não tem dinheiro pra gastar e o endividamento das famílias batendo recorde.
É a partir da Selic que os bancos praticam seus próprios índices sobre empréstimos oferecidos a empresas e pessoas físicas, o cartão de crédito rotativo, as prestações da casa própria e de outros financiamentos. Como o crédito está muito caro as empresas também ficam sem condições de contrair empréstimos para expandir seus negócios e gerar empregos.
Como o Banco Central se tornou independente do governo federal, numa decisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com aprovação do Congresso Nacional em 2021, o atual governo não tem ingerência sobre as decisões do BC, apesar das críticas de Lula ao alto índice da taxa de juros. Uma pesquisa da Genial/ Quest apontou que 76% dos entrevistados dizem que o atual presidente acerta em combater os juros altos no Brasil.
Além de já pagarem caro aos bancos, a população perde ainda bilhões de reais anualmente em investimentos sociais porque o governo federal também paga pelos juros altos devidos aos empréstimos que possui com a venda de títulos públicos. Isso acontece porque cerca de 40% da dívida pública é indexada à taxa Selic.
Para se ter uma ideia de investimos sociais que poderiam ser feitos, a redução de apenas 0,5% da taxa de juros faria o governo ter à disposição mais R$ 17 bilhões, o que equivale a um ano de Minha Casa Minha Vida e Farmácia Popular.
Segundo artigo da economista Mônica de Bolle, da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, ao subir a taxa de juros de 2%, no início de 2021, para 13,75%, em agosto de 2022, o Banco Central fez com que a despesa do governo com a dívida pública saltasse de 2% do PIB para 10% do PIB, ou de R$ 135 bilhões para R$ 920 bilhões por ano. A maior parte deste dinheiro (53,6%) vão para instituições financeiras e fundos de investimentos.
De maneira geral os juros altos travam a economia pois sem investimentos, a produção cai e o desemprego sobe.