As altas cifras do futebol chinês seduziram muitos jogadores e treinadores brasileiros nos últimos anos. As dificuldades encontradas no país asiático, porém, fizeram vários deles voltarem ao Brasil pouco depois. Aloísio, ex-atacante do São Paulo conhecido como "Boi Bandido", vai na contramão disso tudo.
Na sua terceira temporada na China, ele virou ídolo local e não se incomoda mais com o trânsito maluco, costumes diferentes ou até mesmo a culinária.
"Eu pensei a longo prazo e por isso foi mais fácil. Eu entendo quem fica pouco tempo porque passei pelas mesmas coisas. Não é qualquer um que vai se adaptar aqui. Se o cara pensa em ficar seis meses, pegar dinheiro e voltar ao Brasil, não vai se adaptar", decretou o jogador do Herbei Fortune, ao ESPN.com.br.
"Tinha essa ideia de ficar aqui e fazer uma carreira legal. Agora, estou curtindo demais e tirando de letra todas as dificuldades", prosseguiu, admitindo também que os valores elevados das propostas são o que realmente atraem os estrageiros para a Superliga chinesa.
"Quem falar que não vem para cá por causa de dinheiro estará mentindo", afirma.
Depois de ser artilheiro do São Paulo em 2013 com 22 gols, Aloísio foi contratado pelo Shandong Luneng, no qual marcou 41 gols e deu 11 assistências até agora.
Nos dois anos em que ficou no time, ele foi campeão da Copa da China (2014) e da Supercopa (2015), além de ter sido goleador do Campeonato Chinês na última temporada, com 22 gols.
Após ter problemas com a diretoria por causa da renovação de contrato, o atacante foi neste ano para o Herbei Fortune.
Na entrevista abaixo, Aloisio conta as razões de ser o 'rei' da China:
ESPN - O que te motivou a trocar de clube na China?
Aloísio - Tive uma proposta do Shandong para renovar por três anos e estava tudo certo, mas mas não assinaram. Eles falavam para esperar mais um pouco. Eu tinha operado joelho no fim do ano passado depois de ter sido artilheiro do Chinês, mas eles queriam ver ainda como iria voltar. Mesmo machucado, ajudei o clube e fiquei chateado com a diretoria, que ficava jogando a bola um para o outro. Eu disse que não queria mais jogar pelo clube e pedi para ser negociado. Como estavam me enrolando, senti que o contrato não seria assinado.
ESPN - Teve outras propostas?
Aloísio - Vários clubes me contataram e um deles foi o Herbei, que ligou para os meus procuradores e fez uma proposta muito boa. No primeiro momento pensei em voltar ao Brasil, mas tinha contrato com Shandong e não poderia sair de graça. Isso inviabilizava um negócio.
ESPN - Como você está hoje no Herbei?
Aloísio - Foram dois anos que joguei no Shandong e fiz muitos gols. Aqui no Herbei, como os chineses me conhecem melhor, a adaptação ficou mais fácil. Foi uma escolha muito boa e certa para minha carreira. É um clube novo que subiu e investiu muito, trouxe grandes nomes como Lavezzi, Gervinho, M'Bia e Gael. O técnico é o Manuel Pellegrini, que é muito bom e inteligente. Irei aprender muito com ele.
ESPN - Como é a cidade nova, muito diferente da anterior?
Aloísio - A cidade é pequena para os padrões da China porque tem 600 mil habitantes. A anterior tinha mais de 7 milhões de pessoas. Ela tem praia e fica cheia nas férias, mas quando acaba o verão todos vão embora. Agora não tem trânsito por aqui. Achei uma casa boa e foi bem tranquilo, ao contrário da cidade anterior que foi mais difícil encontrar. Estamos morando bem por aqui.
ESPN - Por que tantos brasileiros acabam não se adaptando e querem voltar logo e no seu caso foi diferente?
Aloísio - Todo começo é bem complicado em qualquer país. Na China é mais difícil porque a cultura deles é muito diferente. Acho que o problema é não querer passar dificuldade para depois ter uma vida boa. É um pensamento a curto prazo. Eu pensei a longo prazo e por isso foi mais fácil. Eu entendo quem fica pouco tempo porque passei pelas mesmas coisas. Não é qualquer um que vai viver e se adaptar aqui. Se o cara pensa em ficar seis meses, pegar dinheiro e voltar ao Brasil não vai se adaptar, porque já está pensando em voltar. Cada um tem um pensamento diferente.
ESPN - Por que você se deu tão bem na China?
Aloísio - Os oito primeiros meses foram muito difíceis, mas tinha essa ideia de ficar aqui e fazer uma carreira legal e construir um futuro melhor. Quem falar que não vem para cá por causa de dinheiro estará mentindo. O meu caso não foi diferente. A proposta era muito boa e não tinha como recusar porque iria mudar a minha vida e da minha família. Agora estou curtindo demais e tirando de letra todas as dificuldades.
ESPN - Tem tradutor para te ajudar na China?
Aloísio - No começo era complicado até para tentar dialogar com os companheiros de time, apesar da linguagem do futebol ser parecida. Tinha que pedir para o tradutor me ajudar até na hora de pedir camisa, calção ou chuteira. A maior dificuldade foi com idioma. Hoje entendo várias coisas da língua, mas só vou aprender a falar se ficar aqui uns 10 anos. Muitas vezes eu acho que estou indo bem e falo em chinês: 'Bom dia, tudo bem?'. Só que ninguém me entende (risos).
ESPN - Você se adaptou bem à culinária local? Comeu algo diferente?
Aloísio - Eu achei que iria sofrer com a comida porque tem coisas muito diferentes como escorpião e bicho da seda. Mas esse tipo de coisa não vende em qualquer esquina ou mercado. Isso é mais coisa para turista estrangeiro. Claro que comi essas iguarias umas quatro vezes (risos). Eu levei os amigos e parentes que queriam experimentar e conhecer essas coisas.
ESPN - Você sofre para comprar comida no mercado?
Aloísio - Aqui é tranquilo, na outra cidade tinha mercado internacional. Tem um site chinês que encontramos tudo. Vou pelo celular, procuro alguma coisa e em dois dias chega em casa. A gente conhece muita gente na China e encontramos até picanha para fazer um churrasquinho. É muito fácil (risos). Tem um mercado muito grande que encontramos de tudo.
ESPN - Quanto tempo ainda pretende ficar na China?
Aloísio - Eu tenho pensamento de voltar ao Brasil no encerramento do meu contrato, no final do ano que vem. Vamos ver como ficará a situação até lá. Eu vou procurar ver com as pessoas que me trouxeram para China. Vamos sentar e organizar essa situação. Ainda tenho mais um ano para definir tudo isso, por enquanto, estou focado em ajudar o Herbei.