O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira (26/06) que o mandatário argentino Alberto Fernández é o grande exemplo de combate à pandemia do novo coronavírus na América Latina. As declarações foram feitas em conversa virtual com Fernández, promovida e transmitida ao vivo pela Universidade de Buenos Aires (UBA).
"Os efeitos da pandemia poderiam ter sido menores se tivéssemos governantes com a coragem que tem Alberto Fernández. A única razão pela qual existe um governo é para cuidar do povo. É para não permitir que o povo seja a vítima e hoje você é o grande exemplo da nossa América Latina", disse.
Ao lado de outras personalidades que participaram da videoconferência como o Prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel, a jurista brasileira Carol Proner e o ministro da Educação da Argentina, Nicolás Trotta, Lula ainda comparou a situação da expansão da covid-19 no Brasil e na Argentina e disse sentir "muita dor" ao ver Jair Bolsonaro "fazer piada" com a quantidade de vítimas brasileiras.
"Quando vejo quantas vidas foram salvas na Argentina sinto muita dor ao ver meu país desgovernado, com um presidente que chega a fazer piada com a pandemia. Sinto muito pelo Brasil e cumprimento Fernández pela alta responsabilidade com que enfrenta a pandemia, por ter mobilizado o país e resistir com coragem de líder", afirmou.
O ex-presidente ainda criticou os governantes neoliberais e afirmou que o alastramento do novo coronavírus mostrou que o "estado mínimo é apenas um dogma" e que o "deus mercado é apenas um mito, porque ele é incapaz de oferecer respostas ao problemas de hoje".
"O que vai salvar a América Latina depois da pandemia é uma palavra chamada democracia. Ou voltamos a exercer a política em seu sentido mais elevado ou voltamos à barbárie, e eu mantenho a esperança quando vejo o povo argentino se opondo à volta do neoliberalismo", disse.
Fernández, por sua vez, comemorou a possibilidade de ver o ex-mandatário "falando livremente" e disse que existiriam "muitas possibilidades de diálogos" se Lula fosse presidente.
"Voltaremos a construir a pátria grande e recuperaremos a dignidade de quando você presidia o Brasil, de quando Néstor [Kirchner] presidia a Argentina. Estou convencido disso. É uma questão de tenacidade e não há ninguém mais tenaz do que você", disse.
O presidente argentino ainda falou sobre os desafios após a pandemia, afirmando que a expansão do coronavírus "destruir o sistema capitalismo tal qual o conhecíamos".
"Temos a oportunidade de construir um capitalismo que integra mais a sociedade e quem consome. Um capitalismo que dê acesso a todos, que não concentre a riqueza, mas sim que a distribua", afirmou.
Sobre a postura do governo argentino frente à pandemia, Fernández admitiu que as medidas tomadas por seu governo "foram muito melhores que as que foram tomadas por outros, mas cada um dos que argentino que perderam a vida nós já carregamos conosco, porque sabemos que uma vida não é uma estatística".
"Não estou arrependido de nada. O dinheiro que investimos para preservar as vidas se recupera amanhã. O que não me deixa tranquilo são as vidas que se perderam e essas não se recuperam", disse.