Nem cinco dias haviam se passado desde a rejeição dos colombianos ao acordo de paz entre o Governo e as Farc no plebiscito de 2 de outubro quando o país, envolto em incerteza, amanheceu com a notícia de que seu presidente, Juan Manuel Santos, ganhara o Nobel da Paz. Ponto de inflexão para o processo de paz e de apoio ao governante, como lembrou neste sábado após receber o prêmio em Oslo (Noruega): “Num momento em que nosso barco parecia ir à deriva, o prêmio foi o vento de popa que nos impulsionou para chegar a nosso destino: o porto da paz!”
Na capital norueguesa, a mesma cidade na qual pouco mais de quatro anos antes tinham sido iniciadas as negociações entre o Governo e os guerrilheiros das Farc, Santos voltou a constatar o apoio da comunidade internacional ao processo de paz na Colômbia. O respaldo externo contrasta, no entanto, com o desgaste em meio ao qual o país transita em direção à paz. Nos dois meses transcorridos entre a concessão do prêmio e sua entrega, o Executivo e as Farc conseguiram um novo acordo. Só que o novo também não agradou os partidários do “não”, tornou mais agudo o rompimento entre as elites políticas e aumentou o mal-estar dos colombianos em relação ao processo. Além disso, nesse intervalo surgiram outras notícias que ofuscaram a entrega do prêmio: o país viu o aumento dos assassinatos de líderes sociais; a implementação do acordo era de fato tão difícil quanto se previa; um avião com a equipe do Chapecoense caía e deixava 71 mortos, e uma menina de indígena de sete anos era raptada, estuprada e morta por um arquiteto de 38 anos, crime que prevaleceu sobre todas as outras notícias da última semana.