Os cartazes da campanha estão espalhados por toda Paris, e uma petição online já reuniu mais de 40 mil assinaturas. Barack Obama pode ter deixado o cargo nos Estados Unidos, mas encontra apoio entre um eleitorado descontente na França.
"Esta operação visa fazer as pessoas pensarem sobre o que está acontecendo nesta eleição", diz um dos ativistas que trabalha na iniciativa Obama2017.fr. "Para fazê-los rir e sonhar um pouco – como se pudessem ter Obama como presidente."
A ideia de lançar o ex-presidente americano para as eleições presidenciais da França surgiu em uma conversa de bar entre quatro parisienses de cerca de 30 anos. O grupo não quer ser identificado, mas um de seus membros concordou em falar com DW.
"Nós não lançamos esta campanha para nos promover", afirma o ativista, que descreve seu grupo como apolítico. "Estávamos apenas falando sobre a eleição e sobre nossos medos do que poderia acontecer na França, como no caso de grupos extremistas vencerem."
Descontentamento
E essa campanha acerta na veia do descontentamento dos eleitores durante uma temporada eleitoral marcada por uma forte rejeição aos favoritos. Dois dos principais nomes, a líder de extrema direita Marine Le Pen e o ex-primeiro-ministro conservador Francois Fillon, estão lutando contra alegações de apropriação indevida de fundos públicos.
Outro, o ex-ministro da Economia Emmanuel Macron, de 38 anos, surfando em seu status de jovem e de personalidade pouco associada à política tradicional, é tido por alguns críticos como um candidato peso-leve.
Uma pesquisa de dezembro do instituto Ipsos revelou que um quarto dos eleitores cogita votar em branco no primeiro turno da votação, em abril. "Todo mundo está muito preocupado e insatisfeito com os concorrentes", diz a analista Nicole Bacharan. "Nós os vemos sempre, e eles continuam voltando."
Esses sentimentos ecoam no site Obama2017.fr, que pede uma mudança radical na política, capaz de inaugurar uma sexta república. Os eleitores franceses, segundo a campanha, devem oferecer "uma lição de democracia para o planeta, ao votarem em um presidente estrangeiro". "Barack Obama", acrescenta, "tem o melhor currículo do mundo para o trabalho."
"Por que devemos sempre ter as mesmas velhas pessoas?", questiona o ativista, rejeitando um status quo em que muitos políticos franceses se formam na mesma lista de escolas de elite e se mantêm para sempre. Embora admitindo que o ex-presidente dos EUA também tem credenciais de elite, como cursos na Universidade de Columbia University e na Escola de Direito de Harvard, ele acrescenta: "Obama representa algo que admiramos na França, alguém que pode unir as pessoas."
Hora de mudar?
Perto da Place de Clichy, no norte de Paris, algumas pessoas fazem uma pausa para ver os vários cartazes de campanha de Barack Obama, estampados com a tradução francesa do seu emblemático lema: "Oui, on peut" (sim, nós podemos). "Eu gostaria de um pouco de mudança", diz o aposentado Michel Ducoudre. "Nos países anglo-saxões, quando um candidato perde, não concorre de novo. Aqui, eles concorrem três ou quatro vezes."
"Este ano, as eleições são simplesmente um absurdo", diz Noellie Benison, de 55 anos. "Se Obama concorrer, eu voto nele."
A Europa saudou a eleição de Obama, há uma década, com a euforia, um sentimento que se dissipou quando sua presidência de dois mandatos passou a se concentrar mais nas questões domésticas e da região Ásia-Pacífico do que nas europeias.
Mesmo assim, uma pesquisa do Pew Research Center de junho passado revelou que a maioria dos cidadãos em cinco países da União Europeia está confiante de que ele faria a coisa certa em assuntos mundiais. Isso inclui 86% dos alemães e 84% dos franceses.
Em contraste, muitos europeus receberam a vitória do atual presidente, Donald Trump, com consternação. Mesmo assim, uma pesquisa recente mostrou que muitos apoiariam o tipo de proibição para imigração de países com população de maioria muçulmana que ele tenta impor nos EUA.
"Eu acho que não há praticamente nenhum país onde Barack Obama seja tão popular como na França", afirma Bacharan, especialista em política americana. "Apesar de sua popularidade ter diminuído um pouco no final, ele ainda continua sendo essa figura heroica: elegante, carismática, inteligente, jovem, conectada."
Obstáculos
As dificuldades para colocar Obama nas eleições presidenciais francesas são muitas. Primeiro, é necessário coletar um milhão de assinaturas até 15 de março para colocá-lo na votação. Ele também deve ser um cidadão francês – embora um advogado entusiasmado esteja dando conselhos à equipe de Obama2017.fr sobre como isso poderia acontecer de forma acelerada.
O financiamento da campanha é outra dor de cabeça. O grupo parisiense reuniu seus centavos para pagar os cartazes de Obama na capital. Um lançamento nacional da campanha estava fora de questão. "Foi uma brincadeira cara", admitiu o ativista, com um sorriso.
Ainda assim, existem algumas belas vantagens. Hambúrgueres e batatas fritas, pratos favoritos de Obama, são amplamente disponíveis em Paris. Assim como quadras de basquete – embora seja difícil prever se o Palácio do Eliseu poderia considerar a construção de uma em seu terreno.
No entanto, em um país abalado por recentes protestos contra a alegada discriminação policial e onde ressoam mensagens contra imigrantes vindas da extrema direita, alguns se perguntam se a França estaria pronta para um presidente negro.
"Infelizmente, tenho certeza de que a França não está pronta para um presidente negro", reconhece Bacharan. "Mas os franceses estariam prontos para Barack Obama. No mundo todo, ele perdeu a cor, ele acabou se tornando simplesmente um presidente americano."