Carlos Arthur Nuzman, presidente do COB, durante evento no Rio de Janeiro
Uma troca de correspondências apreendidas pela Receita Federal as quais a ESPN teve acesso mostra que em 2010 o Comitê Olímpico Brasileiro perdoou dívida de quase R$ 1 milhão de empresa cujo administrador é o presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman. A empresa é a prestadora de serviços da entidade Olympo Marketing e Licenciamento.
Criada em 2004 para intermediar os contratos de patrocínio dos Jogos Pan-Americanos, em 2007, a empresa administrada por Nuzman tem como sócios a Confederação Brasileira de Remo, a Confederação Brasileira de Esgrima e o próprio COB. A Olympo tem como diretor geral Leonardo Gryner, que também é diretor do COB e hoje ocupa o posto de diretor geral de operações dos Jogos Olímpicos de 2016.
É o próprio diretor quem pede a Nuzman o perdão da dívida, conforme texto abaixo.
Leonardo Gryner, diretor do COB, pede perdão de dívida a Nuzman
Dois dias depois, o perdão é concedido, sem mais explicações. O texto é assinado por André Richer, vice de Nuzman.
Vice-presidente do COB perdoa a dívida da Olympo Marketing e Licenciamento
Especialistas consultados pela reportagem explicam que a transação não pode ser encarada como natural, uma vez que o COB é uma entidade sem fins lucrativos, cujas receitas são constituídas, na sua maioria, por verba de origem pública. E embora a Olympo tenha como sócios o próprio COB, que pedoou a dívida, a empresa é composta por uma sociedade simples, de caráter privado, com possibilidade de distribuição de lucros entre os associados.
O documento exibido acima faz parte de um conjunto de informações coletadas por técnicos da Receita na sede do COB, no Rio. A fiscalização ainda está aberta e compreende os últimos cinco anos de operação do Comitê.
Fiscalização no Pan
Após o Pan, o Tribunal de Contas do Município do Rio identificou, entre outras questões, um aumento não explicado de gastos relativos às transmissões dos jogos de R$ 33 milhões para R$ 95 milhões, verba administrada pela Olympo.
"Outro ponto que merece destaque é a inflação observada no valor das despesas com mídia e transmissão. Sem que tenha ficado muito claro as razões para estimativas tão discordantes", dizia um dos relatórios do TCU.
De acordo com o COB, a Olympo é uma empresa sem fins lucrativos e o valor pago pelo COB foi para pagamento de despesas operacionais. O Comitê nega que tenha usado verba pública nesta transação.
"A Olympo Marketing e Licenciamento foi constituída em 2004 como uma sociedade privada sem fins lucrativos tendo como sócios o Comitê Olímpico do Brasil e as Confederações Brasileiras Olímpicas de Esgrima e Remo. O contrato social determinava que os resultados fossem integralmente reaplicados em suas próprias atividades, sem qualquer distribuição entre os seus sócios, todos pessoas jurídicas. O presidente do COB, Carlos Arthur Nuzman, portanto, nunca foi sócio da Olympo".
"O valor de R$ 939.658,51 refere-se à soma de despesas operacionais da Olympo que foram pagas diretamente pelo COB, com recursos privados, ao longo de quatro anos, até 2008, quando a agência deixou de ser operacional. Não houve repasse de recursos do COB para a Olympo."