Francisco é um caso a ser estudado.
Ele é sempre fascinante e sempre original ao falar, como se viu hoje na ONU, onde ele foi aplaudido de pé por 170 líderes mundiais ao fim de seu discurso.
E no entanto ele fala sempre a mesma coisa, como um cantor que mesmo cantando sempre a mesma música conseguisse o milagre de não ser repetitivo.
Francisco só fala, essencialmente, de exclusão e desigualdade social.
Como ele não se torna enfadonho sempre tratando das mesmas coisas?
A principal razão é que ele captou o Zeitgeist, o espírito do tempo.
Esta época clama por quem se oponha à brutal divisão do mundo entre poucos riquíssimos e muitos miseráveis.
Francisco traz exatamente essa mensagem.
Seu antecessor, não. E por isso poucos se lembram sequer de seu nome.
Francisco, além disso, transmite sentimentos que fazem as pessoas crerem na humanidade: amor, solidariedade, tolerância, generosidade.
Pessoalmente, tem uma frugalidade majestosa que se opõe à cultura da ganância que marca estes tempos.
Francisco viajou de classe econômica ao conclave em que foi sagrado papa.
Ele é uma referência vital para o Brasil atual, assolado por uma onda de ódio feroz propagada por extremistas de direita insuflados pela mídiaa. Não surpreende que ele seja abominado pelos barões da imprensa.
Francisco mostra, também, o poder do indivíduo. Sozinho, ele promoveu uma revolução na Igreja Católica.
É um exército em um homem só.
Alguém se lembra de seu antecessor, Bento 16?
Contei outro dia que, em meus tempos de revista, costumávamos fazer um exercício. Se fôssemos uma pessoa, quem seríamos?
Então eu digo.
Gostaríamos de ter, no DCM, a cara de Francisco. Como ele, sonhamos com um mundo menos injusto, e lutamos por isso com nossas armas – muito menos potentes que as de Francisco, mas igualmente sinceras.
Se eu cresse, pediria a Deus que cuidasse de Francisco, e o fizesse durar uma eternidade.