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Para o presidente francês, Emmanuel Macron, o primeiro turno das eleições parlamentares na França, no domingo passado, foi um choque. Os candidatos de seu partido perderam apoio e acabaram empatados com seus adversários da aliança de esquerda. O segundo turno, neste domingo (19/06), será emocionante, pois não se sabe se Macron conseguirá obter uma maioria na Assembleia Nacional.
Nas eleições presidenciais de abril, parecia que a França teria que decidir entre o centro e a extrema direita. Marine Le Pen ficou em segundo lugar no primeiro turno e declarou guerra ao presidente. Após a reeleição de Macron, no entanto, esse quadro mudou. Os apoiadores da extrema direita do Reagrupamento Nacional estão em terceiro lugar. Eles estão menos ancorados regionalmente que outros partidos, mas já celebram seus resultados, pois terão significativamente mais deputados em Paris do que antes.
Mas a nova aliança de esquerda, forjada pelos socialistas, comunistas, verdes e o partido de protesto de esquerda A França Insubmissa, colocou pressão no governo. A campanha eleitoral, que durante semanas parecia um treino de boxe solitário da oposição, ganhou dinamismo inesperadamente. Jean-Luc Mélenchon, o líder da aliança de esquerda, batizada de Nova União Popular Ecológica e Social (Nupes), conseguiu inspirar e mobilizar os jovens eleitores com uma retórica flamejante.
Por que o partido de Macron foi mal?
Em abril, Macron foi reeleito com respeitáveis 58% dos votos. Por que seu partido agora só tem um quarto dos votos? "Não houve entusiasmo nesta eleição presidencial", diz Olivier Rozenzweig, cientista político da Sciences Po em Paris, à DW. "Macron foi eleito por falta de uma alternativa porque Marine Le Pen, da extrema direita, era a sua adversária." A preferência de muitas pessoas teria sido evitar uma presidente ultradireitista, em vez do que propriamente votar em Macron.
Além disso, seus apoiadores quase não fizeram campanha nas semanas que antecederam as eleições, o novo governo foi formado tarde, os candidatos foram nomeados tarde. A esquerda, normalmente fragmentada, no entanto, havia se unido com antecedência em torno de um candidato por distrito eleitoral, o que explica seu sucesso.
Veneno e bílis na reta final
Macron, em algumas aparições rápidas nesta semana, apelou mais uma vez aos eleitores que deem ao país uma "maioria sólida" e advertiu contra a "desordem" política dos planos da esquerda. Sua nova primeira-ministra, Elisabeth Borne, chamou Mélenchon de "grande mentiroso", e a ministra do Meio Ambiente, Amélie de Montchalin, vê na esquerda um "perigo" para a França e uma ameaça de subjugação à Rússia. O ministro das Finanças, Bruno Le Maire, declarou que a aliança de esquerda estava propondo um projeto econômico que levaria o país "diretamente à falência".
Mélenchon respondeu que Macron é "caos" e está transformando a França em um país no qual "não se pode mais viver". Ele defendeu o programa da esquerda e acusou seus oponentes de jogar com "a carta do medo". Alguns economistas, por exemplo do think tank Institut Montaigne, duvidam da viabilidade financeira dos planos de Mélenchon. Seus planos são muito caros, apenas a redução da idade mínima de aposentadoria para 60 anos está estimada em 85 bilhões de euros. Outros bilhões teriam que ser transferidos para o sistema de saúde, o aumento do salário mínimo e outros benefícios sociais. Em resumo, as promessas de Mélenchon aumentariam perigosamente a dívida pública na França.
O que poderia acontecer?
Se, ao contrário das expectativas, a aliança de esquerda conquistar uma maioria, Macron pode dizer adeus aos seus planos de reforma, especialmente à controversa reforma previdenciária. O presidente só teria poder para ditar a política externa e de defesa e teria que negociar com a aliança de esquerda. Mélenchon ameaça reivindicar para si o cargo de primeiro-ministro, ou pelo menos alguns cargos ministeriais importantes para a esquerda. Tal coabitação ocorreu pela última vez em 2002, entre o presidente conservador Jaques Chirac e seu primeiro-ministro socialista, Lionel Jospin, e geralmente leva a impasse político.
Se, por outro lado, o partido do presidente alcançar a maioria novamente, Macron pode prosseguir com seus planos políticos. Entretanto, o ambiente calmo na Assembleia Nacional chegaria ao fim. Um grande bloco de esquerda pode sempre ameaçá-lo com protestos de rua, e a extrema direita fortalecida o colocaria sob pressão em temas como imigração e crime. Não importa o resultado no domingo à noite, o segundo mandato será mais difícil para Macron do que o primeiro.