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Boom populacional na África pode impulsionar sua economia

Nov 28, 2022

Por DW                                                                                                                                                   

 

A população mundial atingiu em novembro 8 bilhões de pessoas, de acordo com estimativa da ONU. As nações africanas, e especialmente os países subsaarianos, são o principal motor do atual crescimento demográfico, enquanto a população de muitos países de renda alta está diminuindo ou estável.

Se essa tendência continuar nas próximas décadas, o relacionamento da África com o resto do mundo poderá mudar significativamente.

Na maioria dos países industrializados, incluindo Japão, Coreia do Sul e todos os países-membros da União Europeia (UE), a taxa de fecundidade não atinge hoje o nível de reposição, que é de cerca de 2,1 nascimentos por mulher em idade fértil. Isso significa que não estão nascendo bebês suficientes para substituir as mortes e, no futuro, a força de trabalho local não será numerosa o suficiente para ocupar os empregos daqueles que se aposentam.

A África, por outro lado, está indo na direção oposta. A região subsaariana tem a maior taxa média de fecundidade do mundo, com 4,6, com o Níger no topo da lista com 6,8 filhos por mulher, seguido da Somália com 6. Congo, Mali e Chade têm taxas de fecundidade cada um superiores a 5. 

De acordo com projeções da ONU, o número de africanos quase duplicará até 2050, quando eles representarão um quarto da população mundial.

"Quando comparado ao seu passado, o início do século 20 por exemplo, o crescimento populacional da África não está acelerando, na verdade está desacelerando, assim como o resto do mundo", disse Hippolyte Fofack, economista-chefe do Banco Africano de Exportação-Importação, à DW. "O que vemos é principalmente um rápido declínio da taxa de crescimento populacional das nações desenvolvidas, e as taxas de mortalidade infantil caindo na África". 

As sociedades africanas não só estão crescendo rapidamente, como também são muito mais jovens do que praticamente qualquer outra região do mundo. Enquanto a idade média na Europa é de 42,5 anos, na África esse número chega a 18 anos.

Capacidade para aumento populacional

Segundo Fofack, o continente tem terra e recursos suficientes para abrigar uma população muito maior. No momento, a densidade populacional está entre 45 a 47 pessoas por quilômetro quadrado na África, em oposição a 117 na Europa e cerca de 150 na Ásia. 

"A África precisa desta ampliação demográfica para seu desenvolvimento", disse Blessing Mberu, pesquisador sênior do Centro de Pesquisa em População e Saúde da África, sediado no Quênia. "Fábricas, rodovias, tecnologias e infraestruturas não vão emergir sozinhas! Alguém precisa construí-las, gerenciá-las e utilizá-las."

A África, um dos maiores continentes do mundo, tem muitas terras habitáveis para sua população em expansão. Segundo a ONU, o continente abriga cerca de 30% das reservas minerais do planeta, 12% das reservas de petróleo e 8% das reservas de gás natural. Cerca de 60% das terras agricultáveis do globo estão localizadas na África.

"O potencial para uma população maior está lá", disse Mberu. "Mas o desafio é proporcionar educação e empregos para eles."

"Neste momento, estamos vendo um desenvolvimento desigual nas nações africanas", continuou. "Em alguns lugares, os investimentos na educação, na saúde e na economia têm se concentrado em áreas urbanas. É por isso que há um fluxo migratório das áreas rurais para as cidades, criando enormes favelas, que estão se tornando uma característica permanente dessas cidades." 

Impacto da mudança demográfica na economia

Tanto Fofack como Mberu estão certos de que, a longo prazo, o crescimento demográfico da África impulsionará a economia do continente e aumentará a sua relevância política.

As sociedades dos países de alta renda devem envelhecer nas próximas três a quatro décadas. Até 2050, uma em cada quatro pessoas que vivem na Europa e na América do Norte terá 65 anos ou mais, mas mais da metade dos africanos terá menos de 25 anos.

"O envelhecimento da população é geralmente uma má notícia para a economia de um país. Isso significa que a produtividade cai e os gastos com a saúde aumentam", disse Fofack.

Além disso, os países onde a maioria das pessoas está em idade de trabalhar são lugares favoráveis para investimentos, afirmou. "Sabemos que as pessoas consomem mais em sua idade de trabalho, mas seu consumo e despesas diminuem quando se aposentam", disse.

Mundo precisa da juventude africana

Mesmo que os governos locais não forneçam empregos suficientes para todos, uma parcela da população do continente terá a opção de emigrar para outros lugares, para países com necessidade drástica de uma força de trabalho mais jovem, disse Fofack. "Este processo já começou há décadas, e alguns países [fora da África] evitaram um declínio demográfico graças aos migrantes", acrescentou.

A migração também dá aos trabalhadores uma chance de aprimorar suas habilidades nos países anfitriões e depois trazer de volta novas técnicas e know-how para seus países de origem. "Sem esquecer as remessas, o dinheiro que a diáspora envia para casa para ajudar suas famílias, que agora representa uma grande parte da renda de alguns países", ressaltou Mberu. 

"É bastante óbvio para mim que o desequilíbrio [entre as populações] também reduzirá a desigualdade de renda global", disse Fofack, referindo-se à Europa como um exemplo.

"As economias do sul da Europa, como Portugal e Espanha, se beneficiaram significativamente da liberdade de circulação de mão de obra da UE, já que os desempregados conseguiram encontrar empregos nos países do Norte e trazer recursos economizados de volta para casa", disse. 

A economia mundial já é dependente da África, principalmente por seus abundantes recursos, mas a participação do continente no comércio global permanece baixa, de apenas 3%.

Se as mudanças demográficas atuais continuarem a seguir os mesmos padrões, é provável que a dependência global da África aumente, dando ao continente um potencial de alavancagem para retificar o atual desequilíbrio mundial.

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