Com uma das economias que mais crescem na América Latina, a Colômbia está em uma espécie de disputa com a Argentina pelo posto de terceiro maior PIB latino-americano (atrás do Brasil e do México).
"(Conquistar essa posição) é como chegar ao pódio olímpico. Ninguém nunca se lembra de quem chegou em quarto", disse, certa vez, o ministro da Fazenda colombiano, Maurício Cárdenas.
É em parte em função desse dinamismo econômico que especialistas e representantes empresariais consultados pela BBC Brasil consideram oportuna a visita que a presidente Dilma Rousseff faz nesta quinta e sexta-feira a Bogotá, com uma agenda oficial focada em comércio e negócios.
"A Colômbia ganhou grau de investimento muito antes do Brasil, tem uma política econômica estável e deve conseguir melhorar o ambiente para negócios no país após o cessar-fogo com as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), então faz sentido que se procure uma maior aproximação", diz o professor da Unesp Luis Fernando Ayerbe, especialista em América Latina.
Investimentos
As expectativas para o crescimento das economias brasileira e colombiana neste ano são invertidas: enquanto analistas esperam que o PIB da Colômbia cresça de 2% a 3%, no Brasil a projeção é de queda da mesma magnitude.
"A Colômbia é um mercado importante regionalmente. Para o Brasil, poderia até servir de alternativa à Argentina no futuro, tendo em vista a trajetória errática do principal parceiro brasileiro na região", opina Ayerbe.
Dilma deve chegar à Colômbia na noite desta quinta-feira. Na sexta, encontrará o presidente colombiano, Juan Manuel Santos, e visitará o Congresso e a Corte Suprema. À tarde, encerrará um fórum de negócios com representantes de empresas dos dois países.
"O eixo principal da visita é o empenho dos dois governos em dar mais realce à relação econômica e comercial", explicou, em encontro com a imprensa, o subsecretário-geral do Itamaraty para a América do Sul, Paulo Estivallet de Mesquita.
Mesquita diz que, desde 2005, o comércio bilateral passou de US$1,5 bilhão para pouco mais de US$ 4 bilhões.
"E 90% da nossa pauta de exportações para os colombianos consiste em produtos industrializados."
Os investimentos brasileiros na Colômbia e colombianos no Brasil seriam ambos da ordem de US$ 2 bilhões, segundo o diretor de Desenvolvimento Industrial da Confederação Nacional da Indústria, Carlos Abijaodi.
"Trata-se do quarto destino dos investimentos brasileiros, depois dos EUA, Argentina e México", diz Abijaodi.
Entre os ganhos que o governo brasileiro espera obter com o encontro estão uma aceleração do cronograma de desgravação tarifária para um acordo de complementação econômica que já existe entre os dois países.
Hoje, cerca de 80% do comércio bilateral está coberto pelo acordo, que estipula um cronograma para que se chegue à tarifa zero.
"Ele está previsto para incluir todos os produtos até 2018. Idealmente a gente anteciparia isso, talvez até para 2016", disse Mesquita.
E, segundo o diplomata, os colombianos estariam interessados em aproveitar a experiência brasileira de apoio à agricultura familiar em projetos e ações que podem vir a ser implementados após a esperada assinatura do acordo de paz com as Farc, prevista para os próximos meses.
Ceticismo
Mas há quem seja mais cético sobre as possibilidades de parceria econômica.
José Augusto de Castro, Presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), nota que o tamanho do mercado colombiano pode torná-lo menos atraente para o Brasil.
"Esse é um mercado que de fato tem de ser ocupado. Porque se não estivermos ali os colombianos vão achar outros parceiros. Mas, por outro lado, não podemos perder de vista que se trata de um mercado relativamente pequeno."
Segundo a AEB, a Colômbia hoje representa apenas 1,6% das exportações brasileiras e menos de 1% das importações.
Em uma lista dos maiores importadores de produtos brasileiros o país está apenas na 24ª posição. Além disso, as exportações para o país caíram neste ano. Até agosto somaram US$ 1,41 bilhões, contra US$ 1,54 do mesmo período do ano passado.
Abijaodi, da CNI, lembra que a visita à Colômbia ocorre dias depois de os Estados Unidos e outros 11 países que representam 40% do PIB global assinarem o maior acordo comercial regional da história – a Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês).
A expectativa de especialistas e associações empresariais é que tal acordo provoque um desvio de comércio, com a perda de mercados para produtos brasileiros.
"O relativo isolamento atual do Brasil o coloca fora das modificações que estão tomando corpo no comércio e na economia global", diz o diretor da CNI.
"Precisamos agir rápido e em diversas frentes – a exemplo do que a própria Colômbia faz - costurando acordos comerciais com os mais diversos países. Devemos reforçar a parceria com países latino-americanos, sim, mas também precisamos de uma aproximação com os EUA, Europa e países asiáticos", opina.
Castro avalia que o Mercosul, por tratar-se de uma união aduaneira, é um dos principais empecilhos a uma estratégia mais ambiciosa de negociação de acordos comerciais pelo Brasil.
Pelas regras do bloco, os seus países precisam negociar em grupo. O próprio acordo com a Colômbia, por exemplo (conhecido como Acordo de Complementação Econômica, ou ACE 59), na realidade foi firmado no marco da Aladi (Associação Latino-Americana de Integração) entre membros do Mercosul, Venezuela Colômbia e Equador.
"Talvez uma alternativa para dar mais flexibilidade ao Brasil seria transformar o Mercosul em uma área de livre comércio", opina Castro.