O ex-governador do estado de Bihar, Ram Nath Kovind, um membro da marginalizada comunidade dalit, também conhecida como "intocável", foi eleito na última quinta-feira (20/07) como novo presidente da Índia, para substituir Pranab Mukherjee no cargo.
O novo presidente, o 14º desde que a Índia se tornou independente do Império Britânico em 1947 e o segundo a pertencer à comunidade "intocável" depois de Kocheril Raman Narayanan (1997-2002), obteve 65% dos votos frente a sua oponente, a também dalit Meira Kumar, informou o porta-voz do processo eleitoral, Anoop Mishra.
O porta-voz divulgou a apuração dos votos emitidos pelos membros da Lok Sabha (câmara baixa), da Rajya Sabha (câmara alta) e das assembleias regionais, em um processo para o qual estavam convocados 4.896 representantes parlamentares.
Ainda que a vitória de Kovind, candidato do governo, não tenha surpreendido ninguém, uma vez que o primeiro-ministro Narendra Modi e seus aliados contam com uma ampla representação nos parlamentos nacionais e regionais, sua candidatura causou estranheza por se tratar de um relativo desconhecido no panorama politico indiano.
Kovind começará a exercer a presidência na próxima terça (25/07), um cargo protocolar e sem funções executivas de acordo com a Constituição indiana, que deixa nas mãos do premiê o comando do governo do país.
'Intocável'
Nascido em 1945 no seio de uma família humilde de agricultores no estado de Uttar Pradesh (norte), Kovind deixou para trás um destino marcado por sua condição de "intocável", comunidade marcada e condenada muitas vezes a trabalhos rejeitados pelas castas superiores, e se formou em Direito.
"A Constituição nos deu dois direitos (o direito à educação e o direito a votar). Os dalits sofrem em toda a nação porquê não puderam apreciar a importância dos dois", afirmou Kovind durante seu primeiro ato público após a confirmação de sua vitória.
Como advogado, mesma profissão do líder dos "intocáveis" e pai da Constituição indiana, B.R. Ambedkar, Kovind foi defensor do Estado na Corte Superior de Delhi e no Supremo Tribunal durante 16 anos, até 1993.
Dois anos antes, Kovind se alistou no BJP, partido que conta pela primeira vez com um dos seus membros no posto de presidente, um cargo que, ainda que protocolar, possui um alto conteúdo simbólico. Já como membro do BJP, Kovind chegou em 1994 ao posto de senador durante duas legislaturas consecutivas, período durante o qual presidiu também o órgão dalit do partido (1998-2002), para atuar posteriormente como porta-voz nacional da legenda.
De temperamento suave e reticente à confrontação, dentro da comunidade dalit é recriminado por seu pouco ativismo pela causa do grupo, que representa 16% dos 1,25 bilhão de habitantes do país.
Kovind é foi apoiado pelo chefe do governo regional de Bihar, Nitish Kumar, que lhe garantiu seu apoio à presidência apesar da inimizade do seu partido com o BJP. A decisão de Kumar e o fato de Kovind ser dalit abriu uma crise entre os partidos da oposição, que decidiram nomear repentinamente Meira Kumar como candidata, uma "intocável" muito conhecida no país após ocupar vários cargos ministeriais, para uma batalha que, no entanto, sempre souberam estar perdida.