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A criação da Superliga —iluminada por 12 dos clubes mais importantes da Europa incluindo Real Madrid, Barcelona e Atlético—, iniciativa disruptiva de competição fora da UEFA, representa uma ameaça multidimensional que afeta os alicerces das estruturas tradicionais das ligas nacionais e da distribuição da receita gerada pela indústria do futebol. O enfraquecimento da UEFA como organizadora e distribuidora da riqueza gerada pelas competições europeias será notável e aponta para o prenúncio de uma dura batalha legal contra a qual os clubes rebeldes já buscam proteção. Como apurou o EL PAÍS, tanto a UEFA como a FIFA receberam cartas dos membros da Superliga nas quais alertam que já apresentaram ações judiciais cautelares, diante das medidas que estas organizações podem tomar para impedir que a nova liga saia adiante. As equipes da nova competição pretendem continuar disputando campeonatos nacionais e competições europeias até que o novo projeto se consolide. A temporada 2022-23 é considerada a meta para o início da competição inovadora.
A distribuição desse dinheiro, caso sejam 15 os clubes fundadores (os 12 iniciais mais três convidados), seria assim: 350 milhões de euros para seis clubes, 225 para quatro, 112,5 para dois e 100 para três clubes, divididos de acordo com um sistema interno não sujeito à classificação de cada ano. As receitas da televisão estão estimadas em cerca de 4 bilhões de euros, dos quais 264 milhões iriam para a devolução do patrocinadores durante 23 anos. Ou seja, o grande bolo econômico ultrapassaria os 7 bilhões de euros por temporada. Está também prevista a criação de um fundo de solidariedade para ligas, federações e clubes, que ultrapassaria o da UEFA, mas seria controlado pelos próprios membros da Superliga. Essas diferenças são capazes de quebrar o sistema pelo qual historicamente os presidentes da UEFA e da FIFA alimentavam suas eleições e seus mandatos. Não só o atual ecossistema financeiro do futebol está em xeque, mas também o de sua representação.
A criação da Superliga e o enriquecimento dos clubes rebeldes reduziriam significativamente as competições domésticas. As perdas da LaLiga com a redução dos direitos audiovisuais, patrocínios, ingressos e assinaturas é estimada em cerca de 1,8 bilhão de euros. Devido ao caráter quase fechado da Superliga, os 12 clubes fundadores (seis ingleses, três espanhóis e três italianos), além de outros três que poderiam se somar a eles, não seriam rebaixados. Haveria apenas cinco vagas gratuitas por ano, o que prejudica as demais ligas.
Um dos maiores obstáculos que a Superliga deve encontrar é a rejeição que gera na torcida. As ligas nacionais não servirão mais para dar aos clubes mais modestos a chance de enfrentar os grandes nas competições europeias. Isso vai contra um dos alicerces que tornaram o futebol grande ao longo de sua história: a possibilidade do pequeno vencer o grande. Manifestações de fãs do futebol estão planejadas por toda a Europa. Os do Liverpool já abriram fogo, e espera-se que mais torcedores de times da Superliga se somem aos protestos.
O ajuste do calendário também será complexo. Ligas e federações nacionais pretendem usar isso para torpedear o projeto. A Superliga está projetada para começar em meados de agosto e ser disputada durante a semana, exceto na final. O novo projeto da Copa do Mundo de Clubes organizado pela FIFA, com 24 participantes e 2023 como possível data de início, também ficaria relegado a segundo plano. Até agora, o calendário internacional é administrado pela FIFA em coordenação com suas seis confederações. O órgão presidido pelo suíço Gianni Infantino terá que fazer uma renda de bilro quase impossível se as equipes nas ligas nacionais e nos jogos das seleções não forem reduzidas.