Filas podem ser vistas também na frente de caixas automáticos Foto: Lilia Rzheutska/DW
É segunda-feira (28/02), quinto dia da invasão da Ucrânia por tropas da Rússia, e forças ucranianas parecem ter conseguido repelir os combatentes russos para a periferia de Kiev e procuram sabotadores dentro dos limites da capital.
Enquanto isso, os civis têm que fazer esforços cada vez maiores para sobreviver: pela primeira vez em décadas, a população de Kiev está passando por uma escassez de pão, alimentos básicos e medicamentos.
À espera da normalidade
Na manhã de segunda, havia muito mais pessoas e carros nas ruas de Kiev do que nos dias anteriores. Após um dia e meio de toque de recolher obrigatório, muitos tiveram que deixar suas casas ou abrigos antiaéreos para se reabastecer com alimentos, água potável e remédios.
A prefeitura da cidade tenta assegurar a entrega de alimentos nas lojas, mas a escassez é sentida em toda a capital. No centro de Kiev, as pessoas têm que fazer fila por mais de duas horas na frente dos supermercados.
Os consumidores que saem das lojas dizem que não há pão, legumes e frutas, mas sim produtos lácteos com um longo prazo de validade. Dentro delas, é possível confirmar que bolos, doces e cigarros estão nas prateleiras, assim como bebidas alcoólicas, que só podem ser vendidas durante o dia.
A maioria das pessoas compreende a situação de escasez, mas está muito preocupada com o futuro do abastecimento de alimentos na metrópole de três milhões de habitantes. O mercado agrícola mais próximo já havia sido fechado após o primeiro bombardeio na periferia de Kiev, em 24 de fevereiro.
Filas menores, com 20 a 30 pessoas, podem ser vistas em frente às farmácias. Uma aposentada está visivelmente assustada. "Por que as farmácias não são consideradas instalações de infraestrutura crítica?", pergunta. Ela é diabética, e outros membros da família sofrem de pressão alta. "Minha irmã tem problemas cardíacos, e meu genro é epiléptico. Especialmente agora, as farmácias deveriam ficar abertas 24 horas por dia", diz ela.
Toque de recolher prolongado
Até agora, a administração de Kiev tem conseguido manter o funcionamento estável de serviços municipais. Com exceção dos bairros onde houve combate nas ruas, os moradores têm eletricidade, aquecimento e água quente à disposição.
As redes de fibra ótica e a internet móvel de todas as operadoras ucranianas estão funcionando de forma estável. Um problema, porém, é que o lixo da cidade não pode ser recolhido. Já o transporte público funciona apenas de forma irregular.
"Os carros que circulam nestas faixas podem ser identificados como veículos de sabotagem e de reconhecimento [russos]", alertam as autoridades, lembrando às pessoas que a lei marcial está atualmente em vigor. Ao mesmo tempo, eles pedem para as pessoas permanecerem calmas e para não se colocarem em perigo.
A razão para o endurecimento das medidas é o perigo representado pelos esquadrões de sabotagem, mas também os casos de pilhagem – mesmo que sejam ainda muito raros. Nas redes sociais, as Forças Armadas alertam que os sabotadores se disfarçam de militares ucranianos ou usam roupas civis e, ainda, se deslocam em ambulâncias ou veículos civis com placas ucranianas. Uma lista de veículos capturados por sabotadores russos – quase 30, no total – foi publicada. Em caso de suspeita, as pessoas devem informar ao Exército e às autoridades.
Noites no subsolo
As estações de metrô estão entre os poucos lugares públicos onde as pessoas podem ficar durante o toque de recolher, sendo que quatro delas foram designadas como abrigos antiaéreos. Mas também em outras estações subterrâneas, as pessoas se deitam nas plataformas e, se não houver espaço suficiente, acomodam-se na área de entrada da estação.
Adultos e crianças, alguns até com animais de estimação, chegam à noite nas estações, antes de começar o toque de recolher, para passar a noite. Outras pessoas se dirigem para seus porões ou garagens subterrâneas de suas casas. Elas levam consigo as porções necessárias de alimento e água, embora também existam fontes com água potável e banheiros nas estações de metrô. Nas profundezas do subsolo, explosões e sirenes não podem ser ouvidas.
Pela manhã, as pessoas deixam as estações e correm para suas casas para reabastecer seus suprimentos, respirar e tentar descansar um pouco. Mesmo durante o dia, há sempre alarmes de ataque aéreo, mas muitas pessoas não prestam mais atenção a eles.
"As sirenes muitas vezes tocam, mas nem sempre uma comunicação é feita. Nem sempre posso correr de um lado para o outro", diz um homem de meia-idade. Ele está brincando com seus dois filhos em um quintal de Kiev quando as sirenes começam a tocar novamente.