Greve geral contra o ajuste neoliberal de Milei em Buenos Aires. 24/01/2024.Créditos: Reuters/Folhapress
Convocada pela Central Geral dos Trabalhadores (CGT), a maior central sindical da Argentina, uma multidão de milhares de argentinos se concentrou nas ruas do centro do Buenos Aires, sobretudo em frente ao Congresso Nacional, nesta quarta-feira (24) para participarem da primeira greve geral contra o governo de Javier Milei, que tomou posse em dezembro passado. A data da greve já tinha sido marcada um mês atrás e foi escolhida porque é justamente hoje que estava prevista a votação da Ley Omnibus de Milei, que lhe dá poderes ditatoriais e prevê uma refundação conservadora do país.
Foi uma greve de 12 horas com diversos setores importantes parando. Alguns, como o transporte público, não pararam, justamente para apoiar os grevistas, e funcionaram até as 19h no horário local, momento em que a mobilização começou a se dispersar. Além disso, a partir das 15h foi feita uma grande marcha contra o Decreto Nacional de Urgência (DNU) e a Ley Omnibus.
Em todo o país, contanto outras cidades importantes como Rosario e Córdoba, a CGT estima que 1,5 milhão marcharam em toda a Argentina. Hector Daer, o secretário geral da CGT, confirma que a manifestação tinha como objetivo pressionar o Congresso contra a aprovação da Ley Omnibus e afirmou: "direitos são progressivos e não voltam atrás".
Imagens de momentos de tensão entre manifestantes e policiais pipocaram nas redes sociais ao longo do dia, mas sem grande e cinematográficos confrontos como em outras ocasiões e como prometido por Patricia Bullrich, a ministra da Segurança que prometia processar manifestantes através da lei antipiquetes, em vigor via DNU, que criminaliza o fechamento de vias por manifestações de cunho político.
Para o jornalista brasileiro Paulo Pereira, de 39 anos e que mora na Argentina há 10, foi uma greve vitoriosa. Ele esteve presente na mobilização e fez uma análise do momento com exclusividade para a Revista Fórum.
“Foi uma grande greve geral com apoio internacional. No Brasil vimos a Cut e a Conlutas apoiando, além de movimentos sociais e partidos de esquerda, assim como em outros países. O recado foi dado ao Milei de que o povo vai ocupar as ruas e lutar contra sua agenda de extrema direita. Além disso, teve um caráter simbólico importante, pois na Argentina a CGT não convocava um ato desde 2017 no Governo Macri e hoje foi um marco claríssimo da importância do movimento sindical no país. Sobretudo por se tratar de um dos setores mais atacados pelo DNU e a Ley Omnibus do Macri”, afirmou.
Na Argentina há 3 grandes centrais. A CGT, que convocou a manifestação, é a maior, seguida pela CTA Autónoma e a CTA dos Trabalhadores. Essas três principais centrais sindicais aglutinam outros importantes sindicatos como o dos caminhoneiros de Pablo Moyano, dos metalúrgicos do Abel Fulán. Ou seja, de importantes setores da economia argentina. Nosso entrevistado explica que geralmente as mobilizações são convocadas por partidos políticos ou movimentos sociais e que as centrais geralmente as acompanham, mas que dessa vez foi diferente.
“Alguns setores diziam que era tarde, que esperar um mês para realizar a marcha seria uma grande demora. Outros avaliavam, inclusive setores vinculados ao kirchnerismo, que seria melhor fazer a mobilização quando dessem 90 dias de governo ou mais, apostando que lá para março ou abril o governo Milei terá muito menos popularidade, sobretudo pelas complicações que o povo argentino deve passar por conta da sua política econômica. Mas a população, os militantes e os setores que não votaram no atual governo fizeram muita pressão para que as centrais sindicais tivessem alguma ação nesse período. E atendendo a essas demandas, sem esquecer que já ocorreram panelaços auto convocados na região central semanas atrás e que são quase diários, a CGT fez a convocação. Foi como uma panela de pressão pronta para explodir e as centrais sindicais entenderam que não dava para esperar esse mal-estar explodir daqui um par de meses”, explicou.
Pereira explica que as razões para o queda nas condições variam desde os aumentos nos alugueis que as maiorias têm de pagar em suas moradias, até tarifaços no transporte público e uma desregulação nos preços dos alimentos nos supermercados que apresentaram aumentos de até 200% em alguns produtos básicos. Ele também aponta o desemprego geral e as demissões no serviço público como outro ponto de tensão entre o povo argentino e o governo Milei. “Tudo isso está sendo um caos na vida das pessoas em apenas 45 dias”, resume o jornalista.
"O que aconteceu foi uma primeira vitória, mas ainda está longe de acabar a guerra. O povo argentino ainda tem um longo caminho até vencer esse governo de extrema direita", concluiu Pereira.