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Porque o futebol do Canadá vive momento único em sua história

Mar 28, 2022

Por André Donke, no ESPN                                                                                                  

 

John Herdman tinha pouco menos de 11 anos de idade quando a Argentina despachou a sua Inglaterra nas quartas de final da Copa do Mundo de 1986, com Diego Armando Maradona fazendo dois dos gols mais icônicos da história do futebol.

Possivelmente ele não tinha noção naquela época do quanto o futebol representaria em seu futuro e do quanto sua vida teria ligação com aquele Mundial, mas por conta de outra seleção.

Em 1986, o Canadá disputava sua primeira e única edição da Copa...até este domingo, quando goleou a Jamaica por 4 a 0 e carimbou o passaporte ao Catar. Após 32 anos, Herdman seria o responsável por colocar a seleção novamente em um Mundial, um feito que representa muito mais do que uma classificação em si. O país vive um momento histórico em seu futebol, e muito por conta do treinador.

Herdman treinou a seleção canadense feminina entre 2011 e 2018 e conquistou as duas primeiras medalhas olímpicas da história da seleção (bronze em Londres e no Rio de Janeiro), encaminhando um trabalho que seria de ouro em Tóquio sob o comando de Bev Priestman.

Quando assumiu a seleção masculina no começo de 2018, o inglês pegou um Canadá no 94º lugar do ranking da Fifa e com desempenhos discretos no cenário local, sendo que não chegava à fase final das eliminatórias desde o qualificatório para a Copa do Mundo de 1998.

Em fevereiro, a seleção estabeleceu seu recorde ao alcançar a 33ª colocação da lista da Fifa. Tal feio foi acompanhado de uma semifinal de Copa Ouro em 2021, o que não ocorria desde 2007, além da campanha memorável nas eliminatórias da Copa, passando invicto diante das tradicionais equipes dos Estados Unidos e México.

Na visão de Adam Jenkins, comentarista da emissora canadense OneSoccer, a situação é diferente quando falamos das equipes feminina e masculina. Ainda que ambas estejam vivendo um período muito próspero simultaneamente, a qualidade do time das mulheres já está consolidada há bastante tempo. Não à toa, depois de ter ficado de fora da Copa do Mundo inaugural em 1991, a seleção esteve nas sete seguintes, conseguindo inclusive um quarto lugar em 2003.

"Eu não acho que seja qualquer segredo que a seleção feminina sempre foi um modelo para os nossos programas nacionais. Uma enorme fundação foi lançada por membros do passado, que nem sempre necessariamente teve os resultados que garantiam sua qualidade", afirmou o especialista ao blog (leia a entrevista na íntegra ao fim do texto).

Com Herdman, o exemplo do futebol feminino foi implementado no masculino. "Ele introduziu a cultura e a mentalidade competitiva que levou o sucesso das mulheres nos Jogos Olímpicos".

Não existe o momento certo para comemorar conquistas no futebol, mas é possível dizer que esse período glorioso do futebol canadense se deu em um contexto muito propício. Afinal, o país sediará o Mundial masculino ao lado de Estados Unidos e México em 2026, o que fará com que a cultura de Copa seja vivida de forma bastante intensa para um país que oferece bons motivos para acreditar que talvez não ficará mais 32 anos longe do Mundial.

Os resultados da seleção masculina são acompanhados por uma geração muito promissora, com talentos consolidados em um altíssimo nível, como são os casos de Alphonso Davies e Jonathan David no Bayern de Munique e Lille, respectivamente. Além disso, o país tem uma liga nacional nova (a quarta edição da Canadian Premier League começará em abril), além de contar com Vancouver Whitecaps, Montreal e Toronto FC disputando a MLS – o último, inclusive, foi campeão em 2017 e vice em 2019.

"O futebol sempre foi uma parte da vida esportiva do canadense. Estou certo de que há alguma análise estatística para sustentar isso, mas há muitos jovens atletas que têm seu primeiro sabor de esporte coletivo no futebol por volta dos 3, 4 anos de idade. No passado, minha opinião é de que não houve muitas opções profissionais diretamente visíveis a estes jogadores, eles eventualmente mudariam para outros esportes onde acreditavam que haveria mais caminho para se tornar profissional", afirmou Jenkins.

"Isso mudou um pouco com a Major League Soccer e seus três clubes canadenses, mas como comentarista principal da Canadian Premier League e tendo a chance de interagir com seus oito clubes e torcedores quase que diariamente, eu não acho que houve uma liga/um momento que tenha afetado tanta mudança para o bem quanto a CPL. Agora muitos mercados têm um clube local para apoiar e ver que eles podem realmente aspirar a jogar. Isso só melhorará à medida que mais clubes forem adicionados, e a equipe profissional feminina há muito tempo esperada e, eventualmente, a liga, também forem adicionadas."

O crescimento e as maiores possibilidades do futebol local podem ser potencializados por um país conhecido por sua miscigenação e troca cultural devido a grande influência da imigração. Davies, grande nome da seleção, nasceu de pais liberianos em um campo de refugiados em Gana; Jonathan David nasceu nos Estados Unidos e tem origem haitiana; Stepehen Eustáquio, outro nome fundamental na classificação à Copa, tem origem portuguesa, assim como o zagueiro Steven Vitória; já o goleiro Milan Borjan nasceu na antiga Iugoslávia. Estes são apenas alguns de tantos casos.

“Alphonso Davies é um dos exemplos mais expressivos, mas longe de ser o único, de canadenses que imigraram para aqui e foram crescidos, desenvolvidos e moldados por este país. Eles têm orgulho de sua herança, mas tem orgulho também de ser canadense e vestir a ‘Maple Leaf’ internacionalmente.”

Aliás, o futuro indica que não faltarão grandes oportunidades para os canadenses competirem em um alto nível internacional, uma realidade que há pouco tempo era bem diferente.

“O Canadá é a própria mostra do que é um trabalho bem feito, um processo de trabalho”, afirmou o técnico da Costa Rica, Luis Fernando Suárez, antes do confronto com o Canadá nesta semana. O treinador lembrou que em outubro de 2012 ele estava à de Honduras e conseguiu uma vitória por 8 a 1 sobre os canadenses.

Naquela equipe derrotada houve uma testemunha ocular do processo pelo qual passaria a seleção: Atiba Hutchinson. Hoje capitão da equipe, o volante de 39 anos viu as eliminatórias serem ainda mais especiais por um motivo individual, ao ultrapassar Julian de Guzman (89 jogos) como atleta que mais vezes defendeu a seleção masculina na história – atualmente ele tem 94 confrontos.

Este, aliás, não foi o único recorde quebrado na campanha. Autor de um dos gols sobre a Jamaica neste domingo, Cyle Larin chegou a 24 gols e ampliou ainda mais sua vantagem como maior artilheiro da história da equipe masculina, feito que alcançou ao superar Dwayne De Rosario (22) recentemente.

Por falar em recordes, Christine Sinclair tornou-se no começo de 2020 a maior artilheira de seleções (feminina ou masculina) ao superar Abby Wambach – atualmente, a campeã olímpica tem 188 gols.

No fim, os recordes individuais acabam por ser o complemento de algo muito maior que o futebol canadense está vivendo. Se a seleção feminina conseguiu os resultados que tanto faltavam para coroar o seu trabalho, a equipe masculina se vê diante da década mais empolgante de sua história. E John Herdman pode se sentir parte influente de ambas as história

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