A ativista norte-americana Angela Davis prestigiou o festival do L'Humanité
Grande homenageada desta edição da Festa do l’Humanité, periódico do Partido Comunista Francês, a professora e ativista norte-americana Angela Davis atraiu centenas de pessoas em suas participações no evento. Militante comunista, ícone da luta por direitos civis nos Estados Unidos e membro do grupo Panteras Negras, Davis foi recebida com grande entusiasmo no espaço de debates Ágora do L’Humanité, e participou ainda do lançamento do livro “Mumia: La plume et le poing” (Mumia: a caneta e o punho), de Alain Mabanckou, prefaciado por ela.
O livro reúne desenhos, imagens e textos em homenagem ao ativista Mumia Abu-Jamal, de 70 anos, condenado à morte em 1982 por ter supostamente matado um policial que agrediu seu irmão, e hoje cumpre prisão perpétua nos Estados Unidos. Há duas décadas, ativistas de todo o mundo empreendem uma campanha pela libertação de Abu-Jamal, considerado um preso político, vítima do racismo institucional norte-americano. Em mensagem de áudio enviada da prisão aos participantes da Festa, Abu-Jamal declarou: “Agradeço, meus amigos, por iluminarem este mundo com a arte”.
Em 1973, foi Angela que compareceu ao festival dos comunistas franceses para agradecer às pessoas que contribuíram para a sua libertação. Sugerindo aos jovens a necessidade de não desanimar da luta, Angela disse: “os resultados de nossas lutas se medem em décadas, em séculos.”
A intelectual e ativista enfatiza a força mental do prisioneiro, que “mesmo quando ele estava no corredor da morte, nunca deixou de se envolver em várias lutas, incluindo o meio ambiente”. Mumia”, continua Angela Davis, “está determinado a permanecer vivo, ele está fazendo um monte de exercício para ficar em forma. Do lado judicial, estamos menos otimistas, apesar da aparência de provas ao seu aviso ao longo do tempo. Mostramos que as testemunhas foram corrompidas, o promotor na época – como sabemos hoje – manobrou para demitir os jurados negros no julgamento.
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Apesar de injustiças como a prisão de Mumia Abu-Jamal, Angela Davis considera que existem vitórias na luta contra o racismo e nas defesa dos direitos civis nos Estados Unidos e no mundo. “Nas últimas décadas conseguimos demonstrar o caráter institucional do racismo em nossa sociedade”, afirmou. “Quando vejo uma imagem minha na camiseta de uma jovem negra universitária, não sinto como uma conquista individual. Vejo uma consagração coletiva de um movimento que se vê representado em minha imagem”.
Para a autora de Mulheres, Raça e Classe (publicada em 1981), “o movimento feminista antirracista e anticapitalista” deve ser distinguido “do movimento feminista que visa apenas a igualdade de gênero, esse feminismo burguês que também pode ser chamado de movimento feminista do teto de vidro (…) As mulheres no Brasil têm uma fórmula, dizem que quando as mulheres negras avançam, todos avançam”.
Convidada a comentar suas impressões sobre a Festa do L’Humanité, Davis declarou: “Essa é a minha terceira vez na Festa do L’Humanité. E a cada vez que venho, saio um pouco mais revolucionária.”
Editado por Cezar Xavier