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A campanha do republicano Donald Trump tem patinado nas últimas semanas ao passo que o nome de Kamala Harris começa a ampliar vantagem nas intenções de voto para as eleições presidenciais nos EUA, segundo pesquisas mais recentes. Nos últimos dias, a campanha do ex-presidente tem mostrado indecisão sobre a participação de Trump em debates e batido cabeça quanto ao tom da campanha eleitoral.
Era claro que Trump e seus assessores temiam uma desistência da corrida eleitoral pelo atual presidente Joe Biden. No dia seguinte à publicação da carta de Biden comunicando a retirada da sua candidatura, o republicano acusou o partido Democrata de representar uma ameaça à democracia.
“Eles roubaram a corrida de Biden depois que ele a venceu nas primárias — fato inédito! Essas pessoas são a verdadeira AMEAÇA À DEMOCRACIA!”, publicou o bilionário em sua rede social, Truth Social.
A reação tinha dois objetivos. A primeira, reverter as acusações de autoritarismo normalmente voltadas a ele por seu papel na tentativa de desvalidar o resultado da eleição de 2020, que culminou na invasão ao Capitólio. A segunda, passar um recibo de que sua campanha não tinha um plano B definido e que apostava na intransigência e no ego do atual mandatário da Casa Branca em se manter na disputa.
Um mês depois, Trump e seus assessores seguem batendo cabeça sobre uma série de pontos da campanha, enquanto o desempenho democrata, ao menos neste início, segue energizado com a nova chapa: Kamala Harris, atual vice-presidente, e Tim Waltz, governador do Minnesota.
Uma nova pesquisa da Reuters/Ipsos divulgada nesta quinta (29) mostrou os democratas com quatro pontos à frente do republicano. A diferença está em 45% a 41%, número superior à diferença de um ponto percentual na última pesquisa do mesmo instituto no fim de julho.
Até aqui, o caminho que permitiu aos democratas pavimentar essa diferença é claro: enquanto Trump aposta no discurso de ódio contra minorias, Kamala tem procurado estabelecer uma diferença de classes entre os democratas, unidos em torno da classe média trabalhadora, e os republicanos, centrados na figura do bilionário e seus interesses fiscais e tributários.
A mudança repentina no cenário eleitoral nos Estados Unidos parece ter atordoado os republicanos, que não encontram mais entrosamento entre o candidato Trump, aparentemente enfurecido com a memória de que os eleitores lhe negaram um segundo mandato há quatro anos, e seu comitê de campanha, que busca conter os ataques pessoais do bilionário a Kamala e a outros democratas.
Na semana passada, em meio a programação da Convenção Nacional Democrata, os republicanos cuidadosamente planejaram eventos de campanha com o objetivo de contra-atacar a semana azul. Trump, no entanto, minou grande parte de sua mensagem com uma série de comentários improvisados, desabafos e erros que ameaçaram alimentar o tipo de ansiedade republicana que ele passou grande parte do último mês tentando acalmar.
Na segunda (19) , na Pensilvânia, ele teve dificuldade em esclarecer um comentário de que a Medalha Presidencial da Liberdade, que homenageia civis, era “muito melhor” do que a Medalha de Honra dada a membros militares.
Na terça (20) em Michigan, ele afirmou que a vice-presidente Kamala Harris havia vencido a indicação democrata após um “golpe presidencial violento e cruel” e chamou Chicago, que sediou a convenção democrata, de “uma zona de guerra pior do que o Afeganistão”.
Trump chamou a primeira vice-presidente negra do país de preguiçosa durante uma parada no Arizona na quinta (22) à tarde e, naquela noite, divagou durante uma ligação de dez minutos com a Fox News. Os apresentadores acabaram cortando a ligação e encerrando a entrevista, mas Trump continuou de onde parou ao ligar rapidamente para a Newsmax.
“Uma das maneiras de conquistar os eleitores indecisos não é por meio de ataques pessoais —por natureza, eles não amam a política partidária, mas também não estão entusiasmados com a atual direção do país e o desempenho da economia”, disse Kevin Madden, estrategista republicano de longa data que trabalhou em campanhas presidenciais em 2004, 2008 e 2012. “E todo dia que Trump não está falando sobre isso é um dia perdido”.
No embate desta semana, Donald Trump disse nesta segunda (26) que prefere que os microfones fiquem sempre ligados para ambos os candidatos durante o próximo debate presidencial, organizado pela ABC News, para o próximo dia 10 de setembro.
Entretanto, a campanha do republicano faz pressão para que sejam mantidas as mesmas regras do último debate, quando os microfones eram desligados quando não fosse a vez do candidato falar.
“Eu provavelmente preferiria mantê-los ligados, mas o acordo era usar as mesmas regras do último debate. Naquela ocasião, os microfones foram silenciados. Não gostei, mas funcionou bem”, disse Trump.
O receio dos assessores republicanos é que a retórica de Kamala possa fazer com que Trump perca o controle no meio do debate e passe a proferir a verborragia que a campanha procura evitar para convencer o eleitorado independente e indeciso.
Afinada com a nova realidade da corrida eleitoral e em boa fase, os democratas perceberam que o microfone ligado pode ser ruim para os adversários.
“Dissemos à ABC e a outras redes que buscam sediar um possível debate em outubro que acreditamos que os microfones de ambos os candidatos deveriam estar ao vivo durante toda a transmissão”, disse Brian Fallon, conselheiro sênior de comunicações da campanha democrata.
“Nosso entendimento é que os manipuladores de Trump preferem o microfone silenciado porque não acham que seu candidato possa atuar sozinho como presidente por 90 minutos. Suspeitamos que a equipe de Trump nem sequer contou ao seu chefe sobre esta disputa porque seria muito embaraçoso admitir que eles não acham que Trump possa lidar com a situação no debate diante da vice-presidente Harris sem o benefício de um botão de silêncio”, completou Fallon.