O partido espanhol Podemos divulgou nesta quinta-feira (01/09) uma nota em que repudia o impeachment de Dilma Rousseff e pede que o governo espanhol não reconheça o novo governo brasileiro, que classifica como “ilegítimo”.
“Temos claro que existe uma máxima que deixa pouco espaço para a interpretação: na democracia, os mandatos são vencidos e alterados nas urnas”, afirma o Podemos, destacando que cerca de 60% dos senadores que decidiram o destino da agora ex-presidente, “eleita democrática e legitimamente há apenas dois anos por mais de 54 milhões de brasileiros e brasileiras”, está sob investigação por acusações de corrupção.
“A engenharia legislativa e os atalhos parlamentares se impuseram sobre a vontade democrática do povo brasileiro e é responsabilidade da comunidade internacional não reconhecer um governo que preferiu chegar ao poder por esta via ilegítima em lugar de esperar uma nova celebração eleitoral”, segue a nota, lembrando que Temer “sacrificou” três de seus ministros por denúncias de corrupção.
“É imprescindível que se respeite a vontade do povo brasileiro ou que se modifique esse mandato pela única via democraticamente aceitável: vencer nas urnas”, diz o Podemos.
“Exortamos o governo da Espanha a não reconhecer o governo brasileiro que se conforma de maneira ilegítima em consequência à destituição da Presidenta Dilma”, continua o partido, que reitera a solicitação enviada em maio à alta representante da União Europeia para a Política Externa, Federica Mogherini, que exclua o Brasil das negociações do bloco com o Mercosul.
“Não podemos permitir que as tentativas de restauração conservadora na América Latina, que buscam pôr fim a um longo período de redução de desigualdades, inclusão cidadã dos setores mais marginalizados e avanços à integração regional e à soberania ponham em xeque a democracia em nosso continente irmão”, finaliza o Podemos.
Eurodeputados pedem que UE não reconheça Temer
Os eurodeputados do Podemos Xabier Benito e Miguel Urbán pediram nesta quinta-feira (01/09) à UE que não reconheça a legitimidade do "governo golpista" que substituirá a presidente brasileira Dilma Rousseff e que suspenda as relações políticas e econômicas com o país.
Urbán, membro da Comissão de Relações Exteriores do parlamento Europeu (PE), e Benito, primeiro vice-presidente da Delegação para as Relações com Mercosul, denunciaram em comunicado o "golpe parlamentar" do qual, na sua opinião, foram alvo Dilma e os cidadãos brasileiros.
"Nem desde o governo do Estado espanhol, nem desde o parlamento e a Comissão Europeia (CE) se deve legitimar o novo governo", declarou Urbán, que pediu a "cessação imediata de qualquer relação comercial ou política até que seja restabelecida a legalidade e vontade das urnas".
Benito solicitou, além disso, que "nas negociações para o acordo comercial entre a UE e Mercosul não inclua governos que não contenham o respaldo dos cidadãos".
O Mercosul é integrado pela Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai e a eles se incorporou posteriormente a Venezuela, que ainda não participa da negociação do acordo de associação com a UE, enquanto a Bolívia está em processo de adesão.
"Não podemos permitir que as elites utilizem estes golpes de Estado 'brandos' para aplacar os cidadãos e passar por cima da vontade democrática", disse Urbán.
Os dois eurodeputados pediram em uma pergunta parlamentar dirigida à alta representante da UE para a Política Externa, Federica Mogherini, uma avaliação do processo e um plano de medidas a respeito.
Além disso, lembraram à Comissão Europeia a existência de um relatório do Senado brasileiro que "desculpava Dilma das acusações por manobras fiscais".