Após uma investigação preliminar, a Fifa acusou o Chelsea de violar regras nas contratações de 25 jogadores estrangeiros menores de idade. O número de casos ainda pode crescer, agora que a situação está sob supervisão do comitê disciplinar, o qual tem o poder de impor sanções contra o clube inglês – entre elas proibir transferências durante um determinado período.
Em setembro do ano passado, o órgão que controla o futebol mundial havia anunciado que monitorava o recrutamento de jovens jogadores por parte do time londrino. Assim, o Chelsea se tornou o primeiro clube inglês a encarar este tipo de ação.
Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid já estiveram nesta posição e acabaram por sofrer uma punição da Fifa, ficando proibidos de contratarem jogadores por duas janelas de transferências. O Real, no entanto, conseguiu apelar contra a decisão e cumpriu apenas metade da pena.
As primeiras investigações sobre o Chelsea foram lideradas pela unidade de compliance do Sistema de Transferências entre clubes da Fifa (TMS). Acredita-se que o primeiro alerta veio da contratação de Bertrand Traoré, atacante de Burkina Faso.
Hoje no Lyon, o jogador assinou um contrato profissional com o Chelsea em janeiro de 2014, logo que abriu a janela de transferências, quando ele já havia completado 18 anos de idade.
Porém, surgiram algumas fotos que mostram Traoré atuando pelos Blues em um amistoso contra o Arsenal em 23 de outubro de 2011, quando o atacante tinha apenas 16 anos. Cinco anos depois, em janeiro de 2016, a Fifa tomou conhecimento destas imagens.
De acordo com a entidade máxima do futebol mundial, os clubes são proibidos de contratar jogadores estrangeiros menores de 18 anos, a menos que os familiares do atleta tenham migrado para o país por razões não ligadas ao futebol, ou que o jogador e o clube estejam a 50 km de uma fronteira nacional.
Nos termos do artigo 19 da Fifa, a outra exceção é para transferências com jogadores entre 16 e 18 anos de idade dentro da União Europeia ou do Espaço Econômico Europeu. A preocupação da entidade é, que Traoré não se classifique em nenhum destes três casos.
O sistema de transferências da Fifa identificou o total de 25 casos nos quais entendem que o Chelsea pode ter violado estas leis. As suspeitas da organização foram repassadas ao comitê disciplinar, que agora investiga as instalações do clube a procura de provas. O órgão pode vir a investigar transferências realizadas nos últimos dez anos pelos Blues.
A Fifa entende que há diversos graus de gravidade ao infringir a lei de contratar jogadores menores de idade, tendo como mais séria a quebra do Artigo 19. Por trás deste, existem casos menos sérios, como alguns ligados a solicitações de autorizações por meio de canais incorretos.
Dentro de seu código, a entidade máxima do futebol mundial entende que – independentemente do número de casos – o fato de burlar as regras de contratação de menores de idade deve ser punido com um embargo de transferências – como aconteceu com Barcelona, Real Madrid e Atlético de Madrid.
A quantidade de situações pode sim influenciar na extensão da pena recebida pelo clube, mas, a Fifa entende que, mesmo um número pequeno de violações, não pode isentar os times de terem suas contratações interrompidas. A organização ainda se preocupa que a suspensão por apenas uma janela não seja o suficiente para o clube se conscientizar. Para isso, o caso deve ser tratado de forma planejada.
O comitê solicitou explicações por parte do Chelsea e entrou em contato com a Football Association (FA). A exigência é que a entidade que regula o futebol inglês forneça detalhes do registro e das partidas disputadas pelos 25 jogadores que levantaram suspeita.
As investigações do comitê disciplinar ainda estão em fase inicial, mas acredita-se que elas se desenvolvam rapidamente nos próximos meses. Quando estiver completa, as evidências serão apresentadas a um júri independente dentro da organização, o qual encontrará um veredito para o caso.
Se for considerado culpado, o Chelsea provavelmente entrara com um recurso junto à Corte Arbitral do Esporte para apelar contra a pena. Em defesa dos Blues, um porta-voz do clube afirmou: “O Chelsea cumpre todos os estatutos e regulamentos da Fifa ao recrutar e contratar jogadores”.
O Chelsea também argumentou que o clube tinha um acordo de opção de compra, registrado e aprovado pela FA e Premier League, para garantir o registro da Traoré depois que ele completou 18 anos, permitindo que o jogador atuasse naquele determinado amistoso contra o Arsenal.
Em 2010, quando o Chelsea optou por contratar Gael Kakuta, o clube já havia entrado em um acordo com Lens, então clube do jogador, que foi ratificado pela Corte Arbitral do Esporte, para evitar um embargo de duas janelas de transferências.
A Fifa diz que não comenta as investigações em curso nem pode confirmar se uma investigação está em andamento.
OUTROS CASOS QUE RENDERAM PUNIÇÕES
A investigação de Barcelona foi desencadeada por um artigo de jornal sobre a assinatura do clube com Lee Seung-woo - "Messi sul-coreano" - 13 anos. Um funcionário da Fifa entendeu que o acordo poderia estar violando os regulamentos.
Posteriormente, o TMS descobriria 31 casos de potenciais transgressões e o painel independente entenderia o Barcelona como culpado em todos eles. Os apelos do clube falharam e, os catalães foram banidos de duas janelas em 2015. Lee está agora em Verona na Serie A.
O caso do Real começou no TMS da Fifa em outubro de 2013 e, em janeiro de 2016, os merengues foram declarados culpados de violar as regras de registro de 39 menores de idade. O clube foi investigado em 70.
Os madridistas recorreram à Corte Arbitral do Esporte, que defendeu 37 dos veredictos de culpa, mas reduziu a proibição para uma janela - janeiro de 2017 - porque as infrações eram consideradas menos graves que as do Barcelona.
Os números do Atlético foram os mais surpreendentes na Espanha, em parte por uma parceria com o grupo Dalian Wanda, a empresa imobiliária chinesa. Os colchoneros viram muitos jogadores chineses chegarem a treinar em sua academia.
A Fifa considerou 183 casos em julgamento final, com 153 sendo confirmados posteriormente. O Atlético serviu sua proibição em ambas as janelas do ano passado.