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 Há 30 anos, Milan contratava Guillit

Mar 21, 2017

Por ESPN                                      

O PSV queria 20 milhões de florins holandeses. O Milan pretendia pagar 10 milhões. Mas foi só após a oferta final de 17 milhões que os dirigentes apertaram as mãos para fechar o negócio. Há 30 anos essa quantia era equivalente a 10 milhões de dólares, uma fortuna, e selou o destino do meia Ruud Gullit, "jovem de 24 anos de pele escura e longos cabelos", como descreveu surpreso o jornal "La Stampa" nos dias seguintes.

Gullit já era uma lenda na Holanda. Defendeu o modesto Haarlem, com passagem até pela segunda divisão, e dois dos três gigantes do país: o Feyenoord e o PSV.

As tratativas entre PSV e Milan foram concluídas após quatro horas de reunião, em um sábado, 21 de março de 1987, na Holanda, mas o interesse e as próprias negociações começaram bem antes de seu famoso desfecho. Os milanistas se apaixonaram por Gullit oito meses antes, em Barcelona, na Espanha, quando a história começou.

Foi na Catalunha que Silvio Berlusconi, então proprietário do Milan, viu de perto Gullit em ação. Na ocasião, tanto Milan quanto PSV foram convidados pelo Barcelona para jogar o Troféu Joan Gamper de 1986, que ainda teve a participação do inglês Tottenham.

O time italiano e o holandês não chegaram a se enfrentar, mas, como jogaram no mesmo campo e no mesmo dia, foi o suficiente para Berlusconi comentar com o então técnico Nils Liedholm suas impressões sobre aquele "jovem cabeludo".

A conversa foi relembrada pelo dono do Milan ao "La Stampa". "Ele se encaixaria bem em nosso plano de jogo, não?", teria dito o dirigente ao treinador sueco.


Para conseguir a contratação de Gullit, Berlusconi não precisou apenas convencer os holandeses. Havia uma ameaça até maior: o advogado Gianni Agnelli, milionário dono da Fiat e da Juventus, equipe que seria campeã italiana em 1986/87.

Concorrer com a Juventus nunca foi fácil, mas em 1987 era ainda pior para o Milan, que estava recomeçando. O time rubro-negro havia sido campeão nacional pela última vez em 1979. Foi rebaixado na temporada seguinte por envolvimento em um escândalo de manipulação de resultados. Subiu como campeão em 1981, mas voltou a cair.

Praticamente falida, a equipe milanista foi salva de um destino complicado pelo empresário Silvio Berlusconi. Dono de um canal de comunicação, ele assumiu o controle do Milan em 20 de fevereiro de 1986. Ao chegar, disse que as glórias voltariam.

A temporada 1986/87, a primeira do Milan de Berlusconi, ainda estava acontecendo quando o dirigente decidiu trazer Gullit. O interesse da Juventus já sabido. A equipe de Turim queria um substituto para o francês Michel Platini, que iria se aposentar.

Berlusconi sabia que a Juventus tinha uma vantagem. Agnelli era muito próximo do empresário holandês Frits Philips, cuja empresa era dona do PSV. Além disso, a equipe de Turim tinha muito mais recursos financeiros para investir do que o Milan.

Mas o dono da equipe rubro-negra se antecipou. Passou a tratar da negociação em outubro de 1986 ao lado de seu CEO, Adriano Galliani.

A imprensa na época noticiou uma viagem "clandestina" de Gullit para Milão, onde ele se encontrou com os dirigentes rubro-negros. Durante o encontro, ouviu que encabeçaria uma nova era ao lado de seu compatriota, o atacante Marco Van Basten, que também estava na mira do Milan. Além disso, foi alertado que, na Juventus, teria de substituir Platini e que enfrentaria uma torcida sentida com a saída de um ídolo e um clube que faria questão de ver um protagonista já nos primeiros jogos. Ou seja, não haveria paciência.

A visita a Milão foi negada por Gullit, segundo versão registrada na época. Mas a história que ficou é que o meia holandês gostou do que ouviu e, por isso, aceitou. A proposta era para ganhar 20 mil doláres por mês, por três temporadas.

O passo seguinte foi convencer os dirigentes do PSV. Por isso, as quatro horas de reunião. A vantagem? Berlusconi sabia que a Juventus havia oferecido cerca de 8 milhões de dólares. E se esforçou para subir a oferta até chegar aos 10 milhões de dólares.

Até o fim da vida, quando era lembrado por alguém dessa história, Gianni Agneli dizia que havia sido "passado" para trás por Berlusconi, lamentando o drible dado pelo rival.

A torcida do Milan adorou a contratação de Gullit, mas ela não chegou a animar nem a agradar os ingleses Ray Wilkins, então com 30 anos, e Mark Hateley com 25.

"Eu gostaria de continuar no Milan por uma ou duas temporadas", disse o meia Wilkins, ao jornal "La Stampa", na edição de 22 de março de 1987. "[O que acha da vinda de Gullit?] Por favor, não me faça comentar isso, é melhor não falar nada".

Na época, a liga italiana permitia apenas dois estrangeiros por equipe. Com a vinda de Gullit e Van Basten para a temporada 1987/88, os dois ingleses tiveram de sair.

O técnico Liedholm teve de administrar a situação de dois jogadores que sabiam que não ficariam ao final da temporada de 1986/86, mas nem ele teve sorte. Foi demitido ao final do Italiano, que o Milan terminou com um modesto quinto lugar, sem empolgar.


Ainda na temporada 1987, Gullit foi eleito o melhor do jogador da Europa e ganhou a Bola de Ouro, entregue pela revista "France Football", ou seja, não é preciso dizer que o Milan acertou na contratação. Mas o holandês foi bem além.

Ao longo de duas passagens - a primeira entre 1987 a 1993 e a segunda em 1994 -, Gullit ganhou três Italianos, uma Copa da Itália, três Supercopas Italianas, duas Uefa Champions League, dois Mundiais Interclubes e duas Supercopas da Uefa.

Fez parte daquela que é consideração a melhor geração do Milan e da fase mais vitoriosa desde que Berlusconi tornou-se proprietário do clube rubro-negro.

Foram 171 jogos e 56 gols oficiais, um ídolo eterno do Milan.

 

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