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USP realiza diplomação póstuma de 15 estudantes vítimas da ditadura

Por Vermelho                                                                                                                                                  

 

Foto: Lucas Martins

Vidas e sonhos foram interrompidos durante a ditadura militar, um trágico capítulo da história brasileira. A USP (Universidade de São Paulo) encontrou uma forma de homenagear os jovens que sonhavam com dias melhores para o país. Na segunda-feira (26), 15 de seus alunos mortos no período receberam diplomação póstuma, entregue aos seus familiares.

A cerimônia de diplomação ocorreu em um dos auditórios da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas), na Cidade Universitária, capital paulista. Ao todo serão 31 documentos entregues pelo projeto Diplomação da Resistência.

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Além dos 15 diplomas dessa segunda, outros dois alunos já haviam sido homenageados com a justa diplomação:  Alexandre Vannucchi Leme e Ronaldo Mouth Queiroz, alunos do Instituto de Geociências (Igc), mortos em 1973.

“A União Nacional dos Estudantes (UNE) vê a reparação realizada pela USP como um passo crucial na busca por justiça e reconhecimento das vítimas da ditadura militar. Para a UNE, essas ações de reparação são fundamentais não apenas para honrar a memória daqueles que lutaram pela democracia e foram brutalmente assassinados, mas também para educar as gerações futuras sobre a importância da resistência e da defesa dos direitos humanos”, disse a presidenta da UNE, Manuella Mirella, que esteve na cerimônia de diplomação.

Mirella falou sobre as emoções envolvidas entre familiares e militantes presentes: “Os sentimentos durante a cerimônia eram marcados por uma mistura de dor e alívio. Dor pela perda irreparável dos entes queridos, mas também alívio e um senso de justiça pelo reconhecimento oficial de suas lutas. A cerimônia foi carregada de emoção, e para muitos familiares, representou um momento de encerramento e de afirmação de que o sacrifício de seus entes queridos não foi em vão”, colocou.

Entre os homenageados estava Tito de Alencar Lima, o Frei Tito. Ele iniciou o curso de ciências sociais em 1969. Foi preso, torturado e exilado. A sua história é retratada no livro, de autoria de Frei Betto, e filme com mesmo nome ‘Batismo de Sangue’. Ele teve a vida marcada pela tortura sofrida pelos agentes da ditadura militar que o levou ao suicídio na França, em 1974.

Também foram homenageadas duas guerrilheiras do Araguaia: Suely Yumiko Kanayama e Helenira Resende de Souza Nazareth.

Kanayama foi estudante de Letras e desapareceu em 1973. Helenira de Souza também cursou Letras da USP e foi vice-presidente da UNE. Ela foi morta e torturada na Guerrilha do Araguaia, em 1972.

Veja aqui todos os nomes dos homenageados.

“Helenira Resende, Suely Kanayama e Frei Tito deixaram um legado de coragem, resistência e dedicação à luta por um Brasil mais justo e democrático. Helenira, como a primeira mulher negra a ocupar um cargo de liderança na UNE, é um símbolo poderoso de luta não apenas contra a ditadura, mas também contra o racismo e o machismo estruturais. Sua vida e seu sacrifício inspiram a continuidade das lutas por igualdade e justiça social”, pontuou Mirella.

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“Suely Kanayama, com sua atuação no Araguaia, e Frei Tito, com sua resistência e martírio, demonstraram que a luta pela liberdade e pelos direitos humanos é uma batalha que deve ser travada independentemente das adversidades. Eles nos lembram da importância de não ceder diante das ameaças à democracia e de continuar vigilantes e atuantes na defesa dos direitos conquistados. Em um momento em que a democracia brasileira enfrenta desafios constantes, o legado desses lutadores serve como uma lembrança poderosa de que a liberdade e os direitos civis devem ser defendidos com firmeza e que a história não deve ser esquecida, para que os erros do passado não se repitam”, completou a presidenta da UNE.

Comissão da Verdade da USP

Os alunos da FFLCH-USP homenageados foram indicados pelo projeto Diplomação da Resistência, que toma como base dados da Comissão da Verdade da USP, que, desde 2013, “busca por informações referentes às graves violações dos direitos humanos de alunos, funcionários e professores da USP, no período de 31 de março de 1964 a 15 de março de 1985”.

Como traz o relatório final da Comissão: “dentre os 434 mortos [revelados pela Comissão Nacional da Verdade], 47 deles tinham relação com a Universidade de São Paulo, ou seja, 10% do total de mortos e desaparecidos em todo o território nacional, número muito alto se for levado em conta que a comunidade da USP não era grande na época. Dentre os 47 casos citados, 39 eram alunos, 6 eram professores e 2 eram funcionários. Entre os alunos que morreram ou desapareceram, 70% deixaram de frequentar a USP, entre 1967 e 1971, um pouco antes do seu desaparecimento”.

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