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Hiroshima e Nagasaki nunca mais!

Ago 06, 2015

Por Leonam dos Santos Guimarães, no Opera Mundi        

O desenvolvimento da tecnologia nuclear foi iniciado durante a Segunda Guerra Mundial, focado, dadas as circunstâncias históricas, na produção de armas. A humanidade a conheceu de forma traumática, após os holocaustos de Hiroshima e Nagasaki. Na década seguinte, o então presidente dos EUA, general Eisenhower, criou um novo curso para a história com o Programa “Átomos para a Paz”, direcionando-a para os usos pacíficos, especialmente a geração de energia elétrica.

Passados 70 anos dos ataques de agosto de 1945, nove países são reconhecidos como possuidores de armas nucleares: EUA, Rússia, China, Grã-Bretanha, França, Índia, Paquistão, Israel, Coreia do Norte. A humanidade convive hoje com cerca de 20.000 armas nucleares em mísseis, aviões e submarinos desses países. O desarmamento nuclear permanece sem equacionamento. Pior ainda, recentemente vieram à tona os importantes programas de modernização de arsenais estabelecidos e em pleno vapor nesses Estados possuidores de armas nucleares.

Essas armas, cada vez mais precisas e letais, são raramente mencionadas no debate sobre a questão nuclear. A única arma nuclear da qual se ouve falar é aquela que não existe (pelo menos ainda): a iraniana.

 

Fotografia de arquivo mostra Hiroshima antes da bomba, em 13 de de abril de 1945 (acima), e depois, em 11 de agosto (abaixo) Foto: EFE

 

Hoje, a ameaça das armas nucleares encontra-se no final de uma longa fila de ansiedades sobre o nosso planeta e seu destino. Parecemos esquecer que o uso deliberado ou acidental de apenas 1 dessas 20.000 armas causaria uma devastação muitíssimo maior do que a de Hiroshima.

Por alguma estranha razão, a humanidade confia piamente no governo e na sociedade civil dos países que as possuem, mas frequentemente encontra variados motivos para desconfiar daqueles que não as possuem.

Nem mesmo o debate decorrente do acidente de Fukushima reviveu o interesse sobre o tema. Pelo contrário, países que abrigam mais de uma centena dessas milhares de armas, como a Alemanha, Bélgica e Itália, resolveram abandonar a geração elétrica nuclear. O Japão chegou mesmo a incluir na nova lei que reestruturou sua autoridade de segurança nuclear, lição aprendida do acidente, afirmações dúbias quanto ao uso da energia nuclear na defesa.

Todos os programas de armas nucleares dos países que as possuem precederam ou foram desenvolvidos independentemente da geração elétrica nuclear, que nunca foi causa ou caminho de acesso à bomba. Não existe possibilidade de que o renascente problema da proliferação nuclear possa ser resolvido pelo abandono das usinas nucleares.

A solução reside no fato de que, desde a década de 1960 (acesso da França ao “clube da destruição em massa”), não mais existiu Estado de Direito democrático proliferante. Brasil e Nova Zelândia, além de serem democracias, são os únicos países nos quais as armas nucleares também são proscritas pela própria Constituição — exemplo pouco seguido.

A única maneira de estar seguro de armas nucleares é livrar-se delas — não apenas da iraniana, que ainda não existe, mas de todas elas. É uma tarefa hercúlea. Esse é um assunto está fora do noticiário e das agendas dos governos nacionais, organizações internacionais e ONGs. Mas se é para ser alcançada, precisa-se, pelo menos, começar a falar sobre isso. Urgente.

* Leonam dos Santos Guimarães é doutor em Engenharia, Diretor de Planejamento, Gestão e Meio Ambiente da Eletrobrás Eletronuclear e membro do Grupo Permanente de Assessoria do Diretor-Geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).

 

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