Revolta e choro. Foi assim que o verdadeiro Brendon Matheus Araújo Lima dos Santos reagiu ao ficar sabendo que Heltton Matheus Cardoso Rodrigues usou sua identidade para poder jogar a Copa São Paulo pelo Paulista de Jundiaí. O jovem, preso no Rio de Janeiro, soube da história pela boca do pai, Edejofre Lima dos Santos, que concedeu entrevista exclusiva ao ESPN.com.br.
"Ele está revoltado, revoltado com tudo isso que está acontecendo. Meu filho, quando soube disso, ficou maluco, em depressão: ‘Poxa, meu pai, o que é isso? Como ele fez isso? O que está acontecendo?' Foi desespero", contou Edejofre, que conversou com o filho na última terça-feira, dois dias após o ESPN.com.br revelar a adulteração de documentos na Copinha.
"Ele não sabia de nada. Contei que aconteceu isso, isso e isso, ‘seu nome está na televisão, quase que no mundo todo, que você está jogando no Paulista'. ‘- Mas como, pai, se estou preso?', ‘- É que o Heltton usou seu documento para fazer gato'. Ele ficou revoltado, revoltadíssimo", seguiu.
Em um momento de desabafo, segundo o pai, Brendon chegou, inclusive, a dizer: "Manda ele dizer que foi ele que roubou posto. Já que fez isso para ganhar dinheiro às minhas custas, manda ele dizer que foi ele que roubou posto, que vendeu drogas", em referência aos crimes dos quais é acusado no Rio e aguarda julgamento.
A amizade - Brendon e Heltton se tornaram colegas no Rio de Janeiro, fruto da parceria de seus pais, respectivamente, Edejofre e Nilton Lima Rodrigues. "Eles se conheceram pela amizade da gente, mas não tinham muito contato, dificilmente se viam. Não eram amigos para sair para baile, nunca saíram juntos", ressaltou o primeiro.
Embora não fosse tão próximos, segundo Edejofre, os dois ficaram "perto" de jogarem na mesma época no São Gonçalo, em 2014, em episódio que o pai de Brendon suspeita que possa ter sido o início do "gato" - ele emprestou a certidão de nascimento original do filho para Nilton para que ele o inscrevesse no clube carioca, mas o registro nunca aconteceu.
Edejofre afirma que tanto ele, quanto o filho, não ficaram mais sabendo de Heltton depois de 2014, último ano em que ele apareceu utilizando a identidade original como jogador. A partir de 2015, o zagueiro atuou por Santa Cruz/RN, Nacional/SP e Paulista/SP, já sempre como Brendon. O pai diz também ter se afastado de Nilton desde então.
A raiva que sentiu no momento que soube da notícia fez com que Brendon pedisse até para que o pai entrasse na Justiça contra Nilton. "Já estou respondendo por uma coisa que não fiz, agora vem esse negócio dos caras falsificarem minha identidade?", teria dito o jovem, segundo Edejofre, que espera uma explicação do antigo amigo antes de qualquer providência.
O ESPN.com.br também entrou em contato com Nilton antes da publicação desta matéria, tanto por telefone, quanto por mensagens, mas o pai de Heltton preferiu não dar sua versão para o caso.
Emoção - Nem só de raiva, contudo, foi a reação de Brendon ao ouvir que tinha seu nome envolvido em um caso de adulteração de documentos. Edejofre diz que o filho, preso desde junho de 2016, chorou e afirmou "não ser bandido". Segundo ele, sua esposa e mãe do jovem também está desesperada com o novo problema.
Apesar de tudo, o pai do verdadeiro Brendon evita criticar Heltton. "Isso não vem da cabeça de Heltton, deve ter gente por trás disso. Heltton é um menino bom, direito, não sei como foi entrar numa furada dessas."