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Os líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) aprovaram, em 25 de junho, o aumento de gastos com defesa para 5% do Produto Interno Bruto (PIB), a fim de se preparar contra um possível ataque russo ou para combater ações de terrorismo.
Este acordo foi resultado de uma campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e colocou os países em uma saia justa. A Espanha, por exemplo, alegou que o acordo é desproporcional e ameaça o modelo social do país, além de forçar o aumento de impostos.
Para analisar a questão, o programa Observatório de Geopolítica da última segunda-feira (30) contou com a participação de Tadeu Valadares, embaixador aposentado, e Gilberto Lopes, jornalista, doutor em Estudos da Sociedade e da Cultura pela Universidad de Costa Rica (UCR).
Ambos os entrevistados apontaram que a Rússia não representa, atualmente, uma ameaça real para a Europa. Consequentemente, não haveria motivos para que os países se preparem para um conflito armado.
“A Rússia é quem tem caminhado para a fronteira da Otan para ameaçar os países da Otan, os restos dos países da Europa? Qualquer pessoa que tenha acompanhado os acontecimentos da história nos últimos 10, 15 anos, ou só os mais recentes, vê claramente que a Rússia não se mexeu, que Putin não levou as tropas dele para a fronteira da Polônia, nem a fronteira da Alemanha, nem da França, em lugar nenhum. Ele estava na casa dele”, aponta Gilberto Lopes.
O jornalista lembra que os russos apenas reagiram à proposta de que a Ucrânia também fizesse parte da Otan. “Então, essa ideia de que a Rússia é uma ameaça, etc., é uma ideia que acho que qualquer pessoa que queira se informar sobre a realidade deve pensar nela.”
Outro ponto relevante neste debate foi sobre o objetivo da Rússia em atacar a Europa, tendo em vista que não há evidências de que o país iniciaria um novo conflito.
“Então, as propostas de aumento de investimentos na indústria militar são de uma magnitude, de um tamanho que eu tenho a impressão, e os estudos estão mostrando, que os países europeus não têm condições de aguentar”, continua Lopes.
Irracional
Enquanto os europeus esperam um novo conflito contra a Rússia em cinco anos, ambos os debatedores do Observatório de Geopolítica concordam que a Rússia não tem condições financeiras de atacar os Estados Unidos e os demais membros da Otan.
“Não tem explicação racional”, comenta Tadeu Valadares. “Veja, a economia russa hoje, em termos de PIB nominal, calculado tradicionalmente, em 2024 era de 2 trilhões de dólares. A dos Estados Unidos, 29 trilhões. Se você pensa a OTAN, a economia do resto da OTAN é de 26 trilhões de dólares. Agora, não há condição, é pura imaginação interessada da parte da OTAN de criar um clima de medo”, emenda o embaixador.
Para destinar 5% do PIB aos gastos com exércitos, armamentos e infraestrutura, os países europeus terão de cortar recursos atualmente destinados às áreas sociais.
“A minha tese é a de que quem ganha é o complexo industrial militar. Quem ganha também as finanças que vão financiar o complexo industrial militar expandido? Quem perde? Quem perde é quem precisa mesmo de Estado como provedor de serviços para a população. Então, quem precisa de educação que não seja privada, quem precisa de Estado, educação, saúde, etc. Essa decisão vai enfraquecer o Estado de bem-estar social que, por si só, já está muito enfraquecido”, completa Valadares.