Funcionários de ferrovias e estudantes convocaram manifestação contra o governo, acusado de negligência que culminou em acidente com 57 mortos e dezenas de feridos. Governo e operadora ferroviária falam em erro humano
Manifestantes incendiaram latas de lixo e jogaram coquetéis molotov contra os agentes de segurança. A polícia lançou gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral e, em poucos minutos, dispersou cerca de 12 mil manifestantes na Praça Syntagma.
Na noite de terça-feira, um trem de passageiros com 342 pessoas e 10 tripulantes a bordo chocou-se com um trem de carga. De acordo com a operadora ferroviária Hellenic Train, ele partiu de Atenas com destino a Tessalônica, no norte. Já o trem de carga partiu de Tessalônica para Lárissa, na região central do país, e tinha dois operadores.
Em meio a uma paralisação que afeta trens e metrôs, o protesto foi convocado por estudantes, funcionários de ferrovias e da administração pública. Alguns seguravam cartazes com frases como "abaixo os governos assassinos". Diante do Parlamento, foram soltos centenas de balões pretos em memória às vítimas da colisão fatal de trens.
A Hellenic Train, que foi privatizada em 2017, suspendeu todos os serviços regulares na quinta-feira depois que os trabalhadores ferroviários disseram que entrariam em greve
Sindicato alertou sobre problemas
O chefe da estação de Lárissa, a cidade mais próxima do local do acidente, assumiu a responsabilidade pela tragédia. Descrito pelos meios de comunicação como inexperiente e no cargo há pouco tempo, o homem de 59 anos seria ouvido neste domingo pela Justiça grega. Segundo a agência de notícias alemã DPA, ele tem 10 anos a mais do que a idade limite permitida para o cargo e estava sem supervisão.
Apesar de ele ter assumido a culpa, os sindicatos alertam que o estado de degradação da ferroviária, problemas no sistema de sinalização e a segurança nas linhas férreas eram problemas existentes que haviam sido reportados às autoridades, assim como a falta de funcionários.
"A dor se transformou em raiva pelas dezenas de colegas e concidadãos mortos e feridos", disse o sindicato dos trabalhadores em um comunicado. "O desrespeito demonstrado ao longo dos anos pelos governos às ferrovias gregas levou ao trágico resultado".
Na sexta-feira, manifestantes protestaram em frente à sede da companhia ferroviária Hellenic Train, em Atenas, e escreveram "assassinos" com letras vermelhas na fachada do prédio.
Primeiro-ministro pede desculpas
Mais cedo, o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, havia pedido desculpas às famílias das vítimas.
"Como primeiro-ministro, devo pedir a todos, mas especialmente aos familiares das vítimas, perdão", declarou, numa mensagem publicada no Facebook. "Na Grécia de 2023, não é possível que dois trens circulem em direções opostas na mesma linha e não sejam notados por alguém", referiu. "Não podemos, não queremos e não devemos nos esconder atrás do erro humano", disse o primeiro-ministro conservador, referindo-se ao chefe da estação de Lárissa.
Mitsokanis também compareceu neste domingo a uma celebração religiosa na catedral ortodoxa de Atenas.
Ainda neste domingo, em Tessalônica, a segunda maior cidade do país e onde viviam muitas das vítimas do acidente, foram lançados novamente coquetéis molotov contra um pelotão das forças antimotim, divulgou a agência de notícias grega ANA. Nos últimos dias, Atenas e Tessalônica têm sido palco de protestos violentos.
Além da paralisação dos trens e dos protestos, o acidente também ocasionou a renúncia do ministro dos Transportes grego, Kostas Karamanlis, e de vários altos funcionários da Hellenic Railways, a companhia ferroviária nacional grega.
Karamanlis disse em comunicado que deixar o cargo era "o mínimo que poderia fazer para honrar a memória das vítimas", acrescentando que estava assumindo a responsabilidade pelos "fracassos de longa data" do Estado.
Como ocorreu o acidente
A colisão ocorreu pouco antes da meia-noite (horário local) de terça-feira perto de Tempe, a poucos quilômetros de Lárissa, quando o trem de passageiros saiu de um túnel. Vários vagões descarrilaram, e quatro deles pegaram fogo. Os dois trens estavam no mesmo trilho no momento.
"Eles estavam viajando em grande velocidade e um [condutor] não sabia que o outro estava chegando", disse o governador regional da Tessália, Konstantinos Agorastos.
Embora túneis e pontes modernas tenham sido construídos ao longo da rota, o sindicato dos maquinistas gregos disse que havia problemas com a coordenação do tráfego.
"Viajamos de uma parte da linha para a outra por rádio, assim como nos velhos tempos. Os gerentes da estação nos dão luz verde", disse o presidente do sindicato, Kostas Genidounias, à rádio estatal.
le (Lusa, DPA, Reuters, AFP, AP