Nicolás Maduro enumerou em rede nacional de televisão, na noite desta quarta-feira, as suas condições para iniciar um processo de diálogo político com a oposição, depois da proposta de retomar as negociações apresentada em 11 de maio pelo dirigente opositor Juan Guaidó. “Suspensão imediata de todas as sanções e medidas coercitivas unilaterais; reconhecimento pleno da Assembleia Nacional e dos poderes do país; e a devolução das contas bancárias da [empresa estatal] Petróleos da Venezuela e do Banco Central da Venezuela”, listou Maduro.
O presidente venezuelano mostrou aceitar a mediação da Noruega nestes encontros de trabalho com seus adversários políticos, ainda em preparação. “Querem negociar?”, perguntou Maduro. “Ponho estes três pontos. Daí em diante, estou disposto a ir aonde quiserem. Vamos nos medir em 21 de novembro, e que o povo decida”, acrescentou, em referência às eleições de governadores e prefeitos marcadas para essa data.
De maneira muito pouco usual, Maduro – como fez também certa vez Hugo Chávez – prometeu que, em caso de derrota nas eleições presidenciais de 2024, o chavismo entregaria o poder “e iria para a rua”.
As afirmações de Maduro não foram respondidas pela oposição, que tem agido com cautela para evitar que alguma troca de declarações desencadeie uma escalada de tensão e arruíne o ambiente prévio às reuniões de trabalho. Embora os dirigentes oposicionistas relutem em dizer algo, ninguém quis tomar estas afirmações como um obstáculo para o início das negociações.
Juan Guaidó, que tinha concedido entrevista coletiva pela manhã, declarou que as negociações entre dirigentes chavistas e opositores precisam começar “o quanto antes”. Guaidó afirmou também que pensou em alternativas para a hipótese de as conversações com o chavismo fracassassem. Logo após o pronunciamento de Maduro, Henrique Capriles comentou pelas redes sociais que “estes assuntos não devem ser comentados ao microfone” e que o interesse maior é o avanço do diálogo.
Na segunda-feira, a corrente opositora que segue Henrique Capriles, a primeira a iniciar uma aproximação com Maduro, publicou um comunicado declarando seu respaldo às conversações políticas entre Maduro e a oposição, representada por Juan Guaidó, titular do governo interino e apoiada pelos principais partidos democráticos. O pronunciamento expressava seu reconhecimento ao esforço feito “por nossos companheiros”. O gesto unitário, muito incomum atualmente, foi recebido com entusiasmo pelo ativismo opositor.
A mensagem de Capriles atende, em parte, a uma insistente demanda de alguns países mediadores para que os líderes da oposição se reconheçam mutuamente. A revisão das estratégias e a flexibilização das posturas de Juan Guaidó em relação às posições do passado parecem gerar uma pequena trégua num contexto onde abundam as recriminações e o “eu avisei”.
Os países da comunidade internacional que participam destas aproximações – muito especialmente os Estados Unidos, e a Espanha em nome da Europa – pretendem que a complexa rede de sanções impostas ao Estado chavista sirva para promover acordos. Estas sanções são passíveis de serem modificadas ou suprimidas na medida em que Maduro demonstrar que joga limpo e oferecer garantias para a realização de eleições justas.
No “Acordo para Salvar a Venezuela” apresentado há três semanas, Juan Guaidó propôs a Maduro a antecipação das eleições presidenciais e parlamentares para relegitimar os poderes públicos e restaurar a soberania popular, além de oferecer garantias políticas ao chavismo para o caso de que deixe o poder.
A cúpula bolivariana afirma que essa condição é impossível e propõe, em troca, a realização das eleições para prefeituras e governos estaduais, previstos constitucionalmente para este ano. As eleições presidenciais, ainda sem garantias para um acordo satisfatório, ficariam para 2024, concluindo o mandato de seis anos de Maduro. É por trás desses argumentos que os políticos se alinham para iniciar o diálogo.