O CHP (Partido Republicano do Povo), principal agremiação de oposição na Turquia, anunciou nesta segunda-feira (17/04) que vai pedir a anulação do referendo constitucional do domingo (16/04), no qual 51,4% dos eleitores disseram "sim" à reforma constitucional que introduz um sistema presidencialista e é visto como um caminho para aumentar o poder do atual presidente, Recep Tayyip Erdogan.
Segundo o vice-presidente do CHP, Bulent Tezcan, a validade do resultado está pendente pelas "várias" irregularidades ocorridas na votação". "Só há uma decisão [possível] que poria fim aos debates sobre a legitimidade" do resultado, que é "o cancelamento do referendo pela Suprema Junta Eleitoral", disse Tezcan, em coletiva de imprensa na sede de seu partido em Ancara.
A oposição tinha prometido no domingo tentar impugnar ao menos 2,5 milhões de votos que consideram suspeitos. Isso poderia mudar o resultado, no qual o "sim" ganhou com uma diferença de 1,25 milhão de votos. O “sim” perdeu nas grandes cidades do país – Istambul, Izmir e a capital Ancara –, na região curda e nas áreas mediterrâneas, mas liderou no interior.
O presidente da Suprema Junta Eleitoral, Sadi Güven, rejeitou a hipótese de que estes votos, que não possuem um selo da mesa eleitoral, sejam falsos. Tezcan reiterou, no entanto, a acusação a essa corte eleitoral de não cumprir com o que estabelece explicitamente a legislação ao aceitar esses votos. Pouco antes do início do referendo, a Justiça do país liberou essas cédulas.
Ainda segundo Tezcan, em "muitos lugares", especialmente nas regiões do leste e sudeste do país, onde se concentra a população curda e os colégios eleitorais fecharam mais cedo, houve votação sem a presença de observadores ou representantes da oposição.
"Este referendo de 2017 passará para a história como o que teve os votos apurados de forma secreta", disse, prometendo que seu partido levará o caso perante o Tribunal Constitucional se a Suprema Junta Eleitoral não agir.
Com o referendo, Erdogan obteve uma grande vitória, já que a reforma acaba com a figura do primeiro-ministro e diminui a atuação do Parlamento. Com o resultado, abre-se o caminho para que ele governe até 2029 ou 2034.
Para Erdogan, a reforma é fundamental para manter a estabilidade e o crescimento econômico da Turquia. A oposição argumenta que é o fim da democracia no país.