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Ataque a tiros a jornalista gera comoção na Holanda

Jul 08, 2021

Por DW                                                                                                                                                       

 

"Lute, Peter": atentado a Peter R. de Vires abalou a Holanda, país onde crimes violentos são relativamente raros

"Seu trabalho não acabou, Peter R. de Vries. Continue lutando", diz Renate Tjon-Fo, de 61 anos, diante das fileiras de flores colocadas no local onde o jornalista investigativo holandês Peter R. de Vries foi baleado na noite desta terça-feira (07/07).

Equipes de televisão e jornalistas de todo o mundo vêm se reunindo em frente ao estúdio do RTL Boulevard, um popular programa de televisão diário holandês, do qual De Vries participou logo antes de ser alvo do ataque. No local onde o jornalista foi baleado diversas vezes, inclusive na cabeça, agora jazem flores, velas e mensagens escritas à mão.

Tjon-Fo ora a Deus pela recuperação de De Vries e diz: "[Ele] fez muito pela sociedade, especialmente por aqueles que não podiam pagar um advogado. Ele estava entre os indivíduos mais justos que existem, e agora as pessoas erradas e injustas o pegaram."

Vítima dos crimes que denunciou

Peter R. de Vries é um nome conhecido na Holanda. Durante anos, ele apareceu em noticiários de TV e programas de entrevistas para reportar casos criminais de grande visibilidade.

No momento do ataque a tiros, De Vries atuava como consultor no que ficou conhecido como o julgamento de Marengo.

O caso gira em torno de Ridouan Taghi e outros 16 corréus que os promotores públicos da Holanda acreditam fazer parte da chamada "Mocro-máfia". Como supostos membros da associação criminosa marroquino-holandesa, eles seriam responsáveis por uma série de assassinatos e tentativas de assassinato na Holanda entre 2015 e 2019.

O repórter policial De Vries atuava como porta-voz e assessor informal do ex-criminoso Nabil B., que está testemunhando contra Taghi, o suposto mentor do grupo baseado em Amsterdã, que é considerado um dos maiores distribuidores de cocaína da Holanda.

Duas pessoas próximas a Nabil B. já estão mortas, supostamente assassinadas por comparsas de Taghi. Em 2018, o irmão de Nabil B. foi assassinado em Amsterdã em plena luz do dia e, em 2019, seu advogado, Derk Wiersum, foi morto a tiros do lado de fora de sua casa.

O trabalho de De Vries expondo o submundo do crime resultou em repetidas ameaças de morte. O jornal holandês De Telegraaf, onde De Vries começou sua carreira, atribui a ele a investigação de mais de 500 assassinatos. Em 2019, o jornalista disse que estava na lista negra de Taghi.

Enquanto De Vries luta por sua vida em um hospital de Amsterdã, dois suspeitos permanecem sob custódia: um polonês de 35 anos que mora na Holanda e um homem de 21 anos de Roterdã. Ambos comparecerão ao tribunal na sexta-feira. Um terceiro homem preso na noite de terça-feira após o tiroteio foi solto. O motivo do crime não foi divulgado.

Holanda, um narcoestado?

O atentado contra De Vries é o último de uma série de incidentes violentos ocorridos na Holanda, normalmente tido como um país muito seguro.

Em 2012, Amsterdã foi palco de uma troca de tiros entre membros de gangues rivais com Kalashnikovs. Em 2016, uma cabeça decapitada foi encontrada do lado de fora de um café. No ano passado, a polícia holandesa descobriu sete contêineres perto da cidade portuária de Roterdã que haviam sido convertidos em celas e câmaras de tortura – um deles continha uma cadeira de dentista com algemas.

Como resultado de tal violência, um relatório do sindicato da polícia holandesa de 2018 comparou a Holanda a um "narcoestado". O relatório, que se baseia na experiência e perícia de detetives holandeses, afirmou: "Quando os interesses dos criminosos estão em perigo, eles não hesitam em ameaçar e/ou extorquir [secretamente] figuras influentes, como prefeitos, vereadores e jornalistas."

Uma profissão perigosa

O ministro holandês da Justiça e Segurança, Ferdinand Grapperhaus, disse que é preciso dar um basta na criminalidade das drogas no país. Em uma entrevista coletiva após o tiroteio, ele elogiou De Vries como um "homem corajoso e crítico". "Isso fere a nossa sociedade", acrescentou Grapperhaus, chamando o ataque ao jornalista de um ataque à liberdade de imprensa.

"Isso atinge o jornalismo diretamente no coração", disse Thomas Bruning, secretário-geral da Associação de Jornalistas da Holanda. A associação deve se reunir com Grapperhaus na quinta-feira para discutir outras ameaças a membros da mídia no país.

Jornalistas de toda a Holanda e ao redor do mundo estão recorrendo às redes sociais para demonstrar apoio a De Vries. "Os jornalistas na UE devem poder investigar o crime e a corrupção sem temer por sua segurança", escreveu Tom Gibson, do Comitê para a Proteção dos Jornalistas.

Jornalistas do tabloide De Telegraaf, onde De Vries trabalhou anteriormente, mostraram-se indignados com o ataque. "Isso é demais, tem que haver um basta", escreveu Mick van Wely, repórter policial do jornal, e acrescentou: "Continue lutando, Peter."

Cidadãos que depositam flores em homenagem a De Vries também ficaram perplexos com a audácia do ataque, ocorrido durante o dia em uma das ruas mais movimentadas da capital.

"É uma profissão perigosa", disse Patty Heijjer, de 62 anos, com lágrimas nos olhos.
"Isso não deveria ser possível aqui na Holanda."

"É terrível", diz Daniel Zeevaarder, um vendedor de Amsterdã que trouxe vasos de flores roxas e amarelas para o local onde De Vries foi baleado. Em um deles, é possível ler: "Peter, continue firme." E no outro: "Se ao menos houvesse mais gente como você."

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