A China deve ser classificada como uma "potência em construção". Com capacidade de dissuação nuclear e uma leitura precisa da globalização, o país se constituiu nas últimas décadas como uma peça fundamental da política internacional. No entanto, o protagonismo mundial só virá com a capacidade de influenciar a produção cultural e internacionalizar seus valores ao redor do mundo.
Esta análise, de Marcos Cordeiro Pires, livre-docente em Política Internacional e professor da Faculdade de Filosofia e Ciências da Unesp, foi um dos temas tratados na Aula Pública Opera Mundi Qual o Futuro Econômico da China.
Embora ainda não seja reconhecida por parte da comunidade internacional, explica Pires, com 1,4 bilhões de habitantes, qualquer país é uma potência global. Portanto, compreender os mecanismos que levaram os chineses ao posto de segunda economia mundial nos ajuda a prever o futuro próximo da humanidade.
"Com uma oferta industrial muito grande, com investimento massivo nas empresas nacionais, que conseguem colocar astronautas e ter satélites em órbitra na Lua, além da construção de uma estação espacial, a China é um país que está criando capacidades para se transformar numa potência mundial. A grande questão é como essas capacidades – demográfica, militar e econômica – se convertem em influência cultural. Como os valores chineses podem ser internacionalizados? Como construir um soft power capaz de lidar com toda a capacidade produtiva, militar e econômica? Portanto, para assumir o protagonismo global, a China terá que internacionalizar valores culturais e econômicos, influenciando os outros países", explica Marcos Pires.
Na opinião do especialista, um dos marcos estratégicos da China nas últimas décadas foi compreender os processos de globalização, "ingressando em cadeias produtivas internacionais em patamares de baixa intensidade tecnológica, melhorando a qualidade da oferta".
"Com a leitura correta sobre a globalização, a China conseguiu taxas de crescimento econômico em torno de 10% entre 1978 e 2012. De 1978 até 2008, a china tem um modelo baseado em exportações, o que implica com o comércio exterior. Com a profunda crise de 2008, a liderança chinesa se organizou para continuar crescendo. E a decisão foi de impulsionar o crescimento da infra-estrutura, que vemos atualmente, com investimentos em obras de construção civil, com pontes de até 50 km até o mar", explica Marcos.