O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, ameaçou nesta segunda-feira (13/03) impor sanções contra a Holanda e levar a crise diplomática entre os dois países à Corte Europeia de Direitos Humanos, depois de ministros turcos serem proibidos pelo governo holandês de realizar comícios em Roterdã e Haia.
Na última semana, autoridades holandesas proibiram o chanceler turco, Mevlut Cavusoglu, e a ministra da Família, Fatma Betul Sayan Kaya, de realizar comícios junto à população turca no país em prol da aprovação em um referendo da ampliação dos poderes do presidente da Turquia.
O referendo turco será realizado no dia 16 de abril e ministros do governo Erdogan têm visitado vários países europeus para buscar apoio para a aprovação da medida – cerca de 400 mil pessoas turcas vivem na Holanda, enquanto na Alemanha são 1,5 milhão de eleitores turcos. Na Alemanha, na Suécia e na Áustria algumas cidades proibiram os comícios, citando riscos de segurança e ordem pública e temendo criar tensão entre turcos e curdos que vivem nestes países.
A Holanda também citou tais razões, assim como devido ao que Haia considera um recrudescimento do autoritarismo na Turquia, especialmente após a tentativa frustrada de golpe militar no país em julho do ano passado. O governo holandês revogou a autorização para o pouso do avião de Cavusoglu e Sayan Kaya chegou a ser escoltada pela polícia até a fronteira da Holanda com a Alemanha.
Desde então, a crise entre Turquia e Europa tem escalado, com Erdogan classificando as autoridades holandesas de “remanescentes do nazismo” e acusando Angela Merkel, chanceler da Alemanha, de “apoiar terroristas” após a líder alemã manifestar seu apoio a Haia.
Em entrevista a uma emissora de TV turca, Erdogan disse nesta segunda-feira que irá impor “quaisquer sanções diplomáticas que tivermos” e “responsabilizar rapidamente a Holanda” por proibir os ministros turcos de atuar no país.
“Eles [a Holanda] usam a lei internacional quando lhes apetece, eles inventam desculpas para isso. Também iremos à Corte Europeia de Direitos Humanos. Nossos amigos estão cuidando das preparações necessárias no momento”, disse o presidente turco.
A Turquia também convocou o enviado holandês em Ancara para esclarecimentos sobre a proibição e a ação da polícia neste sábado (11/03) contra manifestantes turcos diante do consulado do país em Roterdã, que foram reprimidos com jatos d’água e agredidos com cassetetes, segundo a agência de notícias Reuters.
Holanda adverte que 'não haverá negociações sob ameaças' da Turquia
O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, advertiu nesta segunda-feira (13/03) às autoridades turcas que não "haverá negociações sob ameaças" para resolver a crise diplomática e lembrou a Ancara que os turcos dos Países Baixos são "cidadãos holandeses".
"Até que as ameaças do governo turco não cheguem ao fim não haverá negociações para resolver este conflito", acrescentou Rutte em entrevista coletiva prévia a um debate eleitoral.
Quanto às acusações de utilizar esta crise com Ancara para ganhar apoios nas eleições que acontecem na quarta-feira (14/03) na Holanda, o primeiro-ministro só afirmou que não acredita que a "Turquia queira interferir" no pleito holandês
Rutte disse estar "muito feliz" com o apoio "muito positivo" da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, no conflito diplomático com a Turquia.
Merkel disse que a Holanda tem seu "apoio e solidariedade" e criticou as comparações dos holandeses com os nazistas, que rotulou de "totalmente inapropriadas".