Os 220 imigrantes resgatados pela Marinha brasileira no Mar Mediterrâneo, na sexta-feira, vinham da Líbia, estavam havia sete dias no mar e não se alimentavam nem bebiam água havia dois dias, contou à BBC Brasil Alexandre Amendoeira Nunes, comandante da corveta Barroso, que efetuou o resgate.
A embarcação, que deixou o Rio de Janeiro no dia 8 de agosto, se dirigia ao Líbano para substituir a fragata brasileira que atua em missão de paz da ONU.
Por volta das 18h50 (13h30 no horário de Brasília), foi acionada pela guarda costeira italiana para ajudar a buscar um navio com centenas de imigrantes que corria o risco de naufragar a cerca de 50 quilômetros dali.
Segundo o comandante, os imigrantes foram visualizados aproximadamente duas horas mais tarde.
“Era um barco de pequeno porte, de madeira, semelhante a esses regionais que existem na Amazônia. Estava superlotado”, afirmou.
Ao todo, o navio brasileiro resgatou 220 pessoas – 94 mulheres, 89 homens e 37 crianças, entre elas quatro de colo. O traslado entre as embarcações levou cerca de uma hora.
“Havia duas lanchas da guarda costeira nas proximidades. Como nosso navio era maior, levamos o maior número de pessoas”, relatou Nunes.
De acordo com o militar, as condições eram muito precárias.
“Eles (os imigrantes) se encontravam muito debilitados, estavam havia sete dias no mar. Estavam muito desidratados, com assaduras, queimaduras de sol. Uma senhora estava com o braço quebrado”, contou.
Após serem embarcados, os imigrantes receberam primeiros socorros. “Usamos pomadas e hidratação oral. Nos casos mais graves, foi preciso usar hidratação intravenosa.”
Segundo Nunes, a Marinha está preparada e acostumada com casos de salvamento, mas essa experiência com imigrantes foi algo inédito.
“Tenho uma filha de nove anos. E são crianças que estavam ali. Mas você não pode se deixar abalar para poder fazer o salvamento da melhor forma possível. A tripulação reagiu bem”, contou.
Os imigrantes, disse, demonstraram preocupação ao ver um navio estrangeiro se aproximar, mas ficaram mais tranquilos ao saber que era brasileiro.
“Eles depois conseguiram dormir, descansar durante a noite. Muitos estavam havia dois dias sem água nem comida.”
De acordo com o militar, o navio da Marinha possuía suprimentos para atender essa demanda inesperada.
“Temos sempre de sair preparados para esse tipo de ocorrência, para ficar 30 dias no mar”.
Riscos
O comandante falou com a BBC Brasil às 18h30 (13h30 no horário de Brasília) deste sábado, 30 minutos antes de a corveta reiniciar sua viagem ao Líbano – o navio deixou os imigrantes no porto de Catania, na Itália.
Ele disse que a tripulação considera a possibilidade de se deparar com situações semelhantes durante o trajeto e explicou os riscos de um resgate como esse.
“Nosso navio é grande. Ao se aproximar demais, pode fazer um movimento que pode quebrar (a embarcação menor) numa jogada do mar. Havia um petroleiro perto, mas que nada pode fazer por esse motivo”, disse.
O transporte dos imigrantes entre o barco de madeira e o navio brasileiro foi feito por meio das lanchas da guarda italiana.
Segundo Nunes, se elas não estivessem lá, o trabalho de resgate demoraria muito mais: a Marinha teria de lançar ao mar as duas pequenas embarcações que possui para esse tipo de ação – um bote e uma lancha –, o que tornaria possível o transporte de apenas cerca de vinte pessoas por vez.