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O que se vê quando a poeira começa a baixar

Out 03, 2016

Por Fernando Brito, no Tijolaço                                                                           

 

Terminada a apuração, esfriada a decepção, é hora de pensar mais friamente no resultado das urnas, o que não é necessariamente o retrato da situação política.

Primeiro, porque as forças políticas se movem, hoje, pela judicialização e, pior, pela criminalização da política e não acho nada improvável que, sentindo-se “eleita”, a Lava Jato dê novos passos nos próximos dias. Afinal, o próprio Sérgio Moro não se cansa de destacar que o apoio da opinião pública (a opinião que se publica) é peça essencial de sua tosca construção jurídica, o impe´rio da “cognição sumária”.

Segundo, porque com o fim das eleições se inicia o processo de cassação dos direitos sociais do povo brasileiro, que será evidente, perverso e esclarecedor, para muita gente.

Finalmente, porque foi uma eleição municipal – ainda que debaixo deste clima de terror – e é temerário (com o perdão da palavra) tentar fazer leituras essencialmente nacionais, exceto – e olhe lá – nos maiores centros.

A derrota do PT – e da dita esquerda, em geral – foi extensa e intensa.

O prejuízo de sua divisão foi mais político que eleitoral:basta somar o resultado dos candidatos conservadores e o dos progressistas (ou nem tanto, mas de eleitorado popular) e veremos que a proporção, nestes centros andou por aí.

Dória mais Russomano, mais os cacarecos somam 70; Haddad, Erundina e o que restou a Marta em regiões populares, 30.

No Rio, nem aí chega a soma Freixo, o que sobrou a Jandira e os votos de Alessandro Molon, porque Crivella não tem a marca elitista que o boneco de Alckmin ostenta.

A unidade entre eles poderia ter feito diferença no processo? Sim, alguma. Mas seria quase impossível que se tornasse “plebiscito” uma eleição de natureza local.

A derrota eleitoral – repito, imensa – não apenas era quase inexorável como se concretizou.

A derrota política, porém, poderia nos ensinar algo que, parece, não estamos dispostos a aprender: que qualquer projeto popular e progressista no país se perderá se não se tiver a capacidade de fazer alianças.

E alianças se fazem a partir de uma base popular forte, com forças que não são iguais, e em geral, com vícios e posições com as quais não temos de concordar, desde que não nos entreguemos a eles ou elas.

Fazer alianças não significa, óbvio, fazer o que os aliados fazem. Muito menos achar que desenvolverão amizade ou fidelidade. Mas não pretendermos, em nome da pureza, nos fecharmos a eles e os mandarmos para o campo inimigo.

As bandeiras culturais e de liberdades individuais são importantes, mas não são suficientes.

A classe média oscila como aquela bolha de ar da ferramenta de nível usada pelos pedreiros: foge do lado que está baixo, corre para o que está mais alto.

A base popular, sim, esta é sólida e não pode ser lida no resultado das eleições municipais porque tem um nome, um símbolo e, em processos eleitorais nacionais, um candidato: Lula.

O conservadorismo, o liquidacionismo deste país como Nação tem isso claro e não vão parar com a simples aniquilação do PT (o que não se conseguiu, aliás), porque o que precisa destruir é Lula, a referência popular que vai muito além do petismo.

Reações de desânimo e “pare o mundo que eu quero descer” não funcionam, óbvio, porque o mundo da política não para.

 

 

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