Abra o dicionário de sueco, procure a letra Z e vá rapidamente ao fim da página. Você vai achar o termo "zlatanera". A definição literal é “Ser Zlatan”. No sentido figurado, significa “dominar”. Originalmente, a expressão foi cunhada por um programa humorístico francês, mas acabou aceita pelo Conselho da Língua Sueca (Swedish Language Council) em 2012.
Depois, o Correios da Suécia arrumou sua maneira de reconhecer Zlatan ao lançar o "zlamp", um trocadilho com o “stamp”, o termo em inglês para “selo”. A imagem relembra o lance antológico contra a Inglaterra, em uma bicicleta “ridícula” de fora da área, que lhe valeu o Prêmio Puskas de gol mais bonito de 2013. A pré-venda teve 5 milhões de pedidos.
Em outubro do ano passado, Zlatan ganhou um “Disco de Ouro”. Sim, daqueles dados aos artistas da indústria fonográfica. Sua própria versão de "Du Gamla" (o hino nacional sueco) tinha sido transmitida 3 milhões de vezes no país. "Rumores dizem que é o hino nacional com mais streamings da história", postou o craque no Instagram.
Para ter uma verdadeira noção do impacto e da influência de Zlatan, você tem que pensar localmente. O que o torna especial e, sem dúvida, o coloca em outro patamar diante de outros integrantes da Liga de Futebolistas Extraordinários, é que ele mudou a forma como uma nação inteira pensa sobre si mesma. A motivação de Zlatan para impregnar sua própria rotação no hino nacional não era completamente egoísta. Além de o hino ser "chato", ele sentiu que a versão original não o representava, muito menos a modernidade da Suécia. "Não tinha significado para mim", disse ele ao jornal “Dagens Industri”. A interpretação de Zlatan, ao contrário, "é como a Suécia se parece" hoje.
"Não falo sueco perfeitamente, mas é assim que as coisas são. Misturas em todos os lugares. Somos todos diferentes, mas todos iguais. Meu pai é da Bósnia e é muçulmano. Minha mãe é croata e católica. Mas nasci na Suécia e sou um cidadão sueco. Você não pode mudar isso."
Quando Zlatan era um garoto, ele sentiu como se viesse "de Marte". Não se encaixava em nada. Tinha a língua presa e não conseguia pronunciar a letra "s". Rosengard, o distrito sueco onde cresceu, estava cheio de "somalis, turcos, iugoslavos, poloneses - todos os tipos de imigrantes - e suecos". Em casa, "não havia um estilo sueco de conversa civilizada”. Zlatan foi assistir ao seu primeiro filme sueco quando tinha 20 anos. "Não tinha a menor ideia sobre quaisquer heróis suecos ou ídolos esportivos, como Ingemar Stenmark [ex-esquiador e um dos “mitos” do esporte sueco], nem ninguém."
Enquanto a maioria dos garotos de sua idade queria se tornar Thomas Ravelli, Martin Dahlin ou Thomas Brolin, ele estava em outro lugar. "Pensava em dribles e truques dos brasileiros" e “fazia download de todos os tipos de fintas que Ronaldo e Romário estavam fazendo”. Ele era diferente. O “outsider”, o estranho, o intruso. Os pais das crianças "loiras e bem-comportadas" na Academia de Malmo organizaram uma petição para impedi-lo de jogar pelo time. "Eles não queriam que todos os petulantes garotos de cabelos escuros jogassem, aqueles que faziam jogadas brasileiras o tempo todo."
Como as coisas mudaram…