Na Alemanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta segunda-feira (4) de intensa agenda bilateral, que também envolveu 

A lista de acordos englobam diferentes áreas, contudo, há um foco central na transição ecológica com justiça social - Foto: Ricardo Stuckert

Na Alemanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou nesta segunda-feira (4) de intensa agenda bilateral, que também envolveu outros ministérios 

Ao lado do chanceler alemão, Olaf Scholz, Lula anunciou a assinatura de 19 acordos entre as nações e também comentou assuntos da geopolítica contemporânea. Novamente, o petista fez uma forte defesa da paz, particularmente no Oriente Médio. Ele chorou ao pedir mais esforços contra guerras.

“Às vezes tenho a impressão de que estamos deixando de ser humanistas, de que estamos abrindo mão da fraternidade, abrindo mão da solidariedade, esquecendo que o ser humano nasceu para viver em paz”, disse o presidente. Lula, então, lembrou que no Brasil existem grandes comunidades árabes e judaicas que convivem em paz. Assim como no Brasil, ele acredita nessa possibilidade. Sua posição é conhecida há anos, Lula defende a existência de dois Estados, um de Israel e outro da Palestina, soberanos e independentes.

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Lula e reforma na ONU

Contudo, Israel prossegue com o massacre contra o povo palestino e deve, nos próximos períodos, tomar a totalidade do pequeno território árabe independente que resta na região, a Faixa de Gaza. Desde 1948, Israel avança com assentamentos e cria guetos palestinos onde, inclusive, controla e impede o acesso a água e mantimentos básicos, além de promover ataques sistemáticos ao longo dos anos. “Nenhum país tem o direito de invadir a integridade territorial do outro”, disse Lula ao criticar a política colonialista.

Então, Lula voltou a defender uma reforma na governança global. Isso porque Israel desrespeita frequentemente tratados internacionais, muitas vezes com respaldo dos Estados Unidos. Inclusive, os norte-americanos foram os únicos no Conselho de Segurança da ONU a negar por várias vezes propostas de paz na região, em favor de um suposto direito de Israel de matar árabes, maioria civis, mulheres e crianças. “Conselho de Segurança não pode ser privilégio de apenas cinco países”, criticou Lula sobre o poder de veto exercido pelos EUA em uma herança de força de tempos de Guerra Fria.

“A ONU deveria intervir para que encontrasse uma solução. O Brasil era presidente do Conselho de Segurança, o Brasil apresentou uma proposta para que houvesse uma trégua humanitária, para que poupasse tempo, para que retirasse as crianças”, disse Lula, lembrando que a decisão apresentada pelo Itamaraty contou com 12 votos a favor, duas abstenções (Reino Unido e Rússia) e um voto contra, sendo este último dos Estados Unidos — um país com poder de veto”, completou Lula.

Relações Brasil-Alemanha

Já sobre o objetivo central de sua viagem à Alemanha, Lula celebrou uma extensa agenda de colaboração entre as nações. Os partidos de Lula e Scholz ostentam boas relações há anos, desde quando Lula ainda era sindicalista no ABC nos anos 1980. O petista, inclusive, vê na Alemanha um importante aliado na construção de um tratado justo de comércio entre o Mercosul e a União Europeia. Contudo, estes acordos enfrentam grande impasses por barreiras da França, que Lula chama de “protecionismo”.

“Num contexto de fragmentação geopolítica, a aproximação entre as regiões é central para a construção de um mundo multipolar e o fortalecimento do multilateralismo. Contudo, sou um homem muito crente, que não desiste. Então, não vou desistir enquanto não conversar com todos os presidentes e ouvir um não de todos”, disse Lula sobre o tema.

Acordos bilaterais

A lista de acordos englobam diferentes áreas, contudo, há um foco central na transição ecológica com justiça social. Em pauta, questões ambientais e esforços por uma economia verde. “Lula e Scholz assinaram declaração conjunta de intenções para realização de projetos que visam, entre outras medidas, uma transformação ecológica socialmente justa, com projetos que gerem emprego e renda no Brasil e ampliem janelas de cooperação entre empresários dos dois países”, informa o Planalto.

Entre alguns objetivos conjuntos firmados neste sentido, a promoção de industrialização verde, agricultura de baixo carbono, a bioeconomia e a meta de desmatamento zero até 2030. Então, Scholz comemorou o retorno do protagonismo brasileiro na área ambiental. Isso após quatro anos de um governo que promoveu a devastação e o negacionismo com o extremista Jair Bolsonaro (PL). “Sob sua orientação, a proteção das florestas se tornou novamente prioridade”, disse o alemão.

Confira a lista completa de acordos entre Lula e Sholz

• Declaração Conjunta de Intenções sobre a Parceria para a Transformação Ecológica e Socialmente Justa (PR)
• Memorando de Entendimento sobre o Estabelecimento de Diálogo Estratégico de Alto Nível sobre Ambição e Ação Climática (MRE)
• Memorando de Entendimento entre o Brasil e a Alemanha sobre Parceria para o Desenvolvimento Global (MRE)
• Registro da Assinatura da Ata da Reunião de Negociações Intergovernamentais sobre Cooperação Técnica e Financeira (MRE)
• Declaração Conjunta de Intenções sobre Integridade da Informação e Combate à Desinformação (Secom/PR)
• Declaração Conjunta de Intenções para Cooperação sobre Transformação Ecológica (MF)
• Declaração Conjunta de Intenções sobre Ambição e Cooperação Ambientais (MMA)
• Declaração Conjunta de Intenções sobre o Programa Arpa Comunidades (MMA)
• Memorando de Entendimento sobre o Diálogo em Política Agrícola (Mapa)
• Carta Solicitando Adoção na Próxima Comista do Adendo ao Instrumento Constitutivo da Iniciativa de Trabalho sobre Agronegócio e Inovação (Mapa)
• Declaração Conjunta de Intenções para a Continuidade da Cooperação Científica no Observatório da Torre Alta da Amazônia (ATTO) (MCTI)
• Memorando de Entendimento sobre Cooperação Científica e Tecnológica no Campo da Bioeconomia (MCTI)
• Declaração Conjunta de Intenções no campo da Pesquisa e Desenvolvimento de Energias Renováveis (MCTI)
• Declaração Conjunta de Intenções para a Cooperação em Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI)
• Carta de Intenções entre o Inpe e a DLR (MCTI)
• Memorando de Entendimento sobre o Laboratório de Nível de Biossegurança 4 (MCTI)
• Memorando de Entendimento para Cooperação Internacional entre a Fiocruz e o Roberto Koch (MS)
• Memorando de Entendimento entre o Inmetro e o PTB (Mdic)
• Contratos de Financiamento do Programa Floresta Viva e do projeto de mobilidade entre o BNDES e o KfW (Mdic)