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Chelsea quer fazer de Neymar um novo Jordan

Mar 30, 2017

Por ESPN                                                                    

 


Os bastidores de uma das negociações mais controversas da história do futebol prometem ser revelados em um livro que será publicado no dia 10 de abril na Europa. A obra Football's Secret Trade: How the Player Transfer Market was Infiltrated, escrita por Alex Duff e Tariq Panja, mostra mais detalhes ainda desconhecidos de como o Barcelona conseguiu vencer a corrida por Neymar, deixando principalmente Chelsea e Real Madrid para trás.


Os autores publicaram parte do livro no jornal The Guardian nesta quinta-feira. E já deram mostras do que Chelsea e Real estavam dispostos a fazer para conseguir a contratação.

A história contada começa ainda em 2006. Já com a carreira sendo gerenciada pelo empresário Wagner Ribeiro, Neymar foi levado à Espanha para conhecer o Real Madrid - que havia comprado Robinho, empresariado pelo mesmo Wagner Ribeiro, um ano antes.

Desesperado, o Santos resolveu agir. Chamou o empresário Marcos Motta para avisar o Real das consequências que poderia enfrentar se fechasse a contratação. "Dissemos: ele é menor de idade, prestem atenção. Ligamos para a Fifa, ligamos para a CBF, ligamos para todo mundo", conta o advogado. O Real disse que era apenas uma visita, e Neymar assinou seu primeiro contrato pouco depois.

A visita e o medo de perder o futuro astro, porém, fizeram com que o Santos aceitasse ceder 40% dos direitos econômicos de Neymar ao seu pai. E logo negociou esse direitos com o grupo Sonda, transformando os 40% em R$ 5 milhões nas mãos do jogador e de seu pai - que ainda ganhariam um adicional de R$ 1,5 milhão pela negociação.


Em campo, Neymar começou a fazer sua parte. Estreou, jogou bem e marcou gols. Acabou tendo mais 5% dos direitos econômicos negociados.

Enquanto isso, as viagens do pai de Neymar e dos investidores do grupo Sonda começaram a ficar frequentes. O primeiro encontro teria sido com Roman Abramovich, dono do Chelsea, em Londres.

A reunião mais séria aconteceu em agosto de 2010, logo depois da estreia de Neymar pela seleção brasileira, em amistoso contra os Estados Unidos. "No dia seguinte tivemos um encontro em Nova York", conta o advogado Marcos Motta.

Estiveram na reunião Wagner Ribeiro, o pai de Neymar, Pini Zahavi (negociador israelense do Chelsea), uma delegação do clube inglês e o presidente recém-eleito do Santos, Luis Álvaro Ribeiro. O mandatário santista nem quis saber de muita conversa e logo rejeitou a oferta de 35 milhões de euros. Na volta ao Brasil, armou o enorme plano de carreira que faria com que Neymar ficasse na Vila Belmiro até a Copa do Mundo de 2014.


O planejamento era claro: fazer com que todos os patrocinadores pudessem lucrar o máximo possível enquanto o astro estivesse por aqui e levar Neymar para a Europa logo depois da Copa, que seria disputada no Brasil.

De olho no dinheiro que o jogador já conseguia movimentar, o Real Madrid foi com tudo para contratá-lo. O clube merengue tem uma política de beliscar 50% dos patrocínios que cada jogador seu assina. Em 2011, o diretor da equipe, José Ángel Sanchez, se encontrou com o advogado do grupo Sonda, Eduardo Carlezzo. Uma proposta de R$ 45 milhões foi rejeitada mais umas vez.

O presidente Florentino Pérez não desistiu e tentou a contratação diretamente com o Santos. Ligou para Luis Álvaro e ofereceu um almoço em Madri. "Imagino que você quer conversar comigo para falar sobre Neymar. Não perca seu tempo e nem combustível de seu avião porque não temos interesse em vendê-lo", respondeu o presidente santista. Florentino pegou o avião e voou ele mesmo até Paris, onde o cartola brasileiro passava férias. Conseguiu a conversa, mas ouviu outro ‘não'.

O Chelsea, então, voltou à disputa e mandou Michael Emenalo, diretor de futebol, ao Brasil com uma conversa ensaiadíssima. "Foi a primeira vez que vi o pai de Neymar ouvindo alguém por mais de 30 minutos sem olhar par ao celular", recorda Motta.

A história era simples: o Chelsea queria que Neymar fosse o seu Michael Jordan. Contou como o Chicago Bulls não era um time tão importante antes do astro e mostrou no que a equipe se transformou por conta dele. Com José Mourinho de volta ao comando e Neymar no ataque, o mesmo aconteceria no Chelsea. "Você vai levar o clube ao topo", disse.

Foi nesse momento que o pai de Neymar teria decidido vender a prioridade de compra do seu filho: 10 milhões de euros adiantado e mais 30 milhões de euros quando o jogador fosse de fato comprado, um acordo secreto sem envolvimento e nem conhecimento do Santos ou do grupo Sonda. E com uma multa de 40 milhões de euros para quem violasse o acordo.

O Barcelona, porém, apareceu com algo que nenhum clube tinha: o carinho do próprio Neymar. Sem precisar de muitas histórias para convencê-lo, assinou o tal pré-contrato em 15 de novembro de 2011. O Santos não ficou sabendo, e o clube catalão até publicou o gasto de 10 milhões em sua prestação de contas, mas o justificou apenas como pagamento para uma futura contratação, sem entrar em detalhes e nem colocar o nome de Neymar.

O Real ainda tentou mais uma vez entrar na disputa e até se dispôs a pagar a multa de 40 milhões ao Barcelona, com direito a uma proposta salarial ainda melhor. O Barcelona, porém, bateu o pé. Lembrou o jogador de que ele perderia metade do dinheiro dos patrocinadores se vestisse a camisa merengue e ainda o encheu de mimos salarias. Depois, fechou um acordo de apenas 17 milhões de euros com o Santos e ficou com o atleta.
O curioso é notar também como a contratação virou caso de Justiça. Tudo por conta de Jordi Cases, um farmacêutico que estava irritado com a decisão do então presidente do Barça, Sandro Rosell, de fechar o primeiro patrocínio da história do clube. Por isso, passou a pegar no pé do cartola. Tentou anular o acordo, mas não conseguiu. Partiu, então, para cima das contas e descobriu os 10 milhões que o clube havia pago a Neymar em 2011.

Pediu explicações e foi ignorado. Decidiu, então, entrar na Justiça. O Barça até entrou em contato para tentar explicar as consequências que o clube teria caso revelasse detalhes do acordo, mas não o convenceu. O processo, então, tomou proporções enormes quando a investigação começou. Cases até tentou voltar atrás e retirá-lo da Justiça, mas não dava mais tempo. As partes ainda brigam por conta dele nos tribunais.

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