O pesadelo de milhares de refugiados provenientes da Síria e de outros países em conflito em direção ao centro da Europa deu indícios de estar perto do fim neste sábado (05). Isso graças à decisão de Áustria e Alemanha de recebê-los e à calorosa recepção oferecida por parte da população destes países, que se prontificou a esperá-los nas estações austríacas e alemãs oferecendo aplausos e abraços, além de água e comida e doces para as crianças.
A Hungria, que se tornou um dos centros da crise humanitária e que respondeu à emergência com cercas, endurecimento de leis e declarações xenófobas e racistas de autoridades, acabou cedendo diante da pressão das 50 mil pessoas que passaram por seu território no último mês (3.300 apenas na última quinta-feira, segundo a ONU).
O governo do premiê Viktor Orbán, que na sexta-feira (04) disse que “húngaros têm o direito de escolher não viver junto com populosas comunidades muçulmanas”, abandonou temporariamente as tentativas de impedir a passagem de refugiados por suas fronteiras e disponibilizou neste sábado mais de 100 ônibus para o transporte de pessoas de Budapeste até a fronteira da Áustria.
Apesar de esta ser uma violação da convenção de Dublin, que estabelece que os refugiados devem ficar no primeiro país da União Europeia a que tenham acesso, e de a Hungria sustentar que fechará suas fronteiras na próxima semana, o transporte foi um alívio para os milhares de pessoas que aguardavam na estação Keleti, em Budapeste, para viajar em trens abarrotados ou que faziam o percurso de 137 quilômetros a pé em meio aos carros na autoestrada que passa pelos dois países.
Nas primeiras horas de sábado, os chanceleres austríaco, Werner Faymann, e alemã, Angela Merkel, anunciaram que estavam abrindo as portas de seus países para os refugiados. A Áustria declarou que eles podiam solicitar asilo ao país ou seguir livremente para a Alemanha, que por sua vez declarou que vai conceder asilo a todas as pessoas provenientes da Síria.
So much help on offer to refugees here on Austrian side of the border -marked contrast to Hungary pic.twitter.com/DbO6hONjh6
— Ben Brown (@BenBrownBBC) 5 setembro 2015
“Há tanta ajuda para os refugiados aqui do lado austríaco da fronteira – um claro contraste com a Hungria”, tuitou o correspondente da BBC Ben Brown. Segundo o jornal britânico The Guardian, a atmosfera na Áustria era de orgulho, tanto pela resposta do governo à situação quanto pela resposta da população, que se mobilizou levando água, comida e roupas para as estações de Viena e Salzburg.
Alguns austríacos foram de carro e ônibus particulares até a fronteira para levar os refugiados de carona até a capital. No sábado à tarde, oficiais da estação de Viena tiveram que pedir que as pessoas evitassem o local, pois o espaço não mais comportava a enorme quantidade de cidadãs e cidadãos que oferecia ajuda e doações. Centenas de funcionários da companhia ferroviária austríaca se voluntariaram para trabalhar de graça nos trens que levavam os refugiados. O diretor da empresa declarou que os bilhetes não seriam checados e que o objetivo era levá-los o mais rápido possível a seus destinos.
Na noite de sábado na estação central de Munique, na Alemanha, dezenas de alemães se postaram atrás do cordão policial para aplaudir e saudar os recém-chegados e distribuir doces e chocolates às crianças. As autoridades providenciaram comida e transporte para o abrigo temporário dos novos moradores do país.
“Só queremos que eles saibam que a tortura acabou”, disse Hedy Grupta, voluntária que distribuía sorrisos e chocolates aos refugiados, ao The Guardian. “Eu tenho filhos e uma neta de cinco anos de idade, e quando eu penso no que essas pessoas e essas crianças passaram, eu fico arrasada.”
Waltraud Volger também foi receber os refugiados na estação de Munique. “Ouvi o que estava acontecendo na rádio hoje de madrugada e só juntei as comidas e roupas que consegui e vim pra cá doá-las e oferecer ajuda”, disse ela. “Há tantos voluntários que nem chegaram a precisar de mim, então eu só estou aqui dando as boas vindas e aplaudindo-os quando eles passam. Nunca fiz nada parecido antes, mas quando você ouve as histórias e vê as fotos, não dá pra não fazer nada.”