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“A votação na Argentina supera a de departamentos bolivianos como Beni e Pando e pode definir a eleição”, diz Ruiz Iriarte. Por isso acredita que existe uma campanha de “desmobilização do voto” orquestrada em La Paz. “Só na quarta-feira o órgão eleitoral informou sobre os locais de votação. Desapareceram escolas de votação em relação ao ano passado e outras foram desdobradas. As pessoas não sabem onde votarão, porque o aplicativo está desatualizado e ainda te manda para as escolas antigas. Além disso, em setembro, elevaram de 119 para mais de 50.000 os não aptos a votar no exterior. Cerca de 25.000 estão na Argentina. A mudança de locais e a falta de informação reduzirão a participação”, afirma.
A comunidade boliviana na Argentina não perdeu os laços com seu país. E a grande maioria é fiel ao ex-presidente Evo Morales. “Tem a ver com o perfil de quem emigrou, que é semelhante ao dos que votam no MAS na Bolívia”, resume o historiador Pablo Stefanoni. Félix Lamas mora em La Plata, capital da província de Buenos Aires. Como chefe de um local de votação pelo MAS, no domingo ele supervisionará o trabalho dos delegados do partido que cuidarão do resultado “como se marca o Maradona”.
“Na Argentina há cerca de 5% de adversários do MAS”, diz Lamas. Diego Rodas é um deles. Tem 28 anos e está em Buenos Aires desde 2010, onde se formou em Direito em uma universidade particular. Sua primeira votação foi em 2014, quando optou pela oposição a Evo Morales. No domingo, colocará na urna a cédula de Carlos Mesa, que está em segundo lugar nas pesquisas. “A Argentina é um lugar superimportante”, diz, “mas me dá a impressão que os candidatos que não são do MAS não lhe deram importância porque sabem que [a eleição] está perdida”.
Durante uma palestra em seu exílio em Buenos Aires com lideranças sociais, à qual o EL PAÍS foi convidado, pediu a seus compatriotas que se mobilizassem. “Eu disse aos meus irmãos na Argentina em 2019: vocês decidem o futuro da Bolívia. Eles se abraçaram de alegria, cantaram. E o que fazemos agora, vamos pedir ao [ex-presidente Mauricio] Macri que nos empreste a Bombonera, ele não vai nos emprestar, vamos pedir ao papa Francisco o campo do San Lorenzo para fazer um comício. Mas a pandemia fechou tudo”, lamentou.
O Governo de Alberto Fernández autorizou a abertura de 114 escolas, fechadas desde março por conta da quarentena contra a covid-19, para o voto dos bolivianos. Também abriu temporariamente as fronteiras para a entrada e saída do pessoal eleitoral e dos observadores internacionais. Josefina Barriga é presidenta da Nueva Comunidad Boliviana, associação que reúne parte de seus compatriotas em Salta, província fronteiriça com a Bolívia. Ela nasceu em Potosí há 63 anos e está na Argentina há 33. Deixou parte da família em Yacuiba, Tarija, e ainda se lembra dos tempos em que cruzava a fronteira para votar. “Era uma forma de nos reencontrarmos e passarmos um momento lá. Muitos iam votar para estar com a família”, diz. Neste domingo ela também votará, mas em Salta, e escolherá o MAS. “As pessoas estão ansiosas para que a Bolívia mude, para que as pessoas não sofram, já estamos acostumados com a forma como progredia”, diz. Este ano não houve grandes comícios dos candidatos bolivianos, como no passado, mas o MAS está confiante na diferença que fará com o voto na Argentina.