Depois de a China prosseguir com exercícios militares inicialmente programados para durar até domingo, Taiwan realizou uma série de manobras com munição real nesta terça-feira (09/08). Os treinamentos devem ter continuidade na quinta, com a movimentação de centenas de soldados e cerca de 40 howitzers (obuses de longo alcance).
Taipei deu início aos exercícios na região do Condado de Pingtung, no sul da ilha, pouco depois das 8h40 no horário local – 21h40 de segunda-feira no horário de Brasília – e finalizou a prática menos de uma hora depois, às 9h30, após lançar sinalizadores e utilizar sistemas de artilharia.
De acordo com o porta-voz do Oitavo Comando do Exército de Taiwan, Lou Woei-jye, os exercícios já estavam planejados e não foram uma resposta direta às manobras chinesas na região. As manobras desta terça simularam como Taiwan poderia se defender de um ataque
As tensões na região se acirraram com a visita da presidente da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan, na semana passada, apesar de alertas da China.
Taiwan é uma ilha autogovernada desde 1949, com um regime democrático e politicamente próxima de países do Ocidente, e uma importante produtora de chips eletrônicos. A China, no entanto,
considera a ilha parte de seu território e exige que países escolham entre manter relações diplomáticas ou com a China ou com Taiwan. Nesse contexto, a viagem de Pelosi irritou o regime chinês.
Em coletiva de imprensa, o Ministro das Relações Exteriores de Taiwan, Joseph Wu, disse que "a China usou os exercícios e sua cartilha militar para se preparar para a invasão de Taiwan".
"A verdadeira intenção da China é alterar o status quo no Estreito de Taiwan e em toda a região", acrescentou Wu.
O ministro disse que além de visar anexar Taiwan, a China quer estabelecer seu domínio sobre o Pacífico Ocidental. Isso incluiria o controle dos mares da China Oriental e Meridional através do Estreito de Taiwan e a imposição de um bloqueio para evitar que os EUA e seus aliados ajudassem Taiwan no caso de um ataque.
Estados Unidos, Austrália e Japão condenaram as manobras chinesas. Nesta segunda, nas suas primeiras declarações sobre Taiwan após a visita de Pelosi à ilha, o presidente americano, Joe Biden, se disse preocupado com as ações da China na região.
"Estou preocupado com o fato de estarem se movimentando tanto, mas não acho que vão fazer nada mais do que estão fazendo", afirmou Biden a repórteres.
Impasse no Estreito de Taiwan
Inicialmente, os exercícios militares da China estavam programados para ocorrer entre quinta-feira e domingo. Mas o Comando Oriental do Exército chinês anunciou que as simulações continuariam nestas segunda e terça-feira.
A China disse nesta terça que prosseguiria com manobras nas águas e no espaço aéreo ao redor de Taiwan, com foco em bloqueios e logística de reabastecimento. Na segunda-feira, o Exército chinês havia se concentrado em operações conjuntas antissubmarino e de ataques marítimos.
Citando uma fonte anônima, a agência de notícias Reuters informou nesta terça-feira que cerca de 20 embarcações das marinhas chinesa e taiwanesa se mantiveram próximas à chamada linha mediana, uma linha não oficial no Estreito de Taiwan que separa ambos os territórios.
A linha mediana foi sugerida inicialmente pelos Estados Unidos e, durante décadas, ambos os lados mantiveram um acordo tácito para não cruzá-la. A China, porém, ultrapassou a linha pela primeira vez em 1999 e, desde então, tem feito isso com cada vez mais frequência.
gb/lf (Reuters, AP, AFP, ots)