O premiê da Espanha, Mariano Rajoy, disse ter considerado “exemplar” a atuação dos policiais espanhóis durante o referendo de independência da Catalunha no último domingo (01/10). Em entrevista à Agência Efe, publicada na noite desta quinta-feira (05/10), Rajoy disse que houve uma "grande campanha" policial durante a votação. No total, ao menos 847 pessoas ficaram feridas por conta da violência dos policiais.
“A atuação da Polícia e da Guarda Civil em 1º de outubro foi uma atuação exemplar, houve uma grande campanha, mas atuaram com rigor e profissionalismo, foram acossados e provocados, e é muito difícil se manter em uma situação como essa quando havia milhares de pessoas em diferentes partes da Catalunha, e tenho que dizer e assim o disse a suas chefias e ao ministro do Interior, que estou orgulhoso das forças de segurança do Estado espanhol”, afirmou.
Rajoy ainda afirmou que o governo “não vai permitir” a independência da região. “Eu lhe digo que não vamos permitir a independência da Catalunha e que isso não vai acontecer. E que o governo sabe perfeitamente o que vai fazer em qualquer um dos cenários, como vai fazer e quando vai fazer, porque é a nossa obrigação”, disse.
O premiê também rejeitou o pedido do presidente catalão, Carles Puigdemont, de trazer mediadores internacionais para tentar solucionar a crise.
“Tenho que dizer que o que não sou partidário é de trocar figurinhas. E perdão por utilizar esta expressão. Isto de dizer ‘Vamos nomear um mediador e, agora, em troca de que eu tome uma decisão, o senhor toma outra...’, não. Porque a unidade da Espanha e o cumprimento da lei não podem ser negociados”, afirmou.
Questionado sobre se interviria na Catalunha, por meio de um artigo constitucional que permitiria este tipo de ação, Rajoy desconversou. “A melhor é a volta à legalidade e que quem tenha passado por cima dela fique onde estão todas as pessoas normais nas democracias avançadas e civilizadas. Que digam que não há declaração unilateral de independência e, insisto, que o façam com a maior celeridade possível”, respondeu.
Puigdemont
Na quarta (04/10), ao jornal alemão Bild, Puigdemont acusou Madri de agir como um Estado autoritário. “Veja o que aconteceu no domingo. Foi violência contra pessoas pacíficas que só queriam votar. O governo da Espanha prendeu oponentes políticos; influencia a mídia; bloqueia sites. E você consegue ouvir o helicóptero em cima do prédio do governo? Estamos sendo monitorados dia e noite. O que é isso, se não um Estado autoritário?”, questionou.
Ele afirmou, também, não ter medo de ser preso por organizar um referendo considerado ilegal pelas autoridades espanholas. "Pessoalmente, eu não tenho medo disso. E não estou mais surpreso com o que o governo espanhol está fazendo. Minha prisão também é possível, o que seria um passo bárbaro", acrescentou.
Independência
Os catalães argumentam que existe uma intenção por parte do governo espanhol de "asfixiar" a autonomia da região e recentralizar o território. Além disso, os indepedentistas alegam que, como a região representa 19% do PIB do país, contribui demais para a economia e acaba financiando as demais comunidades do território.
A Catalunha nunca chegou a ser uma nação independente, mas tem um governo próprio conhecido como Generalitat. A região fazia parte do reino de Aragão, quando foi unificada ao reino de Castela em 1492, dando origem ao nascimento da Espanha. Além de ter aspectos culturais completamente diferentes, a Catalunha tem idioma próprio e não se reconhece como parte da nação espanhola.
O sentimento independentista ganhou força durante a segunda metade do século XX, após a região retomar autonomia com a queda da ditadura franquista. Somando 19% do PIB da Espanha e 12% da população do país, a Catalunha reacendeu o debate da independência em 2010, durante grave crise econômica que a Espanha passava.