O dedurismo é próprio das ditaduras.
O argumento “legitimador” da delação, que seria o bem comum, é simples fachada.
A motivação, como se viu abundantemente na Lava Jato, é a vantagem de pagar menos, com reduções de pena, ou pagar nada, com a liberdade de fruir do produto de sua ladroagem, apenas levemente incomodados, por algum tempo, com uma tornozeleira high-tech.
Agora, os neo-udenistas de toga, juízes e procuradores, além dos deputados “pelo amor de meus filhinhos” querem “desburocratizar”.
É dinheiro vivo, mesmo, uma “comissão sobre o roubo”, paga em dinheiro, para o delator.
Imagine que maravilha: você, gestor ou dirigente de qualquer órgão público ou privado, vigiado por seus auxiliares à procura de um deslize – ou algo que possa parecer um deslize – que lhes renda “algum”.
E, se não tiver, porque não “armar”? Afinal, que se rebaixa a calhordice de viver espionando, porque não descerá ao degrau da fraude?
Afinal, se você é de esquerda ou não concorda com o estado policial, certamente é um ladrão.
Se for de direita, passa batido, como passou a mala do Delfim Netto com R$ 240 mil de Odebrecht, isso para falar em um “paco” só.
Mas se você denunciar conspirações de governo, como fizeram Julien Assange e Edward Snowden, bem aí é o exílio, a perseguição, a morte em vida.
Na ditadura militar, o Stanislau Ponte Preta, resumiu o caráter do dedo-duro na história de Pedrinho, que quebrou uma vidraça jogando bola mas pôs a culpa no garoto vizinho. E, levado pelo pai para tirar a limbo a história, foi logo avisando a ele:
– Papai, esse menino do vizinho é um subversivo desgraçado. Não pergunte nada a ele não. Quando ele vier atender a porta, o senhor vai logo tacando a mão nele.
No civilizado Brasil de hoje, em lugar de tacar a mão, chamaria o japonês contrabandista e levava para Curitiba.