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Mercosul deveria se solidarizar com a Grécia

Jul 14, 2015

Por Carta Maior

 

 

 

Chamado urgente aos movimentos populares: chegou a hora da solidariedade com a Grécia

Seria um gesto extraordinário se surgisse um compromisso concreto de apoio e solidariedade dos países da América Latina para com o povo grego.

As condições de vida cotidianas do povo grego vem enfrentando passaram a ser dramáticas, a medida em que vem se agudizando o esvaziamento e o isolamento financeiro. A Grécia não tem recursos mínimos para pagar os salários nem as aposentadorias e pensões, nem para fazer funcionar sua economia e sustentar as necessidades básicas da população. Não bastam as promessas tranquilizadoras, o sistema financeiro está colapsado devido ao corte de linhas de liquidez por parte do Banco Central Europeu (BCE), as quais vinham sendo oferecidas aos bancos gregos devido à permanente drenagem dos depósitos.

O Banco Central de Grécia tampouco tem reservas em euros ou em dólares para bancar as imprescindíveis importações de alimentos: a Grécia não é autossuficiente em matéria alimentária.

Em meio ao pânico financeiro e a crise, dificilmente se poderá retomar a calma, ainda mais quando, em Bruxelas e em Berlim, prevalecem as opiniões ortodoxas em favor de não ceder, pelo antecedente que poderia significar, caso estimulasse outros países devedores a tomar o mesmo caminho de democratizar o debate sobre a dívida.

Não vivemos um momento para análises improvisadas com frases de ocasião. Qualquer que seja a resolução, o que ocorrer na Grécia terá enormes efeitos em nossa região. Nossos povos latino-americanos já viveram situações similares: basta recordar a crise vivida pela Argentina no início do milênio. Até hoje, o governo argentino mantêm uma posição internacional definida contra os banqueiros e especuladores, mas também – e diferente da Grécia – é um país bem dotado em termos de produção de alimentos.

Seria um gesto extraordinário, de enorme e positiva repercussão tanto nacional como internacional, se da Cúpula Social do Mercosul, que se celebrará esta semana, em Brasília, surgisse um compromisso concreto de apoio e solidariedade da região para com o povo grego. E são os movimentos populares os que podem influir em nossos governos, para que protagonizem um gesto imediato e concreto, de enorme significado: o compromisso de oferecer linhas de crédito em moedas locais para que os gregos possam conseguir os alimentos e recursos energéticos que necessitam. Evidentemente, se o Banco do Sul já estivesse funcionando, tudo seria muito mais fácil.

Sabemos que os economistas e funcionários argentinos, uruguaios e brasileiros estiveram acompanhando de perto a situação grega, e trocando ideias com os profissionais de lá. Mas a solidariedade deveria nascer também das entidades, vinculadas aos pequenos e médios produtores agropecuários, que poderiam anunciar imediatamente sua vontade de enviar alimentos à Grécia.

O anúncio imediato poderia ser, num princípio, somente um gesto, mas teria enorme impacto, por dar um sinal de que o povo grego não está sozinho, e ao mesmo tempo se referir ao dilema que aflige toda a nossa região, e que divide os que desejam voltar ao caminho neoliberal e os que lutam para que suas nações sejam mais independentes e menos condicionadas pelo FMI e pelos especuladores financeiros.

Não sabemos o que acontecerá nas próximas horas, mas, com ou sem acordo, a situação cotidiana dos gregos se deteriorará enormemente nos próximos dias, sobretudo devido à negativa do Banco Central Europeu em manter a liquidez elementar (euros nos caixas eletrônicos e também para as importações essenciais, entre outros itens básicos) o que leva a economia grega a uma paralisia.

As informações difundidas pela imprensa dizem que já se está prevendo algumas operações de ajuda de emergência da Europa à Grécia, mais parecidas a ações de caridade paternalista e condescendente, já que se os mesmos países continuam se negando a renegociação da dívida, que é urgente. Portanto, um gesto real de apoio imediato por parte dos países do Mercosul, pelo contrário, seria um sinal claro, digno e concreto de solidariedade e apoio dos países do sul ao povo grego, muito diferente ao paternalismo condescendente e limitado de Merkel, Juncker, Schaeuble e seus amigos.

Ao finalizar sua turnê por nossa região, o papa Francisco repetiu o que o pensamento crítico latino-americano e vários dos presidentes do continente vêm dizendo desde o começo da década passada: o capitalismo é um sistema falido, que não se sustenta mais, que os pobres sempre pagam o preço dos seus ajustes, que seus efeitos sobre o planeta são destrutivos e condenam a Mãe Terra, que os monopólios são uma desgraça, que o capital e o dinheiro são “o esterco do diabo”, que devemos estar alertas diante das velhas e novas formas de colonialismo…

Em Santa Cruz de la Sierra, Francisco ordenou claramente aos movimentos populares: “Não se apequenem”. Esta é a hora da solidariedade.

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