O tema meio ambiente deixou de ser assunto das elites ou de especialistas, segundo a ministra dos governos Lula e Dilma, Izabella Teixeira. “Não estamos mais falando de uma política elitista, de cima para baixo, de reis e rainhas visitando parques nacionais”, disse ela, durante Coletivo Nacional de Meio Ambiente da CUT, realizado na semana passada, em São Paulo.
Segundo Izabella, uma das principais razões para isso é a forma como foi elaborado o Código Florestal Brasileiro, aprovado em 2012, e que nos anos seguintes sofreu tentativas de mudanças por parte dos desmatadores e ruralistas.
“O processo foi debatido com a sociedade, com os pequenos produtores rurais, com os movimentos sociais e sindical, com os governos estaduais”, lembrou a ministra. Izabella aponta como diferencial do novo Código a possibilidade de os pequenos e médios produtores terem a oportunidade de reflorestar suas propriedades, com o objetivo de repor áreas obrigatórias de mata original, ao mesmo tempo em que podem continuar a produzir para seu sustento e para comercialização de bens agrícolas.
“Nosso desafio não é só proteger o meio ambiente, mas também o trabalhador que vive daquele meio”, completou.
O Código Florestal Brasileiro estabeleceu a exigência de determinadas áreas de mata nativa, cuja extensão é determinada pelo tamanho das propriedades, mas ao mesmo tempo concedeu tempo para que os agricultores familiares se adaptassem às novas regras.
Como resultado, afirmou a ministra, atualmente o Brasil tem 114 milhões de hectares de unidades de conservação (parques) e 112 milhões de hectares de mata em propriedades de agricultura familiar.
Humanizar a questão
O secretário nacional de Meio Ambiente da CUT, Daniel Gaio, reafirmou a importância de o meio ambiente ter deixado de ser assunto apenas das elites, ecologistas ou programas de TV, e ter ingressado na realidade cotidiana dos trabalhadores e trabalhadoras. Neste momento, o desafio é trazer o tema para a agenda também das categorias urbanas. “Temos de popularizar esse assunto entre nossas bases”, afirmou o dirigente, que é bancário.
Mobilidade, abastecimento de água, recuperação de rios e nascentes, tratamento de lixo, ocupação das cidades como espaços de lazer e convivência são, lembra Gaio, algumas das facetas da questão ambiental no cenário urbano.
“É importante que os rodoviários, por exemplo, debrucem-se sobre este tema e passem a pensá-lo como parte de sua pauta. Os trabalhadores da indústria automobilística, da construção civil”, exemplificou o dirigente.
Gaio também lembrou que o Código Florestal hoje em vigor não atende todas as reivindicações debatidas e apresentadas pela CUT, mas garante que a Central continuará lutando para aperfeiçoá-lo.
Carmem Foro, vice-presidenta da CUT, trabalhadora rural e ex-secretária do Meio Ambiente da CUT, lembrou que os avanços nesse setor se deram em um ambiente democrático, de negociação, cuja interrupção representa riscos.
“O ciclo golpista é desastroso para a classe trabalhadora. E o tema ambiental, numa fase em que o capital quer repor suas margens de lucro, vai para o último lugar da fila”, alertou.
Izabella se mostrou otimista nessa relação entre meio ambiente e retrocesso político. “Temos de construir soluções. E elas não virão dos governos, virão da sociedade”.
Vagner Freitas, presidente da CUT, concentrou sua fala mais na conjuntura política, e sua interpretação não é das mais otimistas: “O capital perdeu a paciência com a democracia. Percebeu que pode montar uma estrutura dentro do Estado – polícia, judiciário – e simplesmente ignorar as questões humanísticas”. Por isso, em sua opinião, a resistência ao golpe é cada vez mais essencial.
Na mesma linha, o secretário-geral Sérgio Nobre lembrou que “governo de direita não prioriza a questão do meio ambiente”. Por isso, segundo ele, é importante a mobilização dos sindicatos nas eleições municipais deste ano, elegendo candidatos e candidatas comprometidas com a agenda da classe trabalhadora, como forma de criar barreiras contra o retrocesso.
O Coletivo Nacional de Meio Ambiente teve participação de secretários e secretárias da pasta das CUTs estaduais e dos ramos de atividade em que a Central atua, com o objetivo de preparar as futuras ações da entidade nessa agenda.