Não esperava viver para assistir ao futebol brasileiro chegar à dramática
situação atual. Traço marcante da nossa cultura, o futebol, outrora motivo
de orgulho e afirmação nacional, sucumbe diante da aliança deletéria
entre a Rede Globo de Televisão e uma cartolagem que é o retrato em
preto e branco da elite brasileira, a mais mesquinha do planeta, como
dizia o grande Darci Ribeiro.

Há décadas a Globo é a senhora toda poderosa do futebol. Como paga
para ter exclusividade nas transmissões das partidas de praticamente
todas as competições importantes, ela mantém os clubes como reféns de
seus interesses comerciais. É a Globo que impõe jogos às 10h da noite e
usa sua força para manter no poder nos clubes, federações e na CBF os
dirigentes responsáveis pela ruína do futebol brasileiro.

O negócio bilionário do futebol sempre fez com que a Globo bajulasse
todos os presidentes da Confederação Brasileira de Futebol e da antiga
CBD, seus sócios nas armações em torno dos contratos de direitos de
transmissão e de marketing. Mas quando a casa cai, como caiu para
Marin, J. Hawilla e outros mandachuvas da Fifa, a emissora dos Matinho
faz ar blasé e finge que não é com ela.

Nem o maior vexame da história do futebol brasileiro, os 7 x 1 para a
Alemanha, foi capaz de sensibilizar essa gente para a necessidade de se
repensar tudo, de se fazer uma revolução no nosso futebol, de mudar
radicalmente seus métodos de gestão, de ir às raízes nas transformações
necessárias na formação dos jogadores. Os empresários seguem dando as
cartas nas divisões de base sem que a Globo tenha produzido até hoje
uma única matéria contendo críticas a esse modelo.

Nem mesmo a Medida Provisória do governo federal, que prevê a
moralização do futebol brasileiro, contou com o apoio da Globo. Ao
contrário, seu silêncio indica que ela esteve ao lado da grande maioria dos
clubes na tentativa de sabotar a MP. Mesmo assim, o texto foi aprovado
em primeira votação na Câmara dos Deputados, com avanços inegáveis,
especialmente no que toca à responsabilização esportiva, civil e criminal
de dirigentes, mas mantendo intacto o poder das federações e da CBF.

Diante de tudo isso, o que se vê dentro do campo é mais do que
previsível. Parece piada de mau gosto ou provocação, mas a única
resposta dos cartolas da CBF à trágica participação do Brasil na Copa do
Mundo de 2014 foi a contratação de Dunga. Esperar o que de um time
dirigido por um treinador de repertório limitadíssimo dentro do campo e
sem o menor preparo intelectual para suportar, fora de campo, as
pressões inerentes ao cargo ?

Na Copa América, da qual foi eliminada mais uma vez precocemente, a
seleção brasileira apresentou um futebol que reflete o festival de horrores
visto nos jogos entre clubes realizados no Brasil. Esse panorama desolador
é marcado por chutões pra frente e quase uma centena de passes errados
e faltas por jogo. Uma indigência técnica de dar dó.

Vai sumindo na poeira o jeito artístico, plástico e criativo de se jogar
futebol no Brasil, que encantou o mundo inteiro. E, pelo andar da
carruagem, não será surpresa se o Brasil, pela primeira vez na história, não
se classificar para a próxima Copa do Mundo, na Rússia. Que tristeza !