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Campanha de Sanders criará geração de socialistas

Mai 08, 2016

Por Ópera Mundi                                                               

 

 

Militante socialista de longa data, Dan La Botz, doutor em História e professor da City University of New York, vem realizando uma série de viagens ao exterior para debater o fenômeno da pré-candidatura de Bernie Sanders nos Estados Unidos. 

Ex-membro do Partido Socialista dos EUA, ele relaciona as surpreendentes pré-campanhas de Sanders e de Donald Trump, pré-candidato pelo Partido Republicano, com movimentos surgidos nos últimos anos que mexeram com o imaginário social norte-americano, como o Tea Party, de ultradireita, o Ocuppy Wall Street, questionando o sistema político e econômico, e o Black Lives Matter, pautando a temática racial.

La Botz falou com Opera Mundi durante sua passagem pelo Brasil, onde realiza palestras no Rio de Janeiro, Vitória e Fortaleza.

Opera Mundi: Desde sua visão, como é possível que uma campanha como a de Bernie Sanders, que se declara socialista, possa ter essa expressão nos Estados Unidos?
Dan La Botz: Obviamente é algo completamente novo para os Estados Unidos. Há mais de 70 anos que a palavra socialismo, assim como comunismo, é um tabu, não se pode usar. Então de onde vem esse movimento político ao redor de Sanders? 

Eu acho que vem diretamente da crise de 2008, que causou um aumento tremendo do desemprego nos Estados Unidos. As estatísticas oficiais falam em 10%, mas sabemos que provavelmente seja o dobro, e maior ainda para os negros e outros grupos. Além disso, também houve crise das hipotecas, gente que perdeu sua casa, inquilinos perderam seus apartamentos. Isso causou grandes problemas nos Estados Unidos e causou uma reação.

A grande reação foi Ocuppy Wall Street, que tinha dois pontos centrais. Um era a crescente desigualdade nos Estados Unidos e outro era o papel do dinheiro na política, já que os ricos, as grandes corporações, os bancos, têm o controle do processo político, pois financiam as campanhas, candidatos e partidos.

Assim Ocuppy Wall Street mudou o discurso nacional, antes dominando pelo Tea Party, um movimento de ultradireita. Ocuppy mudou a mentalidade nacional no sentido de que havia que enfrentar o problema da desigualdade e da atuação das corporações no sistema político. Então, acho que Bernie Sanders representa uma expressão política de Ocuppy Wall Street, e não só desse movimento, mas também da enorme mudança de consciência.

OM: Por outro lado, há uma emergência de Donald Trump, outro candidato outsider, vindo de fora do sistema tradicional, mas com um discurso oposto. Isso mostra que o sistema político está decadente?
DLB: Muitos norte-americanos sentem que o atual sistema político não serve para a maioria das pessoas, mas têm diferentes versões. 

Eu acho que a raiz do movimento de Trump tem relação com as mudanças demográficas do país. Quer dizer, os Estados Unidos são um país historicamente dominado por brancos, embora sempre houvesse negros e hispânicos dentro do território nacional. Mas agora mais de um terço da população é de “gente de cor”, como dizem: negros, hispânicos, asiáticos, indígenas remanescentes.

Imagine os trabalhadores qualificados nos Estados Unidos, que trabalhavam numa siderúrgica ou indústria automobilística. As sucessivas crises nas últimas décadas resultaram em fechamento de fábricas, perda dos trabalhos sindicalizados bem pagos. Imaginem também e homens e mulheres, principalmente homens, que têm ou tinham pequenos negócios, e que agora encontram dificuldades. 

Nos subúrbios brancos, esses dois grupos vivem juntos, compartilham a mesma visão. Há famílias em que o pai perdeu o trabalho e o filho não encontra trabalho. Vão buscar emprego e encontram competição de negros, hispânicos, mulheres e gays e lésbicas, grupos que também eram invisíveis.

Essa é a base demográfica e social para Trump, porque ele está chamando a seus ressentimentos quando fala em construir um muro entre Estados Unidos e México ou em excluir muçulmanos. Não o faz diretamente, mas implicitamente também se refere aos negros. Faz ataques misóginos às mulheres. Tudo isso é uma forma de chamar aos ressentimentos, a esta fúria, ao sentimento de frustração que há nessas camadas sociais.

Trump está sendo muito criticado nos meios pelos meios, pelos políticos, mas não lhe importa. Ele sabe que praticamente já ganhou a nomeação do Partido Republicano [Trump virou o provável candidato do partido após as desistências de John Kasich e Ted Cruz]. Mas isso também é uma crise para os republicanos, pois está deixando mais estreita sua base social e popular. Latinos estão se registrando em massa para votar contra Trump. A comunidade negra, as mulheres, também. Por isso, ele representa um desastre para o partido.

OM: O que a candidatura de Sanders representa para a esquerda dos Estados Unidos?
DLB: A esquerda norte-americana, se falamos de uma esquerda socialista, é muito pequena. São pequenos grupos e divididos, se organizam ao redor de um programa, de um jornal, mas não tem muita influência. Há exceções, há grupos que trabalham nos sindicatos e tem uma base. Eu sou de um desses grupos que tem uma base, tentamos organizar movimentos democráticos dentro dos sindicatos, movimentos militantes para lutar pelos trabalhadores.

Mas o papel da esquerda é muito débil, não tem muita influência. Acho que a campanha de Sanders vai criar toda uma nova geração de jovens com pensamento socialista. Mas o que sempre falta nos Estados Unidos é alguma maneira de organizar esse movimento social, para que não desapareça. No momento, o grupo que tem maior chance de organizá-los é o Democratic Socialist of America (DAS), de linha mais social democrata.

O que Sanders está fazendo é excelente, tem um programa progressista, está dizendo que temos que ter educação gratuita, da escola ao doutorado, que deve haver também aumento do salário mínimo, que necessitamos cobertura de saúde para todos. Também fala abertamente de socialismo, mas o socialismo dele não é o meu socialismo. Entendo que o socialismo tem a ver com a coletivização dos bancos e corporações que tem que estar em propriedade pública.

Mas eu não acho que um marxista, um socialista, uma pessoa da esquerda, deve levantar a bandeira e dizer “eu tenho o programa”. O que deve acontecer é uma conversa sobre o futuro desse movimento, sobre o que é esse socialismo.

Bernie Sanders diz que necessitamos uma revolução política. Nesse momento, uma revolução política tem a ver com a mudança da forma de governo que temos, que é muito conservadora e impossibilita a participação de muitos setores da sociedade.

OM: O fato da campanha dele ser competitiva mesmo sendo feita sem apoio das grandes corporações também é algo que era inimaginável...
DLB: Isso é algo impressionante. Ele disse desde o princípio que não queria criar um fundo político cheio de dinheiro dos bancos, companhias petroleiras e outros. Que queria o apoio do povo. E as pessoas estão ajudando numa média de 27 dólares cada uma. E ele teve milhões dessas doações, além de contribuições de sindicatos. Talvez tenha arrecadado um pouco menos que Hilary ou Trump, mas num nível próximo. E critica muito Hilary por dar preferência ao financiamento de grandes corporações.

OM: Ainda é possível que Sanders seja candidato democrata?
DLB: Matematicamente, eu acho que é possível. Mas ainda que Bernie ganhe a maioria dos delegados das prévias, Hilary tem os superdelegados, que não foram eleitos por ninguém, que são da maquinária política do Partido Democrata e que dariam a vitória a ela.

Há que pensar que isso põe Hilary Clinton numa posição muito negativa, de ser candidata à presidência graças a delegados não eleitos. 

OM: Há possibilidade de Sanders lançar candidatura própria independente?
DLB: Acho pouco provável. Se ele fizesse campanha como independente, fora do Partido Democrata, seria imediatamente acusado de ajudar Trump a chegar à presidência, porque tiraria votos de Hilary. Então o acusariam de ajudar o fascismo a chegar à Casa Branca.

OM: E o que aconteceria com seus seguidores?
DLB: Acho que os seguidores de Sanders vão votar em Hilary. Para eles, parece lógico. É um problema essa lógica do “menos mal”, mas acho que, nessa eleição, não vai ser possível mudar. Para mim, o mais importante é que tenhamos uma visão a longo prazo, porque essa gente jovem e os sindicalistas que apoiam Bernie vão ter outra consciência e temos que pensar que, nos próximos anos, vamos ter outras erupções, outros vulcões como Ocuppy Wall StreetBlack Lives Matter. Mas podem ser ainda maiores, porque já temos uma juventude consciente.

 

 

 

 

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