Bicampeão turco, Marcelo é um dos pilares da defesa do Besiktas. O zagueiro foi herói do penúltimo título nacional ao marcar dois gols na vitória por 3 a 1 sobre o Ankaraspor, que decretou o fim de um jejum de seis temporadas sem taças do time de Istambul. Além disso, o defensor participou das últimas edições da Uefa Champions League e da Liga Europa.
Antes de ver sua carreira deslanchar, porém, o jogador de 29 anos trilhou um longo caminho até fazer sucesso no futebol europeu. Natural de São Vicente-SP, ele defendia equipes de várzea da região ao mesmo tempo em que ajudava em casa.
"Jogava em um time chamado Tambaú desde os sete anos. Ia desde garoto com meu pai, que defendia o time principal. Eu também cheguei a vender picolé na rua por um bom tempo, foi algo interessante que aconteceu comigo. Gostava muito de brincar no meu bairro também, mas aprendi a ter responsabilidade desde cedo", disse Marcelo, ao ESPN.com.br.
Aos 15 anos, o defensor, que atuava pelo São Vicente, tentou a sorte no Coritiba, mas acabou reprovado. Quando retornou ao litoral paulista veio a chance de fazer um teste no Santos, clube no qual ele jogava futsal.
"Eu fui aprovado e já fui campeão paulista juvenil no meu primeiro ano. Peguei a geração depois de Robinho e Diego. Joguei com Felipe [hoje goleiro do Atlético-GO], Júnior Moraes [ex-atacante do Dynamo Kiev-UCR], Renatinho, Carlinhos [hoje lateral do Internacional] e o Adriano [hoje volante do CRB]", recordou.
Após jogar a Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2007, Marcelo foi integrado aos profissionais pelo técnico Vanderlei Luxemburgo. A estreia pelo time de cima foi em uma verdadeira pedreira pela primeira fase da Copa Libertadores da América.
O Santos vencia o Gimnasia y Esgrima, na Argentina, por 2 a 1. O defensor entrou aos 17 minutos do segundo tempo e ajudou a equipe brasileira a segurar o resultado. No jogo seguinte pelo Campeonato Paulista, contra o Marília fora de casa, ele jogou muito bem pelos 90 minutos e quase marcou um gol.
Logo no ano de estreia, ele foi campeão estadual após uma final dramática contra o São Caetano, vencida no final com um gol de Júnior Moraes. No Campeonato Brasileiro daquele ano, o zagueiro ainda ajudou a empatar um clássico contra o Corinthians por 1 a 1 na Vila Belmiro.
"Foi marcante ter feito esse gol de cabeça porque estávamos perdendo. Não esqueço que veio uma falta cobrada pelo Rodrigo Tabata pelo lado esquerdo do ataque. Dentro da área, eu estava de costas e acertei a bola de cabeça. Ela encobriu o goleiro Felipe e entrou", descreveu.
Outra partida que não sai da cabeça do defensor foi o triunfo por 1 a 0 contra o América do México pela Libertadores de 2008. "Nós precisávamos vencer por dois gols na Vila Belmiro. Eu marquei muito bem o [atacante paraguaio] Cabañas, que estava voando. Pena que não passamos", lamentou.
- Polônia e Holanda
No meio do ano, Marcelo resolveu ir se aventurar na Polônia, onde defendeu o Wisla Kraków.
"Vi junto com meu agente que meu futebol e estilo de jogo iriam casar bem na Europa porque sou alto e forte. Aquele momento foi a oportunidade que eu tinha e aceitei", explicou.
O começo no Velho Continente não foi nada fácil. O jovem enfrentou diversos problemas com alimentação e o idioma.
"Estava acostumado a comer arroz com feijão todo dia. Eu não falava inglês nem polonês e tive dificuldades com isso. Depois que aprendi os costumes e a falar inglês me adaptei. Tudo ficou bem", garantiu.
"Foi uma das épocas mais legais que passei em toda minha vida pessoal e profissional. Acabou sendo uma escolha boa porque depois passei pela Holanda, uma das melhores escolas do futebol e a Bundesliga. Acredito que olhando para trás foi a decisão correta", analisou.
Com um título da Liga Polonesa em duas temporadas, o brasileiro foi para o PSV Eidhoven, da Holanda.
"A equipe tinha vários jogadores que hoje se destacam: Wijnaldum [Liverpool], Mertens [Napoli], Strootman [Roma], entre outros. Vencemos o Heracles na final da Copa da Holanda e fomos campeões. Infelizmente não ganhamos a Eredivise porque ficamos todos os anos em segundo", lamentou.
Em 2013, ele se transferiu ao Hannover-ALE para jogar um dos campeonatos mais difíceis do mundo.
"Aprendi muito como jogador porque enfrentei alguns dos melhores jogadores da Europa. Ganhei experiência grande na Bundelisga que é uma das maiores ligas. A cultura alemã me fez crescer muito e aprendi a falar o idioma", contou.
- Título na Turquia
Marcelo usou todos os conhecimentos adquiridos assim que chegou ao Besiktas, no começo do ano passado. Apesar de enfrentar problemas com a comida, dentro de campo ele rapidamente se adaptou.
Com o gol salvador na conquista do Turco depois de tantos anos, o brasileiro entrou no coração dos fanáticos torcedores da equipe de Istambul. Na atual temporada, ele jogou todas as partidas da fase de grupos da Uefa Champions League contra Napoli, Benfica e Dynamo Kiev.
"É uma competição muito especial e o sonho de todos os jogadores. Sentir essa sensação de estar em campo foi incrível", relatou.
Apesar de ter ficado na terceira posição e não ter passado de fase, o defensor guarda boas lembranças do empate por 3 a 3 contra o Benfica. "Estávamos perdendo em casa por 3 a 0 e conseguimos uma retomada incrível. Foi especial demais para mim", disse.
O Besiktas ainda chegou até as quartas de final da Liga Europa, sendo eliminado pelo Lyon nos pênaltis.
Com o sucesso na Turquia, ele espera chamar atenção do técnico Tite para seu futebol. "Eu sonho com a seleção brasileira. Nosso time está fazendo uma ótima temporada com jogadores como Talisca e Adriano. Estamos nos destacando e quem sabe no futuro próximo isso aconteça", finalizou.