Como temática central da 3ª Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária, os 20 anos do Massacre de Eldorado dos Carajás, completados no último dia 17 de abril, foi tema de debate nesta terça-feira (19), na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre.
Durante a abertura oficial do evento, a coordenadora do Núcleo de Estudos Agrários da UFRGS, Rosa Medeiros, afirmou que o Massacre de Eldorado dos Carajás, marca na história um momento trágico de luta pela democratização da terra, e fortalece a continuidade da busca dos camponeses por reforma agrária no Brasil.
“O acesso à terra se torna mais difícil a cada ano, embora nossos esforços tenham sido cada vez maiores para que ela seja um direito de todos aqueles que precisam e querem fazer dela o seu principal instrumento de trabalho”, declarou Rosa.
O assentado e dirigente estadual do MST, Valcir Oliveira, disse que a jornada, além de ser um instrumento de reflexão sobre a reforma agrária no país, propicia maior integração e fortalecimento da aliança entre a população do campo e da cidade. Ele lembrou as ações realizadas pelos Sem Terra nos meses de abril destes últimos 20 anos, e falou da importância do apoio social nas lutas por acesso à terra.
“Somente conquistaremos a Reforma Agrária popular se a população agarrar conosco esta bandeira, porque, para além da conquista da terra, precisamos de um conjunto de políticas públicas que seja capaz de manter as famílias no campo e produzindo alimentos saudáveis”, explicou.
O professor César de David, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), levou para a jornada universitária o histórico de lutas de diversos povos pela democratização das terras brasileiras nas últimas décadas. Segundo ele, foram em momentos de profunda crise política, como esta que vivemos no Brasil, que se deram os piores confrontos entre os camponeses e os latifundiários.
“Geralmente são guerras duradouras e sangrentas, que resultaram em inúmeras mortes da população camponesa. De certo modo, isso ainda acontece de forma silenciosa”, denunciou.
O estudante da turma especial de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), Cleiton de Almeira, filho de assentados no Pará, partilhou a história do massacre, que foi executado em 17 de abril de 1966 com ordem do Estado e apoio de empresários e fazendeiros, pela Polícia Militar.
“Foram 21 Sem Terra mortos e quase 70 mutilados. Hoje, todos os responsáveis continuam impunes, inclusive o coronel Mario Pantoja, condenado a mais de 200 anos de prisão, e o major José Maria Pereira Oliveira, condenado a 158 anos de prisão. Mataram nossos companheiros, mas não é por isso que vão parar a nossa luta por Reforma Agrária”, frisou.
Para o professor Nelson Rego, da UFRGS, a impunidade dos responsáveis por comandar o massacre dos Sem Terra está diretamente ligada à correlação de forças políticas do país, assim como à grande mídia e interesses pessoais.
“O massacre não é justificável, porque as pessoas faziam uma marcha pacífica. Laudos mostram que a maioria dos Sem Terra foi morta com tiros à queima roupa”, concluiu.
Exposição fotográfica
O evento, que se encerra nesta quarta-feira (20), também conta com a mostra fotográfica “Reforma Agrária e Memórias dos 20 anos do Massacre de Eldorado de Carajás”, que traz imagens do massacre e da produção de alimentos em assentamentos do MST do Rio Grande do Sul.