Para o jornalista alemão Niklas Franzen, que atualmente escreve para veículos de Berlim, o gesto do assessor de Bolsonaro “não foi uma coincidência”. “Todo mundo viu que a intenção ficou clara, queria passar uma mensagem. Não foi a primeira vez que o Filipe Martins se pronunciou daquele jeito”, disse Franzen em entrevista à Fórum, citando outros episódios parecidos envolvendo Martins como quando ele, por exemplo, postou em seu Twitter um dos lemas do grupo neonazista alemão Combat 18 – C18 ou 318 –, suspeito de envolvimento no assassinato de diversos imigrantes, negros e um político.
“O que a gente vê é que a extrema-direita brasileira está usando certos conceitos que na verdade são racistas, fascistas e neonazistas. E como jornalista alemão, me choca que precisemos ter que discutir isso”, afirmou o jornalista.
Segundo o repórter, que tem relação próxima com o Brasil e escreve regularmente para veículos brasileiros, “quando a gente discute sobre a extrema-direita, a gente tem que levar em conta que é uma tendência global”. “Mesmo com o fato de que a Alemanha tem leis mais rígidas [para coibir manifestações da extrema-direita], nós temos um movimento muito forte de neonazismo e especialmente de terrorismo neonazista”, revelou, citando casos recentes de ataques promovidos por grupos racistas e neonazistas contra imigrantes na Alemanha.
O jornalista analisa que as táticas que vêm sendo usadas pela extrema-direita ao redor do mundo são parecidas e que se refletem em gestos como o feito por Filipe Martins, que é um representante institucional. Ele citou o exemplo do AFD (“Alternative für Deutschland” – em português, “Alternativa para a Alemanha”), partido de extrema-direita alemão que tem representação parlamentar e cujo vários membros têm ligações com organizações neonazistas.
“Nós temos aqui um partido no parlamento o AFD, são ‘amiguinhos’ do Bolsonaro, há várias conexões entre o governo Bolsonaro e esse partido, que também faz as mesmas coisas que o Filipe Martins. Talvez não daquela maneira, mas eles sempre experimentam com os limites, para onde podem ir com suas falas e discursos”, pontuou.
O jornalista alerta para o fato de que o gesto de “white power” feito pelo assessor de Bolsonaro não é muito conhecido na Alemanha, por ser usado mais por grupos estadunidenses, mas ponderou que, se um político alemão o fizesse e o símbolo fosse reconhecido, certamente ele seria processado.
“Esse avanço do fascismo, do nenonazismo e do racismo é uma tendência global que a gente deveria discutir de uma maneira também global”, acentuou.