Nos seus primórdios, o Partido dos Trabalhadores se portava como se detivesse o monopólio da ética e da lisura na condução da coisa pública. A visão dos petistas da época sobre a cena política do país situava o partido como uma espécie de ilha de virtudes cercada por um vasto oceano de vícios.
A conta viria depois. E seria salgada. Pudera, conceitos como ética e retidão de caráter não podem e não devem figurar como pontos programáticos ou estatutários de partidos políticos. E pelo simples motivo de que esses predicados são individuais, e não coletivos. Estão diretamente relacionados aos valores e ensinamentos absorvidos em casa ou na escola.
E partido é formado por seres humanos. Logo, no seu interior certamente conviverão gente do bem e de moral ilibada com oportunistas com desvio de caráter. Por isso, é um equívoco político posar de vestal, diante de adversários repletos de demônios. Ética é um valor pessoal e intransferível. Ou se tem ou não se tem.
A polêmica causada pelo artigo do deputado Jean Wyllys, no qual o parlamentar de forma gratuita e infantil provocou uma séria fratura na unidade da esquerda carioca em caso de segundo turno, me remeteu às tratativas fracassadas para a construção de uma chapa única de oposição no Rio. As negociações não foram à frente porque o PSOL, que repete a tolice histórica do PT de se julgar puro e imaculado, não queria se "contaminar" numa aliança com PT e o PCdoB.
Como bem definiu o presidente do PT no estado, Washington Quaquá, a exigência do PSOL para a aliança passava por um banho de purificação dos petistas nas águas do rio Jordão. O PSOL, no entanto, não contava com um sério acidente de percurso : o crescimento da candidatura da Jandira, especialmente na área popular, pode levá-la ao segundo turno, deixando Freixo de fora.
Isso desencadeou uma onda de ataques dos psolistas à Jandira na internet, como se fosse ela a adversária a ser batida, e não os tantos candidatos da direita golpista. De acordo com essa visão míope e sectária da política, Jandira é apenas uma ex-secretária do prefeito Eduardo Paes. Às favas sua trajetória de parlamentar combativa e corajosa, sempre ao lado das boas causas do povo brasileiro e da democracia. Dane-se também o fato dela ter sido a relatora da Lei Maria da Penha. Para os furiosos da "verdadeira esquerda", ela é cupincha do prefeito e ponto final.
Uma coisa é a necessária autocrítica que o PT precisa fazer sobre sua política de alianças, que incluiu um sem número de partidos e políticos que não hesitaram em apunhalá-lo na primeira esquina aderindo ao golpe de Estado. Outra bem diferente é a aversão atávica do PSOL a alianças políticas e eleitorais, quase sempre com base em questões de ordem moral.
Fico imaginando o drama de um governante desse partido em prefeituras de grandes cidades ou governos de estado importantes. Em três meses, de duas uma aconteceria : ou a negativa em fazer as alianças necessárias à governabilidade inviabilizariam seu governo, ou se renderia à vida como ela é e faria as composições ditadas pela realidade. Neste caso, seria chamado de traidor pela base partidária e o partido implodiria.